Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Terapia Comunitária Integrativa: uma tecnologia de cuidado para a promoção da saúde mental em uma comunidade acadêmica
Josimeire Cantanhêde de Deus, Adriana Dias Silva, Jackeline Félix de Souza, Daniela Ferreira Borba Cavalcante, Wolembergue Lopes Gomes, Vanessa Mendes

Última alteração: 2018-06-05

Resumo


Apresentação: Trata-se de um relato de experiência a respeito da introdução da Terapia Comunitária Integrativa em um contexto universitário na região norte do Brasil, através de ações de extensão, e tendo como fundamento os preceitos da OMS quando conceitua saúde e promoção à saúde respectivamente como um completo bem-estar físico, mental e social e como um processo de capacitação das pessoas e comunidade para aumentar o controle e a melhoria da sua saúde e qualidade de vida. Tem por objetivo apresentar a relevância da Terapia Comunitária Integrativa (TCI) para a promoção da saúde mental de acadêmicos e sua atuação como um dispositivo terapêutico em uma universidade pública.

Sabe-se que a discussão no campo da saúde mental tem-se expandido para além do âmbito dos transtornos mentais graves, de forma que os determinantes podem ir além da genética e do consumo de drogas e álcool, ou seja, podem ser derivadas das atribuições do mercado de trabalho, da vida pessoal e das relações interpessoais. A partir disso, o projeto de extensão intitulado “Promoção de Saúde Mental” surgiu com o objetivo de oferecer ações de promoção à saúde mental aos acadêmicos por meio de grupos operativos terapêuticos e práticas integrativas e complementares.

Desenvolvimento: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, realizado durante a participação no “Projeto de Extensão em Promoção de Saúde Mental”, especificamente em rodas de TCI, que permitem a renovação da saúde psíquica dos acadêmicos e construção de resiliência coletiva. O projeto é interdisciplinar e compreende discentes dos cursos de Enfermagem e Psicologia. As rodas de TCI ocorrem uma vez por mês e dentre os participantes tem-se discentes assíduos de cursos como Economia, Letras, Psicologia e Enfermagem. As rodas são abertas e realizadas por uma terapeuta comunitária, voluntária do projeto; e ocorrem em um espaço de convivência, no pátio externo da universidade.

Resultados e impactos: O projeto teve inicio no mês de junho de 2017, e atualmente conta com a participação de dezessete pessoas, sendo doze estudantes, quatro professoras e duas colaboradoras (uma terapeuta comunitária e uma instrutora de ioga também focalizadora de danças circulares). À princípio, a TCI seria um evento pontual proporcionado pelo projeto, contudo, após o primeiro encontro percebeu-se a necessidade em continuar com tal iniciativa, logo, houve implementação da Roda de Terapia Comunitária Integrativa, como um dos recursos terapêuticos a todos os interessados na comunidade acadêmica, vindo a ocorrer toda penúltima sexta-feira do mês.

A TCI foi criada pelo psiquiatra, teólogo e antropólogo Adalberto de Paula Barreto no ano de 1987 em Fortaleza, cujos objetivos são a partilha, superação, empoderamento, acolhimento e resiliência (BARRETO et al, 2013). Fundamenta-se em cinco pilares teóricos responsáveis por estabelecer os devidos momentos da roda e caracteriza-la como um método terapêutico efetivo, são essas: Teoria da Comunicação Humana; Antropologia Cultural; Pensamento Sistêmico; Pedagogia de Paulo Freire e a Resiliência (JATAI, SILVA, 2012; BARRETO et al, 2013).

O método utilizado por Barreto em diferentes grupos evidencia a eficiência da TCI quanto aos diversos enfrentamentos humanos em que somos expostos, e a maneira como o individuo participante da roda é capaz de solucionar seus problemas a partir do compartilhamento de suas vivências.

Assim, os autores Carvalho et al (2013) demonstram como as rodas afetam positivamente a vida de seus participantes partindo-se da visão da TCI como práxis libertadora, pois, estimula o ouvir, refletir e agir, tornando as pessoas capazes de aprender com o outro e consigo mesmo, em busca de transformar sua realidade sem vitimizar-se perante as dificuldades, ou seja, a troca de experiências, o diálogo e a desalienação permitindo-se à mudança. Logo a TCI, demonstra-se como uma tecnologia do cuidado em saúde incontestável, por isso, sua implementação na universidade torna-se essencial no fortalecimento de vínculos, superação de adversidades e interação de grupo.

Dentre os eixos fundamentais da TCI, destaca-se a resiliência, capacidade que uma pessoa possui em superar determinadas situações por mais difícil que lhe pareça abstraindo lições de vida. Diante disso, os autores Braga et al (2013) retratam mulheres que participavam da TCI e fizeram da resiliência o alicerce para enfrentar a opressão, discriminação e exclusão as quais eram submetidas. Os relatos demonstram que há possibilidade de mudança, seja para atuar como representante pública, ultrapassar os próprios limites, fortalecer sua identidade ou construir redes de apoio. Assim, a TCI é um método terapêutico que permite a inclusão social, a construção e participação coletiva.

Dessa forma, observou-se durante as rodas de TCI que ocorreram na universidade entre o período de junho a dezembro de 2017, relatos de participantes que condizem ao dos autores Rocha et al (2013), que abordam os principais enfrentamentos, seja o estresse, os conflitos familiares e o ambiente de trabalho, como também as principais estratégias encontradas pelos envolvidos para a superação de seus problemas, vindo a ser: espiritualidade, perdão, diálogo e apoio familiar.

Percebeu-se também que houve ao final da roda, o aparecimento de palavras que representam este momento de partilha e conversa para cada um dos constituintes, assim como os autores Filha et al (2012) que trazem esses termos através de relatos de idosas e suas relações com o alcoolismo, pois, têm alcoólatras na família, e repetidamente relataram o modo como a TCI ajuda nos seus problemas, uma vez que dá-lhes coragem, esperança, fé, confiança e união.

Dessa forma, durante o período em que transcorreram as rodas de TCI, aplicou-se todo o conhecimento teórico adquirido através de pesquisas cientificas que confirmam os benefícios da terapia, pois, o intuito de sua implementação na universidade é de auxiliar no acolhimento e na valorização de pessoas no meio acadêmico. Empregou-se mecanismo de comunicação verbal pela terapeuta comunitária do projeto a fim de contribuir com as pessoas no que diz respeito a serem atores de sua própria história.

Considerações Finais: Diante do exposto, o projeto de extensão utiliza meios da educação em saúde e recursos terapêuticos para ofertar a comunidade acadêmica mecanismos de transformação pessoal e coletiva, em busca de ampliar as redes de apoio, fortalecer os vínculos e consolidar a autonomia e autoestima de docentes, discentes e técnicos. Espera-se que esse relato de experiência desperte o interesse em efetivar a TCI em vários contextos, como um instrumento viável para a promoção da saúde mental, mesmo em um espaço universitário que não difere do resto do mundo em relação a problemas como depressão, transtornos de ansiedade e casos de suicídio. A TCI pode apoiar no acolhimento da comunidade universitária e contribuir para o fortalecimento da sua resiliência coletiva.


Palavras-chave


Terapia Comunitária Integrativa; Promoção em Saúde; Saúde Mental