Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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FORMAÇÃO DOS ALUNOS DE ENFERMAGEM NO BRASIL E NA ITÁLIA
Karen Weingaertner del Mauro, Êrica Rosalba Mallmann Duarte, Alcindo Antônio Ferla, Dagmar Elaine Kaiser, Maria Lia Silva Zerbini, Gímerson Erick Ferreira

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Passamos por várias mudanças sociais e tecnológicas no mundo, uma ansiedade que se reflete na apreensão de reconfigurar o modelo mundial na busca de organizar um mundo melhor a todos e neste caminho têm-se a expectativa da implementação de medidas que objetivem mudanças nas políticas públicas. A educação deve possibilitar aos trabalhadores sua participação na sociedade científica e tecnológica não como objetos, mas como sujeitos, resgatando assim a dimensão política: a construção da identidade social e a integração plena na cidadania. Nessa ótica, o conceito de educação deve ser entendido como um compromisso com os ideais da sociedade e refere-se a um conjunto de práticas sociais, com os valores, crenças, atitudes, conhecimentos formais e informais que uma dada sociedade tende a desenvolver para preservar ou melhorar as condições e a qualidade de vida da população. Toda a formação profissional perante uma realidade de mutações constantes na sociedade remete à reflexão sobre o modo de como ela se organiza e se conforma. A reflexão deve sinalizar uma direção que não se contente apenas com o processo de aprendizagem em dado espaço e contexto, mas que tenha por horizonte uma sociedade transformada, ou seja, uma reflexão comprometida com um projeto de sociedade. A transformação de uma sociedade mais justa passa pela formação de profissionais do ensino e da saúde. Este então é o desafio para a formação destes profissionais que passam por uma formação profissional orientada para o trabalho – entendido como processo de humanização do homem - que objetive integrar conhecimentos gerais e específicos, habilidades teóricas e práticas, hábitos, atitudes e valores éticos. Objetivo: Conhecer a formação acadêmica de enfermeiros no Brasil e na Itália, identificando as aproximações e os distanciamentos da formação em enfermagem nos cenários estudados. Metodologia: pesquisa documental com abordagem qualitativa e exploratória. O objeto principal para a análise foram os fatos históricos que provocaram impacto na formação do profissional enfermeiro tanto no Brasil como na Itália, entendendo como impacto a influência decisiva de acontecimentos no decurso da história. Os dados foram separados em cinco categorias agrupadas a partir de uma linha histórica: Visualizando o contexto e a interface histórica da formação/profissão; Os acordos internacionais ampliando a atuação profissional; Uma profissão feminina? As questões do gênero na formação; As características curriculares: a construção do Perfil Profissional. Resultados: Verificou-se que desde o reconhecimento da enfermagem pelo Estado vivenciaram-se períodos diferentes na formação do profissional. Destaca-se um desenvolvimento acelerado na formação e no reconhecimento profissional no Brasil, visto que desde a chegada do modelo nightingaleano, trazido pelas enfermeiras americanas, na criação da escola de enfermagem do Departamento Nacional de Saúde Pública, nota-se uma independência profissional, onde a escola foi organizada e administrada desde o inicio das suas atividades por enfermeiras diplomadas. Na Itália perdurou a ideia da enfermagem como profissão auxiliar à atuação na área da saúde até o ano de 1999, quando então foi estabelecido o campo de atuação e responsabilidades do perfil profissional do enfermeiro. Quanto a padronização dos currículos base adotados pelas escolas de enfermagem nos dois países, destaca-se que o Brasil preocupou-se desde cedo em padronizar o ensino ao estabelecer um currículo mínimo e igual no território nacional, desde a criação da Escola Anna Nery, passando pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1961, com a sua integração ao sistema geral de ensino. No contexto italiano, tal padronização operou-se no campo internacional, isto é, as bases curriculares dos cursos de enfermagem foram adotadas não só pela Itália, mas também por outros países no contexto da União Européia através do Acordo Europeu de Estrasburgo sobre a instrução e formação dos enfermeiros de 1967, implementado na Itália em 1972. Tendo em vista os objetivos principais dos acordos internacionais firmados por ambos os países estudados, que tinham o intuito de promover um espaço de mobilidade entre seus membros, foi proposta a compatibilidade e comparabilidade entre cursos de graduação, visando uma melhor qualificação do ensino. Diferente da Itália, no Brasil, apesar do movimento do MERCOSUL, essa integração entre os países da América do Sul ainda está em construção não tendo ainda se concretizado. A estereotipização da enfermagem enquanto atividade feminina introduzida no início do século XX e sua restrição ao público masculino por um período na história se deu culturalmente no Brasil e formalmente na Itália, e estabeleceu uma discriminação de gênero sob a formação e atuação profissional na enfermagem, prevalecendo o discurso até os dias atuais em ambos os países. Quanto à autonomia do curso de enfermagem, o cenário brasileiro se mostra diferente do italiano. Isso porque as Escolas de Enfermagem a nível nacional, embora tenham sido criadas vinculadas às escolas de medicina, hoje gozam de independência, possuindo em sua grande maioria sede e direções próprias, sendo responsáveis pela qualificação da formação e sua constante evolução científica e profissional. No contexto italiano, as Escolas de Enfermagem encontram-se ainda sob a direção das escolas de medicina e cirurgia das universidades, possuindo uma coordenação própria que responde a uma direção de formação médica. Isso posto, tem-se que no Brasil a formação em enfermagem encontra menos empecilhos para os seus avanços sejam eles formais de caráter administrativo ou acadêmico formativo. Na Itália ainda existem barreiras a serem transpostas em busca de uma formação em enfermagem pensada por enfermeiros para enfermeiros. Considerações: a relevância deste trabalho reside no fato de que a busca pelas origens históricas e culturais da enfermagem permite compreender o cenário de desenvolvimento da formação profissional em cada um dos países estudados, permitindo a compreensão das diferenças evidenciadas. Constatou-se pelos documentos que os cursos apresentaram distanciamentos quanto à autonomia acadêmica, uma vez que no Brasil as Escolas de Enfermagem tem vida própria estando apenas submetidas às universidades como unidades acadêmicas, enquanto que na Itália as escolas estão hierarquicamente submetidas a escolas médicas. Outra situação que foi observada é quanto ao exame final que na Itália é realizado e no Brasil não. Ao decorrer do desenvolvimento histórico de cada país, perceberam-se mudanças sociais, tecnológicas e políticas que foram ocorrendo na busca de uma melhor organização e do reconhecimento do profissional. Não se pode pensar em um bom profissional sem uma formação de qualidade que incentive o desenvolvimento integral do acadêmico, proporcionando uma visão ampla de sociedade e políticas públicas. Viu-se a importância dos acordos internacionais que ampliam o campo de atuação e promovem a qualificação profissional. Tal estudo permitiu uma análise não só das bases da formação e profissionalização da enfermagem, mas também uma visão crítica do presente ao explicitar os déficits atuais em cada um dos contextos estudados, criando assim um ambiente propício para o intercâmbio de ideias e experiências com o intuito de possibilitar uma enfermagem qualificada que respeite as características culturais de cada contexto e promova o enfermeiro como um profissional fundamental e capacitado para desenvolver um cuidado integral diante das demandas de saúde da sociedade.


Palavras-chave


Formação Profissional; Enfermagem; Currículo.