Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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CARACTERIZAÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL POR CAUSAS EVITÁVEIS NO MÉDIO SOLIMÕES EM 2015
Maria Clara Paulino Campos, Larissa Pessoa de Oliveira, Raphaelly Venzel, Rodrigo Vásquez Dan Lins, Sabrina Macely Souza dos Santos, Cléber Araújo Gomes, Daiane Nascimento de Castro

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Apresentação: Dentre os indicadores de mortalidade, a taxa de mortalidade infantil é uma das referências para se conhecer o estado de saúde de uma população, já que esta se refere às mortes precoces e, na maioria das vezes, evitáveis. As condições de moradia, renda econômica, nível de esclarecimento, além do acesso ao saneamento básico e aos serviços de saúde influenciam diretamente no número de óbitos infantis. E, mais alarmante, as mortes por causas evitáveis indicam as potenciais deficiências na gestão dos serviços à saúde que deveriam ser acessíveis e efetivos. Dessa forma, este trabalho tem como objetivo caracterizar a mortalidade infantil por causas evitáveis nos municípios que compreendem o Médio Solimões no estado do Amazonas no ano de 2015.

Desenvolvimento: Foi realizado um estudo do tipo ecológico através SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade) disponível no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Na consulta da plataforma foram levantadas informações referentes aos óbitos por ocorrência por causas evitáveis em menores de 1 ano no período de 2015 nos dez municípios que compreendem o Médio Solimões: Alvarães, Carauari, Coari, Fonte Boa, Japurá, Juruá, Jutaí, Maraã, Tefé e Uarini. Além disso, de acordo com cada causa evitável, foi pesquisado qual categoria do CID-10 era responsável pela maioria dos óbitos contabilizados.

Resultados: Foi evidenciado no presente estudo 92 óbitos na faixa etária inferior a um ano nos municípios do Médio Solimões no ano de 2015, dos quais 70 (76%) por causas evitáveis. Destas mortes por causas evitáveis, vinte e uma (22,8%) seriam reduzíveis pela adequada atenção à mulher na gestação, sendo esse mesmo percentual atribuído a mortalidade infantil pela ausência da atenção apropriada durante o parto. Já nas ocorrências reduzíveis por adequada atenção ao recém-nascido foram notificados catorze casos (15,2%); quatro óbitos (4,3%) foram por ações inadequadas de diagnóstico e tratamento e dez óbitos (10,8%) por ações inadequadas de promoção à saúde e atenção em saúde. Além disso, houve oito mortes por causas não definidas e catorze por demais causas (não claramente evitáveis).

No que se refere aos 21 casos reduzíveis pela adequada atenção à mulher na gestação, nove, aproximadamente 43%, foram ocasionados por desconforto respiratório do recém-nascido, também chamada de Síndrome do Desconforto Respiratório. Interessante ressaltar que essa condição está bastante relacionada com a prematuridade do desenvolvimento da criança e com mães diabéticas. Dessa forma, a partir do acompanhamento pré-natal seria possível identificar uma gravidez de alto risco e preparar tanto a equipe de saúde quanto a gestante para situações adversas. Além disso, há métodos que podem avaliar a maturidade pulmonar fetal nas gestações de alto risco, entretanto para sua realização são necessários materiais viáveis e profissionais qualificados, tal condição bastante precária nos municípios do interior do Estado do Amazonas.

Nos óbitos infantis que poderiam ser diminuídos por adequada atenção à mulher durante o parto, a síndrome da aspiração neonatal ou meconial foi o motivo de mais da metade das mortes nessa categoria, cerca de 66,6%. A presença de mecônio no útero é relacionada com sofrimento fetal, como o causado por estresse devido à falta de oxigênio, e fatores maternos como hipertensão arterial e doenças cardiovasculares ou pulmonares crônicas podem ter grande influência na eliminação do mecônio durante o parto. Sendo de suma importância, portanto, a presença de profissionais para observação de sinais e sintomas no recém-nascido, pele cianótica e taquipneia, por exemplo, e capazes de realizar intervenções de imediato caso sejam necessárias. Assim como de equipamentos qualificados para o diagnóstico e monitoramento da criança nesses episódios.

A septicemia bacteriana do recém-nascido foi responsável por quatro das catorze mortes reduzíveis por adequada atenção ao recém-nascido. Assim como nos casos acima, é fundamental que o profissional de saúde esteja capacitado e atento aos sinais e sintomas do bebê, principalmente os prematuros, aliado a métodos complementares que favoreçam o diagnóstico de forma a evitar futuras complicações. Na septicemia bacteriana do recém-nascido, por exemplo, a criança apresenta letargia, não se alimenta adequadamente e pode apresentar temperatura corpórea diminuída, sendo o diagnóstico concluído após o hemograma completo.

Metade dos óbitos reduzíveis por ações adequadas de diagnóstico e tratamento foram relacionados com pneumonia por microrganismo não especificado. O diagnóstico é basicamente clínico, pela identificação de sinais como febre alta, tosse e dispneia. Também podem ser realizadas radiografias de tórax e exames de sangue. Uma vez identificada, o tratamento varia de acordo com a etiologia (bacteriana, viral ou até mesmo fúngica). Vale ressaltar que, apesar de prevenível, a pneumonia é a patologia que mais mata crianças menores de cinco anos segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). E, segundo dados divulgados pela Organização em 2012, quase 100% desses óbitos são registrados em países em desenvolvimento, como o Brasil.

E, por fim, também ocorreram óbitos que seriam reduzíveis por ações adequadas de promoção à saúde vinculadas a ações adequadas de atenção em saúde. Nessa categoria existiram quatro óbitos ocasionados, por exemplo, à diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumível e dois devido à desnutrição proteico-calórica grave não especificada. Estas, por sua vez, são muito comuns em localidades menos desenvolvidas, sem acesso ao saneamento básico e à educação em saúde e com condições financeiras precárias, como é o caso dos municípios do Médio Solimões.

Considerações finais: Os resultados apontam que aproximadamente ¾ das mortes infantis no ano de 2015 no Médio Solimões foram por causas evitáveis. Sendo essas causas reduzíveis por adequada atenção à mulher na gestação; reduzíveis por adequada atenção à mulher no parto; reduzíveis por adequada atenção ao recém-nascido; reduzíveis por ações adequadas de diagnóstico e tratamento e reduzíveis por ações adequadas de promoção à saúde, vinculadas a ações adequadas de atenção em saúde. A diminuição desses valores depende de alterações estruturais ligadas às condições de vida da população, mas também da atuação direta e efetiva da gestão de saúde pública tanto dos municípios quanto do Estado do Amazonas. É imprescindível a presença de profissionais de saúde qualificados nesses locais e de um ambiente de trabalho equipado com os aparelhos essenciais para alguma intervenção. Somado a isso, sugere-se fortalecimento da gestão e da educação em saúde, além de maiores investigações sobre as condições de saúde infantil no Médio Solimões e no Amazonas.

Palavras-chave


Mortalidade infantil; Causas evitáveis; Sistema de Informação.