Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PERCEPÇÃO DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE SOBRE SUAS ATIVIDADES EM RELAÇÃO À EQUIPE E COMUNIDADE
Sabrina José da Silva, Diego Floriano de Souza, Daiane Mendes de Assis Réus, Gabriela Chirst Ramos Nava, Thales Macarini Sasso, Elieser Peper Nascimento, Fernanda Evaldt Bertoti, FABIANE FERRAZ

Última alteração: 2018-01-23

Resumo


Introdução: no Brasil a principal porta de entrada as redes de saúde é a Atenção Básica, a qual através da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) reestruturada em 2017 busca reorientar o sistema para que haja uma organização adequada no atendimento à população. A PNAB estabelece que as Unidades Básicas de Saúde (UBS) devem se encontrar em proximidade ao cotidiano das pessoas, ou seja, estar adstritas ao território onde elas moram, trabalham e vivem, a fim de promover a criação de vínculo com à população em território definido, sobre as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária.  A fim de melhorar o cuidado à população, o sistema de saúde brasileiro criou várias modalidades de atendimentos, sendo a principal delas a estruturação das Estratégias de Saúde da Família (ESF), por meio da qual emergiu um modo de trabalhar com a saúde considerando a integralidade da atenção e o desenvolvimento de ações de promoção da saúde junto à família e não somente ao indivíduo doente. As ESF são estruturadas por uma equipe multiprofissional mínima, composta por médico, enfermeiro, auxiliar ou técnico de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS). É preconizado que os ACSs estabeleçam o vínculo entre equipe de saúde e comunidade, buscando assim um atendimento qualificado na lógica da integralidade. Objetivo: analisar a percepção dos agentes comunitários de saúde frente às atividades desenvolvidas por eles junto a equipe e a comunidade. Desenvolvimento: pesquisa qualitativa, do tipo descritiva-exploratória. A coleta dos dados ocorreu de out/dez-2015, foi realizado entrevista semi-estruturada com 18 ACSs de todas (6) as UBS-ESF de um município do sul de Santa Catarina. A análise e a interpretação dos dados coletados ocorreu através da análise temática de conteúdo, a qual consiste em três passos: pré-análise - em que foi realizada a leitura flutuante de todas as transcrições literais das entrevistas; exploração do material - que consistiu na operação de codificação, que, por meio dos dados brutos, buscamos alcançar o núcleo da compreensão do texto; e, tratamento dos resultados obtidos e interpretação - momento em que os dados foram submetidos a um estudo orientado pelo referencial teórico, possibilitando a expressão de concepções relacionadas às categorias temáticas que emergiram dos dados, buscando elucidar os aspectos mais latentes, tornando-os mais visíveis. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética sob o parecer n. 1.203.286, sendo que para o sigilo das identidades os participantes estão apresentados por codinomes. Resultados: expressam a categoria temática: percepção em relação às atividades de agente comunitário de saúde. Está categoria está composta por três subcategorias, expressas a seguir. Subcategoria 1: Sente-se bem em realizar a atividade de ACS. Dez participantes relataram que se sentem realizadas desenvolvendo suas funções como ACS, principalmente porque percebem esse trabalho como algo que pode ajudar as pessoas. “[...] Eu me sinto muito feliz realizando esse trabalho, eu acho que me encontrei, é uma coisa que eu gosto de fazer”(Ane). “[...] Eu me sinto muito bem, principalmente quando a gente percebe que pode ajudar uma pessoa”(Dora). Subcategoria 2: Sente uma baixa valorização da gestão e da comunidade frente às atividades dos ACS. Três entrevistadas sugerem a criação de uma forma de valorização no trabalho do agente comunitário de saúde e a divulgação de suas atividades, para que a comunidade tenha conhecimento da realidade no processo de trabalho do ACS. “[...] Eu acho que deveria ter uma melhor valorização, não só do agente de saúde, mas em todos os setores”(Julia). “[...] porque muitas pessoas acham que o nosso trabalho é só para ir nas casas pegar assinaturas e andar na rua, precisaria haver um melhor esclarecimento do nosso papel”(Natalia). Subcategoria 3: Sobrecarga de atividades na rotina de trabalho. Quatro participantes apontaram que há uma sobrecarga devido à falta de revisão nas microáreas (territorialização) da ESF, fato que compromete significativamente a qualidade do trabalho desenvolvido. “[...] Eu acho que as microáreas deveriam ser melhor divididas, porque dificulta, tem mês que dificulta fazer todas as visitas e eu também tenho um pedaço da área rural e também vai crescer agora com loteamentos novos, aquelas casinhas, então eu acho que tem que ser organizado de novo”(Bruna). “[...] Eu não reclamo da quantidade de famílias, eu tento equilibrar, já foi falado para tentar desmembrar, mas todas ACS estão carregadas, por isso acredito que isso deveria ser revisado”(Margarida). Em relação a sobrecarga de trabalho duas participantes destacam que seria importante a oferta de atendimento psicológico para as ACS, fato que lhes auxiliaria a compreender as dificuldades na rotina do trabalho, bem como as orientaria condutas/posturas que precisam ter a partir das demandas e necessidades da comunidade que elas atendem. “[...] Não tem ninguém para socorrer, um psicólogo ou alguém para conversar, não tem, a gente já até comentou em reunião que seria muito bom, porque tem vezes assim que tu não consegues sozinha, é muito problema e é todo dia ouvindo, recebendo os problemas da comunidade”(Sonia). Considerações finais: os resultados destacam a percepção das ACS quanto às atividades que realizam, em que foi possível constatar que há satisfação no trabalho perante a função de agente comunitária de saúde. Contudo, algumas participantes expressaram que se sentem pouco valorizadas pela comunidade e equipe em que trabalham visto que esses têm pouco conhecimento do seu processo de trabalho. Ainda, os resultados apontaram reclamações a respeito de sobrecarga em suas rotinas de trabalho, pouca valorização, incentivo e cuidado da gestão em relação a saúde do trabalhador, principalmente sobre os aspectos psicológicos. Os resultados do presente trabalho, corroboram os achados de Guanaes-Lorenzi e Pinheiro (2016) quando referem que é possível perceber uma tensão entre diferentes discursos que sustentam o trabalho do ACS, pois, ora há discursos com sentidos de valorização em que os agentes se sentem bem realizando suas funções, sendo que há famílias e a equipe de saúde valorizam o trabalho que desenvolvem, ora são expressos sentimentos de desvalorização do ACS, percebida tanto na relação com a comunidade, como na relação com o sistema de saúde. Ainda, nos resultados aqui apresentados, os participantes também expressam a necessidade de valorização por parte dos gestores municipais de saúde, pensando a saúde do trabalhador e considerando a carga emocional/psicológica que o ACS vivencia em seu processo de trabalho junto à comunidade, como algo importante que a gestão precisa ficar atenta, a fim de implementar ações para minimizar essa sobrecarga.


Palavras-chave


Agentes Comunitários de Saúde; Atenção Básica de Saúde; Estratégia de Saúde da Família; Processo de Trabalho.