Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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REFLETINDO SOBRE O MANUAL DO PÉ DIABÉTICO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA VIVÊNCIA DE ENFERMEIRAS ATRAVÉS DA FERRAMENTA AGREE II
Karen Weingaertner del Mauro, Niani Emanuelle Deitos, Êrica Rosalba Mallmann Duarte, Maria Lia Silva Zerbini, Alcindo Antônio Ferla, Fernanda Roth Zamo, Patricia Venzon Muller

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


O profissional que atua na Atenção Primária no Brasil presta atendimento para usuários de ampla faixa etária, realizando diferentes atendimentos, dos mais simples aos mais complexos. Para que haja uma visão integral do usuário é necessário que este profissional tenha uma formação generalista, visto que a equipe de saúde atende usuários que apresentam diferentes situações de vida. As Doenças Crônicas Não Transmissíveis são doenças multifatoriais que surgem no decorrer da vida. As doenças de maior impacto no mundo, aquelas identificadas como sérios e importantes problemas de saúde pública, são as cardiovasculares, as metabólicas, o câncer e as doenças respiratórias crônicas. No Brasil, estima-se que a perda de produtividade no trabalho e a diminuição da renda familiar são resultantes da presença de três dessas doenças: o diabetes, a doença cardíaca e os acidentes vasculares encefálicos. Tal fato impactou na economia brasileira com uma perda de 4,18 bilhões de dólares, entre os anos de 2006 e 2015. O diabetes mellitus é um transtorno metabólico de etiologia heterogênea, caracterizado por hiperglicemias e distúrbios no metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras, que resultam de defeitos na secreção ou ação da insulina no corpo do indivíduo. As lesões de pele constituem um sério problema de saúde pública, devido ao grande número de pessoas com alterações na integridade tissular, o que onera o gasto público, e os cuidados com feridas crônicas fazem parte da rotina do profissional que trabalha com Atenção Básica de Saúde e em centros especializados em tratamento de feridas. O Manual do Pé Diabético foi lançado pelo Ministério da Saúde, em 2016, com o propósito de investir em ferramentas para qualificar o cuidado ao usuário com diabetes e buscar ampliar a resolutividade da Atenção Primária à Saúde. É um instrumento para qualificar a prática diária do atendimento ao paciente com diabetes, proporcionando aos profissionais de saúde uma sistematização do atendimento clínico e organizacional para ser seguido, ou ajustado, a fim de otimizar o serviço e o cuidado prestado aos usuários, no adequado enfrentamento da patologia abordada. Objetivo: Avaliar o Manual do Pé Diabético, a partir da vivência de enfermeiros que atuam na rede de assistência primária a saúde e no serviço especializado. Definição do objeto: O Manual do Pé Diabético é um instrumento que busca qualificar a prática diária do atendimento ao paciente com diabetes, proporcionando aos profissionais de saúde uma sistematização do atendimento clínico e organizacional a ser seguido, ou ajustado, a fim de aperfeiçoar o serviço e o cuidado prestado aos usuários diabéticos. Metodologia: Pesquisa qualitativa que utilizou o método de estudo de caso. Utilizou-se o instrumento AGREEII que avalia a qualidade de diretrizes clínicas. A avaliação por este instrumento inclui o julgamento sobre o método utilizado para elaborar as diretrizes clínicas, o conteúdo das recomendações finais, ou fatores que estão ligados à sua aplicação. É uma ferramenta composta por 23 itens que abrangem seis domínios de qualidade: Domínio 1: Escopo e finalidade; Domínio 2: Envolvimento das partes interessadas; Domínio 3: Rigor do desenvolvimento; Domínio 4: Clareza da apresentação; Domínio 5: Aplicabilidade; Domínio 6: Independência editorial. O Instrumento AGREE II é genérico, e pode ser aplicado a diretrizes relacionadas a qualquer patologia em qualquer etapa do cuidado em saúde, incluindo aspectos relacionados à promoção da saúde; saúde pública; rastreamento; diagnóstico; tratamento ou intervenções. O AGREE II sugere que no mínimo sejam dois avaliadores, entretanto idealiza que sejam quatro. O estudo faz parte da Pesquisa Integrada sobre Organização do trabalho e integralidade nos serviços: novas tecnologias no cuidado a usuários com lesão de pele na rede de atenção à saúde no Estado do Rio Grande do Sul aprovado no CEP/UFRGS sob o nº 56382316.2.0000.5347. Resultados: O estudo contou com a experiência de dois enfermeiros. O manual possui 6 domínios de avaliação e uma classificação geral e foi bem avaliado, resultando na  pontuação geral em 4,7 onde a nota mínima a ser dada era 1: discordo totalmente, e a máxima 7: concordo totalmente. O manual foi bem avaliado por seus objetivos e apresentação, recebendo uma nota média de 4,7 através da avaliação de qualidade AGREE II. O Manual do Pé Diabético não é extenso, é de fácil manuseio e possui lista de figuras, de quadros e sumário, o que reforça a sua praticidade. As diretrizes avaliadas destinam-se principalmente aos profissionais da Atenção Básica incluindo os Agentes Comunitários de Saúde. Possui uma linguagem simples e de fácil interpretação, o que facilita o aproveitamento do material pelo profissional, trazendo como principal recomendação à avaliação periódica dos pés dos Diabéticos, salientada ao longo de tal texto. No capítulo em que são apresentados os tipos de lesões e seus respectivos tratamentos, as úlceras e os cuidados de curativo, o conteúdo é bastante limitado, com poucas imagens. Nas orientações de tipos de cobertura, as imagens são de qualidade razoável, e os tipos de cobertura sugeridos não estão disponíveis na rede básica de saúde do Sistema Único e Saúde. Apesar do foco do manual ser a Atenção Básica sugere-se que sejam incluídas na diretriz, orientações e cuidados a nível secundário, já que seria, também, de grande valia para a organização da rede de atendimento aos usuários e do processo de trabalho dos profissionais desse nível de atenção como referência e contra-referência. Os pontos positivos explicitados pelos avaliadores foram clareza, objetividade, recomendações importantes para o cuidado no dia a dia e ênfase na avaliação constante do pé do usuário. Como sugestões, os avaliadores, trazem a inserção de mais imagens para melhor auxílio na avaliação do pé diabético, inclusão da padronização de materiais e insumos a serem utilizados nos curativos e incorporação de orientações sobre órtese e prótese e fitoterápicos, visto que, muitos usuários com pé diabético precisam fazer uso desse tipo de material, e nem sempre os profissionais têm a visão da necessidade da utilização destes.  Considerações: O manual foi bem avaliado e houve sugestão para uma nova edição. A ênfase dada a Rede de Atenção Básica e sua organização e qualificação dos profissionais demostra a necessidade de literaturas como esta para apoiar equipes que estão distantes de centros que possam mantê-los de forma constate atualizados. Os avaliadores enfatizaram os profissionais da atenção secundária, inclusão de conteúdos de órtese e prótese e uso de fitoterápicos. Questionam-se os materiais de cobertura sugeridos, uma vez que na rede básica do município e estado, não existe disponibilização do material na rede para seu uso habitualmente. O manual tem possibilidade de ampliar o conhecimento da equipe de saúde e a sensibilização para que as equipes realizem avaliações de materiais oferecidos pelo Ministério da Saúde e cria uma nova estratégia de educação permanente. Sugere-se a continuação do estudo com a participação de um número maior de avaliadores.


Palavras-chave


Pé Diabético; Diabetes Mellitus; Enfermagem de Atenção Primária.