Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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FORMAÇÃO COMO EXPERIMENTAÇÃO: RELATO DE UMA AVENTURA PEDAGÓGICA
Lorrainy da Cruz Solano, Rosangela Diniz Cavalcante, Rodrigo Carlos da Rocha, Francisco Arnoldo Nunes de Miranda

Última alteração: 2018-01-16

Resumo


O ato de aventurar-se por cenários pedagógicos requer conhecimentos, saberes, fazeres ousados, como quem experimenta viver em sintonia com o que sonha, deseja e acredita.

Esse é um relato de uma aventura pedagógica que tem como horizonte a formação como experimentação (tomando emprestada a expressão de Abrahão e Merhy) em um cenário de Instituição de Ensino Superior Privada (IES) de pequeno porte inserida no semiárido do oeste potiguar chamada Faculdade Nova Esperança de Mossoró - FACENE/RN.

IES com 11 anos de existência, há dois anos vivencia a implantação de outros cursos de graduação. Iniciou suas atividades com o bacharelado em enfermagem e atualmente oferta odontologia, farmácia, biomedicina, nutrição e educação física. Frente às mudanças federais de financiamento estudantil do ensino superior, surge o desafio de organizar o processo ensino/aprendizagem com baixa captação de alunos por curso mantendo a qualidade e a perenização da instituição.

Do problema emerge a grande oportunidade de operacionalizar o processo pedagógico a partir de turmas interprofissionais com campos comuns de conhecimentos das profissões preservando os núcleos singulares dos seis cursos.

Estruturamos arranjos pedagógicos que permitissem o diálogo entres as profissões, nos encontros presenciais, no ambiente virtual de aprendizagem e/ou nas atividades extensionistas dos períodos iniciais. Arranjos, porque não seria possível um único modelo para organizar todo o processo e por isso experimentamos diferentes estruturas a partir de matrizes de planejamento, incluindo a mudança de projeto pedagógico dos cursos envolvidos.

Experimentamos diminuir as distâncias entre o que pensamos e o que dizemos, como também entre o que dizemos e o que fazemos. Assim, nosso desafio foi materializar aprendizagem significativa, metodologias problematizadoras, integração ensino-serviço-comunidade e o uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC), além de outros inúmeros desafios que surgem no cotidiano de nossas práticas.

Nosso cenário tem como vantagens turmas com até 45 alunos e um compromisso expresso da IES com o ensino de qualidade. Como fragilidades, um histórico de gestão reativa, recrutamento do corpo docente pautado nas indicações, ausência de educação permanente, pouca ou nenhuma aproximação com a aprendizagem em ambiente virtual de aprendizagem (AVA).

Desse modo, os arranjos foram sendo tecidos, e ainda estamos vendo pelo avesso, uma vez que a tessitura ainda não permite uma visualização clara da imagem objeto que desejamos. Mas, precisamos continuar no experienciar de processos formativos mais coerentes com o ensino de qualidade.

O primeiro movimento foi estruturar uma formação para o corpo docente que valorizasse a trajetória singular de cada professor. Considerando as dificuldades em reunir todos os 53 professores, orquestramos uma formação híbrida que alternasse entre uso do AVA e encontros presenciais. No segundo semestre letivo de 2016, começamos o curso de especialização em Processos Pedagógicos em Saúde com ênfase em Metodologias Ativas organizado em três grandes movimentos: aprofundamento teórico e conceitual; interlocução teoria e prática; e integração ensino-serviço-comunidade. O primeiro foi desenhado a partir de uma oficina com os professores que tinha como ideia força que cada um apontasse fragilidades e possibilidades da metodologia de ensino que executam na IES. Desse encontro, emergiram como temas geradores: trabalho em saúde, metodologias de ensino, planejamento e avaliação. Cada tema gerador foi trabalhado através do Ambiente Virtual em quatro pequenos grupos, distribuídos a partir das afinidades de cada professor nos cursos que ensina. Contamos com duas facilitadoras e uma co-facilitadora.

Cada tema gerador começa com o compartilhamento de cada participante do resultado de sua busca (pode ser artigo, conto, poema, vídeo, imagem etc.) justificando sua escolha, seguido de fórum para debate do pequeno grupo, confecção de síntese reflexiva e avaliação da participação individual (auto avaliação), do grupo e da facilitação. Todo o movimento durou um semestre.

O segundo movimento foi de provocações para que os participantes vivenciassem o que foi teorizado no movimento anterior. Assim, os temas geradores propuseram a construção de objetivos de aprendizagem, a experimentação de metodologias ativas e a reelaboração dos planejamentos das disciplinas.

O terceiro e último movimento foi o de integração ensino-serviço-comunidade que pretendia transpor os muros da IES em todas as disciplinas, inclusive aquelas apontadas como eminentemente teóricas. Foram dois grandes temas geradores, avaliação e a integração ensino-serviço-comunidade em si.

Essa parte da aventura resultou no estabelecimento de processos pedagógicos mais amparados em conhecimento fundamentado menos em “achismos”. Vale ressaltar que foram convidados para ofertas conceituais em cada movimento professores com reconhecida referência oriundos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Universidade Federal Rural do Semiárido e do Instituto de Ensino e Pesquisa do Sírio-Libanês, fruto de parcerias interinstitucionais.

Muito docentes com formação tradicional ainda demonstram muita resistência em repensar o processo formativo, mas de maneira geral percebemos mudanças nas posturas com desdobramentos na formação dos discentes.

Outras degustações surgiram nos arranjos, tais como: projeto integrador nos períodos, análise crítica e reflexiva das atividades ofertadas pelos docentes em ambiente virtual de aprendizagem, avaliações integradas e curtas metragens para ampliar visão de mundo.

Entendemos como projeto integrador uma atividade prática confeccionada, planejada, executada pelos alunos e avaliada pelo grupo de professores do período que seja interprofissional e interdisciplinar. Nos três primeiros períodos, são atividades extensionistas que ocorrem junto aos eixos: ensino básico, vulnerabilidade social e saúde ambiental, respectivamente. Já para os demais períodos, estamos testando provando o OSCE para avaliar competências e habilidades.

O projeto integrador do primeiro período foi executado em escola pública e privada; o do segundo, em uma comunidade quilombola e uma ONG de proteção às mulheres vítimas de violência.  O do terceiro iniciou-se com o estudo de indicadores municipais relacionados à saúde e também teve parte em uma cooperativa de reaproveitamento de material reciclável. O OSCE, nos períodos posteriores, rompe com a ideia de fragmentação das disciplinas, com até oito estações que integram todas as disciplinas do período.

Com relação ao AVA, fizemos encontros pedagógicos com os professores e reuniões paralelas com os representantes de turmas para avaliar os resultados dos encontros. De maneira geral, poucos professores demonstram interesse em oportunizar uma aprendizagem significativa com o uso das TICs. Ficam restritos a gerarem atividades simplistas geralmente de perguntas e respostas pré-definidas usando a internet como repositório de informações.

Provar a integração do período através de uma avaliação também foi uma aventura que poderia ter sido maior se de fato tivéssemos conseguido integrar os conhecimentos e saberes e não somente “juntar” questões para que o aluno as respondesse em um único turno. São aprendizagens que nos instigam a tentar outros arranjos. Como também o uso dos simulados com questões do ENADE, que até então era uma prática comum que não tinha um parâmetro para sinalizar avanços e/ou retrocessos. Agora estamos analisando a real necessidade dos simulados ou quem sabe tentar outras estratégias como rodas integradoras por período ou grupos focais com os alunos que se submeteram ao último exame.

Por fim, a inserção mensal de curtas metragens para ampliar o diálogo com temas que atravessam a formação. O projeto é chamado FACINE e acontecia semestralmente com baixa participação dos discentes. Agora é ofertado mensalmente com a participação de convidados atuantes em cada tema, por exemplo, com o tema LGBT o convidado foi um psicólogo transgênero militante. São momentos riquíssimos da formação, mas ainda pouco atrativos para os alunos.

São aventuras que têm um gosto especial de aprender/ensinar experimentando sabores e dissabores.


Palavras-chave


Educação; Processo pedagógico.