Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Desmitologizando a história: reflexões sobre violência epistêmica, proibicionismo e educação em saúde
VITOR ARAÚJO

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


Apresentação

 

A saúde pública – e num contexto maior, as ciências sociais – foram desenvolvidas historicamente sob inúmeros pilares excludentes. A fabricação deste campo científico se deu num contexto europeu de controle dos corpos e disciplinarização das massas pelos Estados. As ciências sociais carregam em sua origem, portanto, estruturas dominadoras que legitimaram uma séria de violências materiais e simbólicas contra diversas pessoas.

Desmitologizando estas legitimações, inúmeros paradigmas científicos recentes vêm contestando a mentalidade por detrás das ciências e dos campos do saber do status quo que construíram e corroboraram violências. O objetivo deste trabalho é discorrer sobre a violência epistêmica, seus efeitos na teoria e na prática da Saúde Pública, utilizando o caso do proibicionismo. Além disto, trazer reflexões para a educação em saúde e para a produção de conhecimento na Saúde Coletiva.

 

Desenvolvimento do trabalho

 

Para tais objetivos, esta pesquisa é qualitativa, analítica e se utilizará de reflexões pós coloniais e sobre micropolítica. A abordagem de autores pós coloniais é de dar poder às vozes oprimidas, às agências locais, que  disputam com a cultura do status quo, para produzir um conhecimento que subverta os pressupostos da episteme que violenta. Podemos falar de contraculturas e contra-discursos, no sentido de serem culturas e discursos outros, que afrontam e deslegitimam o status quo. Como um exemplo adequado deste processo dialético entre violência epistêmica e contra-discursos, está o caso do proibicionismo às drogas.

As raízes da construção do proibicionismo estão, principalmente, na fabricação da doença do vício durante o século XIX. As construções epistêmicas do século XIX que auxiliariam a institucionalização da política proibicionista teve em seus pilares uma lógica subjetiva racista, classista e colonialista. Foi necessária a construção de um imaginário que deturpasse a imagem concebida das pessoas que usam drogas, amparado cientificamente e posto em prática institucionalmente pelo Estado.

 

Resultados:

 

As contraculturas e as contra-narrativas que surgiram das pessoas que usam drogas, dos cientistas sociais, dos defensores da Reforma Psiquiátrica, entre tantos outros, desafiaram a episteme violenta que demonizava o uso de drogas, disputaram terreno cultural e epistemológico com o status quo e isto refletiu-se na construção de imaginários e políticas outras – como a redução de danos e os consultórios na rua, por exemplo.

As proposições pós-coloniais, as etnografias que dão voz aos oprimidos e os estudos sobre micropolítica, todos eles se aproximam ao desmitologizar a episteme que violenta e instaurar na ciência discursos que reflitam a potência de vida dos subalternos. Suas imaginações, agências, performances e vidas produzem modos de existir que disputam com o status quo e é aí que abrem-se caminhos epistemológicos para se produzir um conhecimento genuinamente local, criando meios de dar voz à subalternidade.

 

Considerações finais

 

Tais impactos mostram que tanto a Saúde Coletiva quanto a educação em saúde são campos que precisam ser disputados por e com epistemologias outras, que partam das existências das pessoas, das redes vivas, para apostarem em serviços, práticas e políticas que contemplem a produção de vida.

 


Palavras-chave


violência; episteme; proibicionismo