Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O CONTATO COM USUÁRIOS DE UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL SOB A PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM
Flávia Braga Huamanculi, Azlin Mota Santos, Diego Ximendes da Silva, Karoline Costa de Souza, David Lopes Neto

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


APRESENTAÇÃO: Um Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) é responsável pelo atendimento de pessoas que necessitam de um maior acompanhamento em relação aos aspectos de sua saúde mental. O serviço é oferecido de forma mais inclusiva e acolhedora, visando superar a imagem histórica de hospitais psiquiátricos. Neste resumo, objetivou-se relatar a experiência vivenciada por discentes do curso de graduação em enfermagem referente a coleta de dados para um projeto de pesquisa relacionada à satisfação de usuários desse serviço, o qual estudantes de graduação tiveram a oportunidade de realizar contato direto com pacientes com transtornos mentais a partir do preenchimento de um formulário com questões referentes à percepção do usuário quanto aos serviços ofertados por um CAPS tipo III da cidade de Manaus, Amazonas. Essa oportunidade foi fundamental para a sensibilização referente a esse tema, uma vez que esse campo de estudo é negligenciado no meio científico, principalmente quando se refere ao estado do Amazonas. Além disso, a saúde mental nem sempre é visto com total responsabilidade por parte dos gestores públicos. Portanto, torna-se necessário buscar formas de saber a visão dos usuários sobre os serviços de saúde mental recebidos, bem como relatar a experiência nesse processo, a fim de suscitar interesse pela temática.

 

DESENVOLVIMENTO: O contato com os usuários deu-se através de entrevista com o uso de um instrumento do tipo questionário, denominado Escala de Avaliação da Satisfação dos Usuários com os Serviços de Saúde Mental (SATIS-BR), desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde e validado para o Brasil. A abordagem aos usuários ocorreu de duas maneiras, a primeira mediada por profissionais da própria unidade que apresentavam o acadêmico ao usuário, e a segunda de forma direta, na qual o entrevistador apresentava-se diretamente ao paciente. A entrevista geralmente acontecia no mesmo espaço da abordagem, seja no recinto de participação dos usuários nas oficinas referentes ao Projeto Terapêutico Singular, ou nos ambientes de espera para realização de alguma consulta ou atividade. Ao iniciar a entrevista o acadêmico expunha os objetivos da pesquisa e falava da importância da participação do usuário, apresentava o Termo de Consentimento Livre Esclarecido para fins de procedimentos éticos de pesquisa, e em seguida dava início a aplicação do instrumento de coleta de dados. O qual continha 44 questões, incluindo as que visavam avaliar o grau de satisfação propriamente dito, as questões referentes à percepção dos usuários sobre diversos aspectos do serviço, e as questões para caracterização sociodemográfica dos indivíduos. Através das quais os pacientes revelaram suas percepções quanto o nível de competência e compreensão da equipe de profissionais; sobre o quanto foram ajudados e sentiram-se acolhidos; acerca da opinião sobre as condições físicas e conforto da unidade; sobre a forma como acontece o acesso ao serviço; procedência do encaminhamento; motivo da escolha pelo serviço; percepção acerca do próprio problema ao ser admitido; dificuldade para obter informações da equipe; consentimento sobre o envolvimento da família no tratamento; opinião sobre a participação do processo de avaliação das atividades do serviço; consideração sobre se o serviço pode ser melhorado, e de que maneira isso pode acontecer; por fim, os pontos mais apreciados e menos apreciados pelo usuário. O diálogo durava cerca de 30 a 40 minutos, tempo suficiente para acadêmico adentrar ao universo particular de cada pessoa com transtorno mental, acompanhando a forma a qual o paciente enxerga o serviço de saúde mental, bem como as dificuldades de muitos deles para compreender alguns questionamentos do instrumento aplicado, dificuldades estas que nem sempre advém das limitações impostas pela condição neurológica, e sim de baixos níveis de escolaridade – oriundos da falta de reinserção social plena dos indivíduos. Houveram contratempos enfrentados por parte dos acadêmicos em momentos de cansaço, confusão e irritabilidade manifestados por pacientes em quadros de saúde mais instáveis, demandando ao futuro profissional em formação a habilidade para lidar em situações delicadas perante esse público. Outro fator observado foi a intensa peculiaridade com a qual cada paciente encara o ambiente que o cerca, pois demonstravam pontos significativos para eles na unidade, que geralmente passam despercebidos pela maioria. O que reforçou ainda mais a necessidade da visão holística e humanística no atendimento em enfermagem, especialmente na saúde mental. Ao final das entrevistas havia gratidão por parte de ambos, pois além de terem sido ouvidos, eles entendiam que estavam ajudando a melhorar o serviço de saúde.

 

RESULTADOS: A visita ao CAPS permitiu observar a importância da oferta e organização desse serviço aos pacientes com transtornos mentais. Foi possível observar satisfação por parte dos usuários por serem ouvidos, pois na maioria das vezes demonstraram disposição em conversar com os acadêmicos. A partir da conversa foi possível notar que os usuários mais antigos criaram laços com a instituição, com outros usuários e alguns funcionários, o que favorece a inserção social desses indivíduos. Os pacientes demonstram contentamento em participar das atividades propostas por obterem resultados positivos, o que influencia diretamente na adesão.


CONSIDERAÇÕES FINAIS: Ao relatar a experiência de primeiro contato com a saúde mental, observamos que a enfermagem, diante de seus conhecimentos e habilidades profissionais, deve trabalhar com o cliente de acordo com suas necessidades biopsicossociais, além de articular com outros profissionais da saúde no modelo interdisciplinar, buscando encontrar a solução mais adequada para sua condição. Para que desde a sua formação, possa envolver-se em atividades relacionadas à saúde mental. Tornando-se assim, profissionais competentes e de qualidade. Durante o contato com os usuários desse tipo de serviço, foi possível refletir sobre pontos que dificilmente seriam observados caso não existisse um diálogo com cada pessoa envolvida na avaliação. Como por exemplo, observamos as diversas capacidades que cada um possui e que a família, seja por desconhecimento do assunto ou por proteção, acaba limitando esse tipo de pessoa e não oferece a ela ensino regular e não estimula seu desenvolvimento cognitivo no ambiente familiar. Por conseguinte, é necessário salientar que o cuidado a um indivíduo precisa ser dado de forma integral, desde o ambiente familiar até os serviços de saúde; reconhecendo sempre as particularidades de cada ser humano em prol de uma oferta de bem estar físico e mental.

 


Palavras-chave


Saúde Mental; percepção; acadêmicos