Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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APLICAÇÃO DO SISTEMA DE APOIO-EDUCAÇÃO AO INDÍGENA YANOMAMI COM PÊNFIGO
Aldina Iacy Paulain Holanda, Agda Tainah Moura Santos, Gisele Reis Dias

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


Apresentação: A etnia Yanomami, encontra-se nos municípios brasileiros Amazonas e Roraima, sendo encontrada também na Venezuela. Os Yanomamis fazem parte de uma sociedade de caçadores-agricultores, e suas tarefas são definidas de acordo com o sexo, o homem pratica a caça e a mulher fica responsável pelo roçado, cultivo de plantações e atividades domésticas. O termo pênfigo designa-se como um conjunto de doenças com comprometimento cutâneo e algumas vezes mucoso, de etiologia auto-imune, geralmente caracterizada pela presença de vesículas ou bolhas intraepiteliais acantolíticas. O pênfigo foliáceo endêmico (PFE) é uma das formas clínicas que incide predominantemente em adultos jovens e adolescentes que residem em áreas rurais e em algumas tribos indígenas, próximo a córregos e rios. A etiopatogenia do PFE ainda não está totalmente esclarecida, todavia alguns autores afirmam ser complexo e multifatorial. Faz-se necessário que o doente contribua para a sua melhora e possibilite a inserção do autocuidado através do sistema de apoio a educação implementado pela equipe de enfermagem.  As Teorias de Enfermagem evidenciam-se pelo processo humano-universo-saúde, sendo a natureza da Enfermagem utilizada em benefício da humanidade. Dentre as principais teorias de enfermagem destaca-se a Teoria do Déficit do Autocuidado de Enfermagem (TDAE) desenvolvida por Dorothea E. Orem, que parte do conceito de que autocuidado é a capacidade do indivíduo em realizar ações individuais objetivando a preservação da saúde, bem como a prevenção de doenças e tem como premissa básica que o ser humano usufrui da capacidade de prover o cuidado de si mesmo, além de poder beneficiar-se com os cuidados de enfermagem quando este denotar limitações à saúde ou dos cuidados de saúde. Para satisfazer o pressuposto de autocuidado do indivíduo, Orem descreveu três sistemas de enfermagem caracterizados como um plano de intervenção com o objetivo de incentivar a habilidade do autocuidado entre os pacientes, descritos como: Sistema Totalmente Compensatório (caracterizado pelas ações de cuidados do enfermeiro ao indivíduo que se apresenta incapaz de empenhar-se nas ações de autocuidado); Sistema Parcialmente Compensatório (representado pela somatória de cuidados executados tanto pelo enfermeiro quanto pelo cliente) e o Sistema de Enfermagem Apoio-Educação (expressa-se nas ações de encorajamento por parte do enfermeiro ao indivíduo que pode e deve aprender a desempenhar medidas de autocuidado terapêutico, sendo uma forma de apoio, orientação e ensinamento). o relato tem como objetivo descrever um plano de cuidados ao indígena com pênfigo, com base no sistema de apoio-educação de Orem. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um relato de experiência, elaborado no contexto da disciplina Saúde das Populações Amazônicas, ministrada no oitavo período do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Amazonas - UFAM, que tem como objetivo principal relatar a intervenção na realidade dos serviços de enfermagem prestada a um paciente jovem indígena, de etnia Yanomami, do sexo masculino, diagnosticado por exame clínico e laboratorial como pênfigo foliáceo, atendido na Casa do Índio (CASAI) no município de Manaus-AM. A base metodológica utilizada na atividade foi a Teoria de Sistema de Apoio-Educação de Orem, em que empregou-se práticas de educação em saúde, visando o encorajamento do cliente para que assuma os cuidados com a saúde, como a higiene e os cuidados com a pele. O sistema de intervenção realizado compreendeu dois dias de estágio, onde no primeiro foi realizado uma anamnese e exame físico, sendo realizada uma educação em saúde sobre como o mesmo deveria realizar a higiene e a hidratação da pele. Posteriormente, foi realizado a segunda prática de estágio, onde foi utilizado um instrumento para verificação de mudanças nas respostas do processo saúde-doença. Resultados e/ou impactos: Durante a anamnese o paciente demonstrou-se receptivo e comunicativo, porém foi notório que, por vezes, o mesmo tinha dificuldades em assimilar as perguntas que lhes eram direcionadas por não compreender muito bem a língua portuguesa; diante disso tentou-se associar perguntas com gestos na tentativa de facilitar o seu entendimento e consequentemente suas respostas.  O pai do paciente que estava acompanhando-o, também foi entrevistado sobre o surgimento dos sintomas, se alguém mais do convívio social também tinha manifestado a doença e possíveis plantas medicinais que possam ter sido utilizadas como tratamento, embora também não tivesse domínio da língua portuguesa. Como resposta ao que lhe fora perguntado, o pai relatou que os sinais e sintomas começaram a aparecer após o mesmo ter pegado chuva, e que juntamente com ele duas outras pessoas também manifestaram a doença; relatou ainda, com tom agressivo após as indagações, que não foi utilizado nenhuma planta medicinal para conter/amenizar o avanço dos sinais e sintomas. No momento em que foi solicitado sua autorização para realização do exame físico o paciente não concedeu, permitindo apenas a inspeção de couro cabeludo, mãos e membros inferiores, onde foi possível observar uma descamação de pele generalizada, alopecia, odor característico das lesões e edema nos pés, e queixou prurido. Como estratégia de intervenção utilizamos o sistema de apoio a educação, pois possibilita uma mudança do estilo de atenção à saúde que foge da ideia centrada no modelo biomédico e permite a implementação da compreensão da promoção à saúde. Nesse contexto foram realizadas orientações de higiene e manejo com a pele lesionada, sendo estas: lavar bem a pele e o couro cabeludo com água e sabão durante o banho, com o devido cuidado para não abrir mais lesões; aplicar óleo mineral (presente na prescrição em prontuário) após o banho com o corpo ainda molhado para manter a hidratação da pele e usá-lo três vezes ao dia conforme a prescrição; ingerir bastante líquido para manter-se hidratado; manter membros inferiores elevados sobre travesseiros; realizar compressa fria nos locais onde havia intenso prurido. O registro de como o paciente se apresentava no momento da visita e as orientações realizadas foram descritas no prontuário do mesmo. No segundo dia de visita, duas semanas depois, pôde-se perceber que o paciente já apresentava uma significativa melhora, relatando que houve a diminuição do prurido, assim como foi possível perceber que houve redução de lesões no couro cabeludo, a pele que anteriormente se descamava de forma generalizada agora já apresentava uma menor extensão, seus pés já não se encontravam edemaciados, e uma considerável melhora nas condições de higiene e bem estar do paciente. Considerações finais: Ao conhecer um pouco da cultura indígena Yanomami é possível perceber como se faz importante a prestação de cuidados diferenciados à essa população, que possui peculiaridades no ouvir, no entender, no modo de se comunicar, tendo em vista que não são imediatistas na devolução de respostas quando questionados, além de que o fato de não compreenderem bem a língua portuguesa pode tornar esse processo mais dificultoso. Sendo assim compreende-se que seja de extrema importância a presença de um profissional que saiba se comunicar com estes pacientes em sua língua materna, facilitando o diálogo e troca de informações. A estratégia do sistema de apoio a educação implica num processo ativo, capaz de promover mudanças no estado de saúde do indivíduo promovendo um alto nível de bem-estar, tornando-o protagonista deste processo. E entende-se que para o sucesso desta estratégia a comunicação verbal e não-verbal e diálogo de forma humanizada são imprescindíveis.

 


Palavras-chave


Saúde Indígena; Teoria do Autocuidado; Pênfigo