Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O desafio da pluralidade na implantação da Política de Saúde do Homem
Bruna Campos De Cesaro, Helen Barbosa Santos

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Apresentação: O presente trabalho busca relatar o trabalho das autoras enquanto profissionais na gestão da Política de Atenção Integral à Saúde do Homem no estado do Rio Grande do Sul e refletir sobre o objeto da Política de Atenção Integral à Saúde do Homem no Brasil, através da incorporação da dimensão das masculinidades. Dado o contexto onde se situam, busca-se ampliar o entendimento sobre os homens para além dos dados de morbi-mortalidade quando estes, descolados dos marcadores sociais que produzem hierarquias sociais, não dão conta de explicar os processos de vulnerabilidade e adoecimento.


Desenvolvimento do trabalho:  A fim de contextualizar a Saúde do Homem, partimos de 2011, ano em que a gestão federal da saúde modifica seu objeto de atenção, tomando o masculino para além da próstata. Assim, passa-se a considerar as ações em saúde do homem pelas suas interseccionalidades: raça, cor, classe social, cultura, idade, a fim de entender o processo saúde-doença dessa população a partir destas singularidades. Contudo, a nível Estadual no RS, somente a partir do ano do ano 2013, a Saúde do Homem passou a incluir a pluralidade das masculinidades e as interseccionalidades referentes a estas enquanto uma dimensão epistemológica a ampliar o objeto técnico desta política.


As estratégias adotadas na gestão Estadual da Política de Saúde do Homem, constituíram-se através da necessidade de criar diretrizes e eixos condutores que subsidiassem o processo de implantação desta política, estratégia considerada pioneira no país. As estratégias de gestão passaram a contemplar a dimensão da paternidade, da violência urbana, da juventude e aspectos da Saúde do Trabalhador como escopos das estratégias de gestão do cuidado.

A Saúde do Homem do RS foi considerada pela gestão Federal da saúde como o único Estado do país a instituir uma Resolução  específica e de recurso financeiro estadual de incentivo aos municípios que implantaram ações desta política no contexto da Atenção Básica. Ao total, 108 municípios foram incluídos nesta Resolução.

A partir da organização regionalizada e descentralizada das Coordenadorias Regionais de Saúde que aceitaram participar do processo de implantação da Política Estadual de Saúde do Homem no contexto da Atenção Básica em Saúde, iniciaram-se seminários temáticos para construção das propostas da política nos municípios. A metodologia de trabalho primou por uma perspectiva dialógica da cogestão, em que profissionais de saúde e gestores inseriam-se como protagonistas na pactuação das ações contínuas em saúde do homem que seriam piloto para este processo de implantação nos municípios.

A inserção, juntamente com a coordenação estadual da Saúde do Trabalhador do Centro de Vigilância Estadual em Saúde (CEVS), nas reuniões dos Fóruns Estaduais de Saúde do Trabalhador, constituído por sindicatos de trabalhadores foi uma estratégia adotada para contemplar o controle social e principalmente atores masculinos na discussão da política. A inclusão e o empoderamento desse dispositivo de representação de classe foi fundamental para difundir a pauta da Saúde do Homem assim como para compreender as necessidades de saúde pautadas pelos trabalhadores, fomentar o protagonismo no cuidado em saúde e na participação social nesta e em outras esferas.  A integralidade e universalidade do cuidado esteve presente através desse movimento de transversalidade da Saúde do Homem junto a outras políticas de saúde como a Saúde da População Prisional, Saúde do Trabalhador e a Saúde Indígena. A produção do cuidado em saúde - articulação do acesso aos serviços de saúde de diferentes tipos, mantendo vínculo e continuidade de acordo com as diferentes situações clínicas remete imediatamente à integralidade, tomando as necessidades de saúde do usuário como referência. Além disso, ocupou-se os espaços de gestão colegiada com outras políticas de saúde do Departamento de Ações em Saúde da Secretaria Estadual da saúde do RS no intuito de marcar a saúde do homem na agenda de governo.



Resultados e/ou impactos: Realizaram-se nove seminários de Implantação da Política Estadual de Saúde do Homem em todas as Macrorregionais de Saúde do estado do RS, abrangendo todas regiões do RS. Mais de 700 profissionais de saúde de equipes de Atenção Básica, e gestores municipais de saúde dos 108 municípios do RS interessados em implantar a Política de Atenção Integral à Saúde do Homem participaram deste processo.

A construção dos projetos e pactuação coletiva constitui-se como parte final dos Seminários, momento este em que as ações em Saúde do Homem iam de encontro às especificidades loco-regionais de cada município em relação a população masculina. Ou seja, as demandas de saúde dos homens que vivem no contexto de produção rural são distintas daquelas de municípios predominantemente industriais, assim como a realidades das equipes de saúde dos municípios de pequeno porte comparado às equipes inseridas em municípios de grande porte. Este resultado, em parte, foi alcançado por convocá-los a refletir sobre: “Quem são os homens de seu território? Onde eles vivem, com o que trabalham, que tipo de acesso a lazer possuem? Quais as demandas de saúde que apresentam



Considerações finais:  O fato da Política de Atenção Integral à Saúde do Homem a nível interfederativo se manter pouco explorada pelas secretarias de saúde, é um desafio atual, assim como a fragilidade da mesma quando não priorizada com o passar de diferentes gestões. Assim como os homens que ocupam o lugar de invisibilidade no momento em que o tema é acesso e cuidado em saúde, esta política de saúde, emergida em diversas relações de poder conflitantes ainda se movimenta entre estes diversos interesses junto a um investimento incipiente.

Acredita-se que as masculinidades, quando articuladas ao contexto social e político brasileiro, permitem ferramentas técnicas da gestão à implantação e implementação de política pública, centralizadas não apenas na atenção aos principais agravos em saúde, mas à promoção e prevenção em saúde, especialmente àqueles insuficientemente tomados como um problema de saúde pública como a violência urbana entre jovens negros e pobres.

A cogestão e a regionalização trouxeram resultados eficazes para o processo de monitoramento das ações que foram pactuadas, ainda que seja necessário fortalecer essa política no acesso e na longitudinalidade do cuidado dos homens nos serviços de Atenção Básica em Saúde.



Palavras-chave


saúde do homem, saúde coletiva, gênero