Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
IMPACTOS DA CRISE HÍDRICA NA SAÚDE PÚBLICA E A REEMERGÊNCIA DAS DOENÇAS RELACIONADAS À ESCASSEZ DE ÁGUA NA BAHIA
Cinoélia Leal de Souza, Ana Cristina Santos Duarte, Elaine Santos da Silva, Ana Paula Melo Fernandes Rodrigues

Última alteração: 2018-04-02

Resumo


Apresentação: na medida em que as populações e as atividades econômicas crescem, muitos países atingem rapidamente a escassez de água ou se defrontam com limites para o desenvolvimento econômico. Somam-se as questões econômicas, às questões climáticas, às ações humanas, e o resultado dessa interação pode provocar diversas implicações na saúde pública, sendo que há vários tipos de doenças que podem ser causadas por algum fator relacionado com a água. (Como exemplos: em locais com saneamento básico deficiente, falta de água tratada, de rede de esgoto ou de alternativas adequadas para a deposição dos dejetos humano), as doenças podem ocorrer devido à essa contaminação, e ainda, a falta de água também pode causar doenças, pois, sua escassez impede uma higiene adequada, além da lista de doenças de transmissão hídrica, aquelas causadas por insetos que se desenvolvem na água. Nesta perspectiva, a abordagem da questão ambiental relacionadas à escassez e contaminação da água, exige o conhecimento de várias áreas da ciência, tanto que, os conceitos de saúde, saneamento e saúde pública vêm sofrendo um processo de convergência conceitual dentro da sua evolução histórica, para que seja possível entender, em partes, como o ser humano promove, ou não, o seu bem-estar. Assim, pretendeu-se com este estudo, analisar a influência da escassez de água na saúde pública e na reemergência de doenças infecciosas no estado da Bahia de 2007 a 2012. Desenvolvimento: Estudo epidemiológico, descritivo, exploratório de caráter transversal, realizado no estado da Bahia no período de 2007 a 2012. O período escolhido para o estudo é referente à disponibilidade dos dados em todos os bancos de dados, como o Sistema de Informação de Agravo de Notificação (SINAN) e a Agência Nacional de Água do Brasil, responsável pela coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos.  Para análise da situação entre a escassez de agua e a incidência de doenças reemergentes foram utilizados os seguintes indicadores: água (total de reservatórios, volume menor que 30% e volume acima de 90%); e os agravos à saúde (Cólera, Dengue, Febre Tifoide e Hepatite A). Para análise dos indicadores, o processo envolveu a caracterização dos casos dos agravos estudados, utilizando as variáveis: faixa etária, sexo, raça e escolaridade dos casos notificados, assim como estimativa das incidências para o estado da Bahia para o período estudado. No segundo momento foi realizada a comparação ano a ano entre os agravos e o volume de para compreensão do aumento ou redução das doenças em função da melhoria ou não da disponibilidade da água no estado ao longo do tempo. Resultados: Em relação à disponibilização de água no estado da Bahia, a quantidade de reservatórios vem permanecendo constante nos últimos anos, com volumes cada vez menores, apesar da comprovada escassez de água em diversos municípios do estado da Bahia, sinalizando para a reavaliação das políticas públicas de fornecimento de água. É patente que, a qualidade da água e a saúde das populações estão intimamente relacionadas. Várias são as doenças que podem ser relacionadas à veiculação hídrica: por ingestão de água contaminada, por contato da pele/mucosas com essa água contaminada, muitas vezes a falta de água impede a higienização adequada e pode causar também uma série de doenças, temos as doenças causadas por insetos/vetores que se desenvolvem na água. Essa situação obriga a intensificar os para conseguir metodologias preventivas através de vacinas eficientes, e também o controle biológico para a diminuição na propagação das causas, além das ações preventivas básicas quanto à erradicação de locais de proliferação. No período de 2007 a 2012 o número total de casos de dengue no estado da Bahia foi de 27.1629, problema que não é novo, mas que vem se intensificando nos últimos anos, aumentando o número de casos e de notificações. Tal situação é evidenciada nas diferenças sociais no acesso a recursos e equipamentos públicos implicam diretamente no quadro de saúde das pessoas, quando se compara o número de casos de dengue, febre tifoide e hepatite A na Bahia de 2007 a 2012, o número de casos é extremamente mais elevado na população com menos de 08 anos de estudo, com 65,364 (66,33%), 41 (62,12%) e 1009 (84,58%) respectivamente. Em relação ao número de casos das mesmas doenças no comparados em diferentes grupos etários, tem-se 137.612 (78,62) dos casos de dengue em pessoas declaradas negras e 37,431 (21,38%) não negras; para hepatite A 2.051 (80,20%) dos casos atribuídos a pessoas negras, e para febre tifoide o número de casos na população negra é de: 81 (78,31%) dos casos, o que demonstra a inequidade na distribuição e acesso aos serviços e equipamentos públicos de saúde, sociosanitários e hídricos. Grande parte dessas pessoas vive na periferia de centros urbanos, com moradias inadequadas, baixa cobertura de saneamento básico, proporção elevada de analfabetismo, pouca qualificação profissional e pouca perspectiva de ascensão social. É uma população marginalizada, discriminada socialmente e mais vulnerável à violência e a doenças. O Brasil avançou ao longo dos anos, com grandes conquistas da sociedade, sobretudo, no setor Saúde, com a criação do SUS, mas ainda enfrenta problemas básicos de estruturação, efetividade e acesso a serviços e equipamentos públicos básicos, como educação, infraestrutura, saneamento básico e saúde. Considerações finais: o Nordeste brasileiro convive a muitos anos com a escassez de água, e os problemas ambientais e de saúde advindos dessa situação, caracterizada principalmente pelo clima e relevo da região, o que torna fundamental a constante análise, avaliação e a proposição de ações e políticas de saúde que visem enfrentar tal situação e consequentemente melhorar a qualidade de vida da população. Nota-se que, as tendências nos indicadores de saúde/doença no que se refere a esse quadro ainda carecem de muita atenção, pois doenças consideradas “do passado” ainda assolam muitas comunidades da região Nordeste, sobretudo da Bahia. Alternativas devem ser criadas para o enfrentamento da crise hídrica e das consequências que ela gera na saúde das pessoas. É necessário minimizar o impacto das infecções e doenças emergentes e reemergentes na saúde pública, promoção da saúde para melhoria da qualidade de vida da população, na qual a efetividade das ações de promoção da saú­de está condicionada pela potencialidade das ações humanas no território/meio ambiente, sobretudo aqueles que possuem maiores barreiras e dificuldades relacionadas ao próprio meio.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Agenda 21. Proteção da qualidade e do abastecimento dos recursos hídricos. Água em Rev. Suplemento das Águas; 2014.

SCHMIDT, R. A. C. A Questão Ambiental na Promoção da Saúde: uma Oportunidade de Ação Multiprofissional sobre Doenças Emergentes. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva v.17, n.2, p373-392, 2007.

CAMELLO, T. C. F. Dengue, chikungunya e ebola: viroses ambientais. Revista Sustinere. v.2, n.2, p.3-15, 2014.

SOUZA, C. L.; ANDRADE, C. S. Saúde, meio ambiente e território: uma discussão necessária na formação em saúde. Ciência & Saúde Coletiva. v.19, n.10, p.4113-4122, 2014.

BARATA, R. C. B. O desafio das doenças emergentes e a revalorização da epidemiologia descritiva. Rev. Saúde Pública. v.31,  n.5, p.531-7, 1997.


Palavras-chave


Saúde ambiental; Escassez de água; Doenças reemergentes.