Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
CONSTRUÇÃO COLETIVA DO PROTOCOLO MUNICIPAL DE SÍFILIS DE CUIABÁ: GRUPOS FOCAIS COMO ESTRATÉGIA PARA REALIZAÇÃO DO DIAGNÓSTICO SITUACIONAL
AUDREY MOURA MOTA GERONIMO, Liney Maria Araújo, Heloísa Maria Piero Cassiolato, Giordan Magno da Silva Gerônimo, Bruna Paesano Grellmann

Última alteração: 2018-05-03

Resumo


As Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) são causadas por mais de 30 agentes etiológicos, espécies de vírus, bactérias, fungos e protozoários, transmitidas de variadas formas, destacando por contato sexual e por via sanguínea, eventualmente. Dentre essas infecções, algumas possuem altas taxas de incidência e prevalência, com complicações graves em mulheres. Como afetam o indivíduo de uma forma holística, pode estar associada a sentimento de culpa, estigma, discriminação, além dos aspectos biológico, psicológico, social e cultural. Um dos caminhos encontrados pelo Governo Federal para se diminuir a incidência da epidemia de ISTs, em especial no que tange à transmissão vertical da sífilis e do HIV, dá-se no momento da assistência pré-natal disponibilizada à gestante. Pretende-se, por meio da oferta de testes rápidos, realizar o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, diminuindo drasticamente os índices nacionais. Devido situação epidêmica de sífilis no Brasil, o Protocolo Municipal de Sífilis de Cuiabá foi demanda da rede de saúde. Buscou-se resposta à necessidade de organizar a assistência e fluxo de atendimento, embasada na realidade local para direcionar conduta profissional. Tratou-se de pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa do tipo pesquisa-ação. A coleta de dados envolveu realização de grupo focal de caráter exploratório que estruturou diagnóstico da realidade. Participaram integrantes da rede municipal, estadual e federal. A análise dos dados seguiu Teoria Fundamentada. As ISTs são consideradas problema de saúde pública dada alta incidência. Causada pelo Treponella pallidum, bactéria gram-negativa do grupo das espiroquetas, de caráter sistêmico, curável e evolução crônica, exclusiva do ser humano, caracteriza-se pela presença de manifestações cutâneas temporárias. Sua contaminação se relaciona a comportamentos sexuais de risco, sem uso de preservativos e multiplicidade de parceiros. Como fatores que contribuem para ineficácia do diagnóstico precoce estão qualidade precária de assistência à saúde e locais de extrema pobreza. Para adequado diagnóstico devem ser utilizados teste treponêmico, associado a não treponêmico e para tratamento penicilina. Segundo dados somente do Serviço de Atendimento Especializado em ISTs, HIV/Aids e Hepatites virais de Cuiabá, partindo dos registros com diagnóstico reagente, só no 1º semestre de 2016, configura-se situação epidêmica, com aumento superior a 450% em relação a 2014-2015. De acordo com os debates realizados, consensuou-se que o fluxo realizado pelo SAE/Cuiabá e pelo Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM) estava em consonância com o preconizado pelo Ministério da Saúde, conduzindo ao entendimento de que se tratava do manejo ideal que deveria ser adotado pelo município. Percebe-se a falta das etapas de seguimento e alta no manejo da sífilis, configurando uma falta de acompanhamento até o estabelecimento de título treponêmico adequado. Além disso, visando suprir a lacuna já identificada relacionada ao diagnóstico adequado da patologia na Rede SUS, procedeu-se a atualização de 21 (vinte e um) enfermeiros em Testagem Rápida e Aconselhamento. Após aprovação do protocolo, avaliou-se a experiência como imensamente satisfatória, visando oferta de atenção integral para todos os cidadãos. A experiência compartilhada com todos os profissionais que compraram a ideia de buscar uma atenção à saúde de qualidade foi imensamente satisfatória e enriquecedora. Em nenhum momento houve qualquer ato que representasse um posicionamento vertical, tendo os representantes da gestão municipal se mostrado veementemente engajados para sanar as lacunas existentes no manejo da sífilis em Cuiabá/MT. Demandas surgiram já na construção do diagnóstico, especialmente que reflete na sobrecarga do SAE/Cuiabá, como passar a ofertar a testagem rápida para sífilis e outras infecções nas unidades de ESF. Como resposta a essa questão, realizou-se a estruturação de atualização dos enfermeiros coordenadores dessas unidades e a mediação de uma logística que viabilizasse sua realização, a exemplo de local de armazenamento adequado, reposição dos testes nas unidades, estruturação do fluxo interno e empoderamento desses profissionais para introduzirem essa prática nos atendimentos junto às comunidades.  Além de essa ação tornar possível, a médio e longo prazo, proporcionar um desafogamento dos atendimentos no SAE/Cuiabá, será ofertado aos usuários, especialmente às gestantes, um meio de triagem diagnóstica mais eficaz que o laboratorial até então utilizado (Elisa), dada sua seletividade e eficiência características. Quanto à aplicação da penicilina na atenção primária, a etapa política iniciada para implementação do protocolo construído coletivamente, firmará o compromisso da gestão municipal frente a essa demanda. Espera-se que culmine na formalização através de uma portaria municipal, que respalde os enfermeiros tanto na sua administração, quanto, a exemplo do COREN-BA, na própria prescrição do medicamento com vista a um enfrentamento mais efetivo e incisivo da sífilis. A principal implicação para a Enfermagem foi reafirmar a necessidade de uma atuação baseada na autonomia e na responsabilidade para com os usuários atendidos. O empoderamento é um patamar que só é possível galgar embasado pelo conhecimento técnico-científico que habilite o profissional a agir com fundamentação e segurança. Além disso, é a vivência que fortalece sua bagagem teórica e o confronto com a prática que o lhe dá a expertise necessária para o manejo adequado da sífilis. Os desafios estão centrados em promover a implantação do protocolo e garantir a continuidade da atuação da Enfermagem junto ao paciente com sífilis. Capacitações periódicas que promovam sua atualização para o manejo da patologia são essenciais, como se mostraram as realizadas para testagem rápida. As dúvidas apresentadas eram básicas, que após supridas, proporcionaram uma mudança de olhar consistente, que pode ser visualizada nas buscas imediatas por um suporte técnico que oferecemos após as referidas atualizações. Muitos foram os entraves enfrentados, mas a superação apenas demonstrou que quando todos se envolvem por um ganho coletivo, tende-se ao sucesso. Muito há a ser combatido e as etapas relacionadas à implementação apenas começaram. Agora adentraremos nas esferas políticas, em que a negociação será a carta mestra e que a vontade política direcionará o sucesso, ou não, do que agora construímos para a população cuiabana.

Palavras-chave


Protocolo; Cuidados de Enfermagem; Sífilis