Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E A FORMAÇÃO PARA A INTERPROFISSIONALIDADE: INTERLOCUÇÃO ENTRE EXPERIÊNCIAS NO VER-SUS, PRÓ/PET SAÚDE E PROJETO RONDON
Alisson Maurício Monteiro, Natanael Chagas, Gelvani Locateli, Thiago Costa, Jean Wilian Bender, Letícia Dal Magro, Andressa Antônia Trizotto, Cláudio Claudino da Silva Filho

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Apresentação

O trabalho em saúde demanda significativo arcabouço de competências e habilidades, na medida em que a complexidade do ser humano produz um emaranhado de demandas e necessidades singulares. Os processos formativos em saúde têm a responsabilidade de formar profissionais capacitados e implicados com a integralidade da atenção, que demanda uma abordagem interdisciplinar e, inexoravelmente, um trabalho interprofissional. Essa perspectiva encontra ressonância nas políticas públicas de saúde do Brasil, que tem desde 1990 o Sistema Único de Saúde (SUS), embasado em princípios e diretrizes que buscam assegurar uma atenção integral em saúde.

A partir do momento que percebemos que nosso sistema de saúde presta cuidados fragmentados e pouco resolutivos, se torna essencial pensar novos modelos de formação da força de trabalho em saúde. Com vistas a assegurar a formação de profissionais da saúde com competências e habilidades para melhor atender às necessidades do SUS, novas Diretrizes Curriculares Nacionais para Cursos Universitários da Área da Saúde (DCNs) foram elaboradas, tendo grande influência no que diz respeito à integração curricular voltada à interdisciplinaridade e ao atendimento às diretrizes do SUS. Nessa perspectiva, adotar a educação interprofissional como possibilidade para a formação profissional se mostra um caminho promissor para a reorientação das ações em saúde. A interprofissionalidade possibilita reagrupar conhecimentos que estão dispersos, oferecendo uma assistência em saúde mais resolutiva e satisfatória, com profissionais mais aptos ao trabalho colaborativo e ao diálogo em equipe nos espaços de saúde.

Considerando a extensão universitária como importante subsídio na formação para a interprofissionalidade, o presente trabalho tem como objetivo apresentar uma interlocução entre experiências no Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS), Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (PRÓ-Saúde) articulado ao Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) e Projeto Rondon. Para isso, percorremos o campo da formação interprofissional, apresentando as contribuições das vivências no contexto da extensão universitária para a formação profissional voltada à interprofissionalidade.

 

Descrição da experiência

O presente relato de experiência é constituído pelas vivências de profissionais e estudantes da área da psicologia, enfermagem, odontologia, nutrição e medicina em projetos de extensão universitária de Instituições de Ensino Superior do estado de Santa Catarina. Contempla-se nesse trabalho os projetos: VER-SUS – Oeste Catarinense (2015/2016) PRÓ-Saúde e PET-Saúde (2013/2014/2015) e Projeto Rondon Nacional (2014) e Rondon regional (2016).

O projeto VER-SUS é um mecanismo educativo voltado à formação de profissionais da saúde para o SUS, tendo compromisso ético-político com as diretrizes e princípios que regem o sistema de saúde. Os integrantes do projeto são estudantes de graduação e pós-graduação das mais diversas áreas do conhecimento. O projeto é realizado no período de férias acadêmicas, no formato de imersão durante o período de 8 dias. Sua formatação utiliza metodologias ativas de aprendizagem e propicia aos estudantes experienciar os espaços de aprendizagem e trabalho do SUS. Os cenários principais de atuação do projeto são os serviços de saúde pública, iniciando nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) até os serviços especializados e/ou de alta complexidades.

O PRÓ-Saúde, foi criado através de parceria entre o Estado e Instituições de ensino Superior, com a proposta de reorientar a formação em saúde na direção dos princípios e diretrizes do SUS através da integração ensino-serviço. Com o monitoramento e avaliação do PRÓ-Saúde e, consequente, identificação dos avanços e desafios a serem enfrentados, surgiu o PET-Saúde, que agregou o fator pesquisa a esse movimento de reorientação da formação. Ambos os projetos envolviam docentes e discentes de todos os cursos de graduação em saúde, em atividades de pesquisa e extensão desenvolvidas no contexto local, durante o período de dois anos.

O Projeto Rondon, ao contrário dos anteriores, não é um mecanismo diretamente voltado para a área da saúde, mas sim para um conjunto de ações afins de proporcionar experiências e aprendizados para os acadêmicos tanto quanto para a população contemplada por essas atividades. O projeto existe na esfera Nacional, coordenado pelo Ministério da Defesa, e no âmbito regional, coordenado por Instituições de Ensino Superior. Ambos os contextos se caracterizam pela extensão universitária, na direção de permitir que estudantes dos mais diversos cursos de graduação participem das atividades de forma interprofissional.

 

Resultados

As vivências produzidas a partir da imersão nos projetos reforçam o que a já é apontado pela literatura: a educação é inseparável dos processos de trabalho, de tal modo que na própria atividade há uma aprendizagem em acontecimento, como algo intrínseco. Podemos considerar que estratégias calcadas na interdisciplinaridade e voltadas à integração ensino-serviço de forma interprofissional são um caminho possível para a reorientação da atenção em saúde com vistas à integralidade.

Iniciativas como o VER-SUS, PRÓ-Saúde, PET-Saúde, e Projeto Rondon emergem, nesse cenário, como estratégias mobilizadoras para a reorientação da formação profissional em saúde, tendo como fio condutor a práxis interprofissional voltada à integralidade. Ambos os projetos de extensão têm como principal cenário o SUS, o que possiblilita uma formação profissional implicada com a política pública de saúde.  Na aproximação do acadêmico com a realidade do SUS (fundamento do VER-SUS), entendemos que ser profissional de saúde não é ser apenas a força de trabalho que move um sistema, mas principalmente, é ser protagonista no processo de atenção à saúde, seja no âmbito das práticas quanto no espaço da gestão do próprio trabalho.

O PRÓ-Saúde e o PET-Saúde, objetivam a formação de profissionais da saúde para o trabalho multiprofissional e interdisciplinar na formação e atuação profissional, em busca da integralidade da atenção à saúde. Através das experiências no PRÓ-Saúde e PET-Saúde, percebe-se que os mesmos constituem importantes mobilizadores para a interprofissionalidade, ao passo que induzem a novas formas de interação entre os cursos, docentes e discentes, bem como trabalhadores e usuários, integrando ensino/serviço. No projeto Rondon, a construção de novos conhecimentos é compartilhada entre os estudantes participantes e a população residente no território contemplado pelas ações. O compartilhamento de tecnologias e habilidades construídas nas universidades, bem como dos conhecimentos populares/cultura, possibilitam uma formação acadêmica mais crítica e implicada com o contexto social. Propicia a sensibilização dos participantes quanto às diferentes realidades e problemáticas, aprimorando a dimensão humanista, assim como contribui para a ampliação da formação profissional para além dos limites técnicos e profissionais.

Ao considerar a síntese das experiências nos referidos projetos de extensão, nota-se uma certa paridade nas linhas de pensamento, principalmente na questão de educação interprofissional. Ambos os projetos estimulam e proporcionam que os acadêmicos se relacionem com diversas profissões, favorecendo discussões e construções coletivas de conhecimento. A reorientação da formação profissional estará refletida posteriormente nos campos de atuação profissional, quando os profissionais estarão executando planejamentos, análises, propostas, intervenções com conhecimento e olhar diferenciado e ampliado, e não mais unidirecional.

 

Considerações finais

Diante disso, destaca-se a importância da extensão universitária como elemento basilar do processo de formação profissional, abalizando a necessidade de proporcionar maior acesso dos acadêmicos a programas e projetos, contemplando uma organização e corpo docente que apoiem a educação interprofissional, a ampliação de financiamento e, não menos importante, a curricularização da extensão. Também deve-se considerar a importância de uma educação interprofissional de caráter permanente e longitudinal, no sentido de que deva ser parte do desenvolvimento profissional contínuo do indivíduo, desde a graduação e tendo continuidade durante toda a sua carreira.


Palavras-chave


Educação; Interprofissionalidade; Saúde