Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-23
Resumo
Introdução: no Brasil a principal porta de entrada as redes de saúde é a Atenção Básica, a qual através da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) reestruturada em 2017 busca reorientar o sistema para que haja uma organização adequada no atendimento à população. A PNAB estabelece que as Unidades Básicas de Saúde (UBS) devem se encontrar em proximidade ao cotidiano das pessoas, ou seja, estar adstritas ao território onde elas moram, trabalham e vivem, a fim de promover a criação de vínculo com à população em território definido, sobre as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária. A fim de melhorar o cuidado à população, o sistema de saúde brasileiro criou várias modalidades de atendimentos, sendo a principal delas a estruturação das Estratégias de Saúde da Família (ESF), por meio da qual emergiu um modo de trabalhar com a saúde considerando a integralidade da atenção e o desenvolvimento de ações de promoção da saúde junto à família e não somente ao indivíduo doente. As ESF são estruturadas por uma equipe multiprofissional mínima, composta por médico, enfermeiro, auxiliar ou técnico de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS). É preconizado que os ACSs estabeleçam o vínculo entre equipe de saúde e comunidade, buscando assim um atendimento qualificado na lógica da integralidade. Objetivo: analisar a percepção dos agentes comunitários de saúde frente às atividades desenvolvidas por eles junto a equipe e a comunidade. Desenvolvimento: pesquisa qualitativa, do tipo descritiva-exploratória. A coleta dos dados ocorreu de out/dez-2015, foi realizado entrevista semi-estruturada com 18 ACSs de todas (6) as UBS-ESF de um município do sul de Santa Catarina. A análise e a interpretação dos dados coletados ocorreu através da análise temática de conteúdo, a qual consiste em três passos: pré-análise - em que foi realizada a leitura flutuante de todas as transcrições literais das entrevistas; exploração do material - que consistiu na operação de codificação, que, por meio dos dados brutos, buscamos alcançar o núcleo da compreensão do texto; e, tratamento dos resultados obtidos e interpretação - momento em que os dados foram submetidos a um estudo orientado pelo referencial teórico, possibilitando a expressão de concepções relacionadas às categorias temáticas que emergiram dos dados, buscando elucidar os aspectos mais latentes, tornando-os mais visíveis. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética sob o parecer n. 1.203.286, sendo que para o sigilo das identidades os participantes estão apresentados por codinomes. Resultados: expressam a categoria temática: percepção em relação às atividades de agente comunitário de saúde. Está categoria está composta por três subcategorias, expressas a seguir. Subcategoria 1: Sente-se bem em realizar a atividade de ACS. Dez participantes relataram que se sentem realizadas desenvolvendo suas funções como ACS, principalmente porque percebem esse trabalho como algo que pode ajudar as pessoas. “[...] Eu me sinto muito feliz realizando esse trabalho, eu acho que me encontrei, é uma coisa que eu gosto de fazer”(Ane). “[...] Eu me sinto muito bem, principalmente quando a gente percebe que pode ajudar uma pessoa”(Dora). Subcategoria 2: Sente uma baixa valorização da gestão e da comunidade frente às atividades dos ACS. Três entrevistadas sugerem a criação de uma forma de valorização no trabalho do agente comunitário de saúde e a divulgação de suas atividades, para que a comunidade tenha conhecimento da realidade no processo de trabalho do ACS. “[...] Eu acho que deveria ter uma melhor valorização, não só do agente de saúde, mas em todos os setores”(Julia). “[...] porque muitas pessoas acham que o nosso trabalho é só para ir nas casas pegar assinaturas e andar na rua, precisaria haver um melhor esclarecimento do nosso papel”(Natalia). Subcategoria 3: Sobrecarga de atividades na rotina de trabalho. Quatro participantes apontaram que há uma sobrecarga devido à falta de revisão nas microáreas (territorialização) da ESF, fato que compromete significativamente a qualidade do trabalho desenvolvido. “[...] Eu acho que as microáreas deveriam ser melhor divididas, porque dificulta, tem mês que dificulta fazer todas as visitas e eu também tenho um pedaço da área rural e também vai crescer agora com loteamentos novos, aquelas casinhas, então eu acho que tem que ser organizado de novo”(Bruna). “[...] Eu não reclamo da quantidade de famílias, eu tento equilibrar, já foi falado para tentar desmembrar, mas todas ACS estão carregadas, por isso acredito que isso deveria ser revisado”(Margarida). Em relação a sobrecarga de trabalho duas participantes destacam que seria importante a oferta de atendimento psicológico para as ACS, fato que lhes auxiliaria a compreender as dificuldades na rotina do trabalho, bem como as orientaria condutas/posturas que precisam ter a partir das demandas e necessidades da comunidade que elas atendem. “[...] Não tem ninguém para socorrer, um psicólogo ou alguém para conversar, não tem, a gente já até comentou em reunião que seria muito bom, porque tem vezes assim que tu não consegues sozinha, é muito problema e é todo dia ouvindo, recebendo os problemas da comunidade”(Sonia). Considerações finais: os resultados destacam a percepção das ACS quanto às atividades que realizam, em que foi possível constatar que há satisfação no trabalho perante a função de agente comunitária de saúde. Contudo, algumas participantes expressaram que se sentem pouco valorizadas pela comunidade e equipe em que trabalham visto que esses têm pouco conhecimento do seu processo de trabalho. Ainda, os resultados apontaram reclamações a respeito de sobrecarga em suas rotinas de trabalho, pouca valorização, incentivo e cuidado da gestão em relação a saúde do trabalhador, principalmente sobre os aspectos psicológicos. Os resultados do presente trabalho, corroboram os achados de Guanaes-Lorenzi e Pinheiro (2016) quando referem que é possível perceber uma tensão entre diferentes discursos que sustentam o trabalho do ACS, pois, ora há discursos com sentidos de valorização em que os agentes se sentem bem realizando suas funções, sendo que há famílias e a equipe de saúde valorizam o trabalho que desenvolvem, ora são expressos sentimentos de desvalorização do ACS, percebida tanto na relação com a comunidade, como na relação com o sistema de saúde. Ainda, nos resultados aqui apresentados, os participantes também expressam a necessidade de valorização por parte dos gestores municipais de saúde, pensando a saúde do trabalhador e considerando a carga emocional/psicológica que o ACS vivencia em seu processo de trabalho junto à comunidade, como algo importante que a gestão precisa ficar atenta, a fim de implementar ações para minimizar essa sobrecarga.