Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Formação (In)Comum e a Busca de sua Produção: pesquisando sobre residência multiprofissional em saúde.
Georgia Silva Romcy, Cleide Lavieri Martins

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


A promulgação da Constituição Federal de 1988, que institui o Sistema Único de Saúde (SUS) e indica dentre as suas competências a ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde, destaca, pelo menos no que consiste ao campo legislativo, a necessidade de sintonizar a formação dos profissionais de saúde aos princípios de universalidade, integralidade e equidade que doutrinavam, e ainda doutrinam, o sistema que se constituía naquele momento, incorporando a necessidade de trabalhar o conceito ampliado de saúde, destacando-se que essa já era uma demanda discutida anteriormente por alguns grupos. Entretanto, a criação do SUS não significou uma mudança imediata na formação profissional em saúde, tendo em vista que por mais de uma década não foram criadas políticas públicas que ativassem essa transformação, principalmente, em decorrência da movimentada disputa de projetos-políticos nessa área. A criação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), vinculada ao Ministério da Saúde, em 2003, e a instituição da Política Nacional de Educação Permanente (PNEPS), em 2004 (que mantém o nome e o conceito, mas que passa por processos de mudanças ao longo do tempo), são alguns dos marcos de ativação do processo de transformação da formação em saúde no país, sendo esta última uma das principais estratégias de reformulação dos processos de formação em saúde no país, sob a lógica de ponto de interseção entre os campos da educação e da saúde e entre os processos formativos teóricos e práticos, entendendo que formar no cotidiano das práticas abre possibilidade para uma formação que tenha os preceitos do SUS como norteadores. A PNEPS propõe diversas ações, dentre as quais está a Residência Multiprofissional em Saúde, modalidade de pós-graduação lato sensu, de dedicação exclusiva, com duração de dois anos, destinada a todas as categorias profissionais da saúde reconhecidas pelo Conselho Nacional de Saúde, excetuada a medicina (haja vista a resistência da corporação médica em ter outras profissões que se apropriassem da residência) e caracterizada pela multiplicidade de arranjos de seus processos formativos, que promove não só uma articulação entre a formação do profissional de saúde-residente e os profissionais dos serviços, mas que também envolva as demandas da sociedade, as instituições de ensino e a gestão do SUS. Assim, a proposta deste projeto de dissertação de mestrado objetiva compreender como o processo formativo de residência multiprofissional em saúde, está sendo construído e vivenciado, na perspectiva da produção do comum, em dois programas de residência, sendo um de saúde da família e o outro de saúde mental. As constantes problematizações sobre campo e núcleo (o primeiro é um espaço sem delimitações de encontro das disciplinas e o segundo se caracteriza enquanto a identidade de um saber), que permeiam o processo formativo e geram diversas implicações e divergências, propiciam questionar como integrar no campo, no território e no serviço, núcleos profissionais que, historicamente, se constituíram isoladamente, sem haver a construção de um comum entre suas práticas, sob a premissa de que o sujeito, enquanto profissional de saúde, com seus saberes, fazeres e modos de ser, não deve se sobressair, nem tampouco excluir o outro, seja este tanto um profissional de categoria diferente como um usuário do SUS. Problematizar a formação em saúde, portanto, é pensar em um processo pedagógico que seja para além do saber científico aplicado hegemonicamente nas instituições de ensino. Assim, pensar em novos modos de formação significa pensar em novas apostas. Utilizamos, portanto, alguns conceitos-ferramentas para dialogarmos com o que estamos chamando de formação in(comum), são eles: a transversalidade, uma maneira de atravessar, sejam as relações entre as pessoas ou até mesmo entre os conhecimentos, em um processo que nos transporta para além daquilo que está instituído e nos leva a caminhos de construção coletiva, no qual há uma possibilidade a busca por uma unidade, por algo que seja comum dentro da diferença; o trabalho vivo em ato, pois discutir uma formação que se dá na prática significa discutir processos de trabalho em saúde, considerando que os modelos de formação em saúde que apontam para o ensino em serviço estão intrinsecamente envolvidos nisto, ou seja, pensar que os processos de trabalho e, consequentemente, os processos formativos que envolvem a tríade ensino-serviço-comunidade, se dão a partir do trabalho vivo em ato, trabalho este que ocorre no momento em que ele está acontecendo, no momento do encontro; e a produção do comum, pois problematizá-la no campo da formação em saúde também é buscar superar o modo privatizante o qual estamos constantemente sendo capturados, pois discutir a produção de comum na formação em saúde, portanto, é buscar superar as relações de poder que a perspectiva disciplinar e suas derivantes (multidisplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade) acabam por produzir, é buscar compreender uma perspectiva democrática e coletiva que construção de conhecimento, práticas e vidas. Entendendo que o comum não significa igualdade, mas que ele se constitui na diferença. A escolha de método a ser utilizado nesta pesquisa é a cartografia, enquanto uma estratégia de encontro com o(s) outros(s), ao invés da lógica de caminhos produzidos por regras e metas, cartografar aposta na experimentação, na construção de percursos acompanhados dos efeitos que causam no pesquisador, nos sujeitos, no campo e na própria produção da pesquisa e utilizando-se de entrevistas com residentes, preceptores, tutores e coordenadores, da observação participante, acompanhando o cotidiano desses atores nesse processo formativo, em seus mais diversos espaços e da análise de documentos, referentes aos programas de residência multiprofissional em saúde, principalmente, seus Projetos Políticos Pedagógicos (PPP), regimentos e Resoluções das Comissões de Residência Multidisciplinar em Saúde (COREMUs). Os campos de pesquisa foram dois programas vinculados à universidades públicas e a rede de saúde de dois municípios, um localizado no Estado do Paraná e ou no Estado de São Paulo e que tinham como cenários de prática a atenção básica (equipe de saúde da família e núcleo de apoio à saúde da família) e a rede de atenção psicossocial, respectivamente. O principal sujeito de pesquisa é a “equipe-guia”, em cada um dos programas que se constituem como campo desta pesquisa, no qual o processo formativo das residências multiprofissionais em saúde será investigado sob o olhar desses sujeitos, das suas histórias, suas relações, suas escolhas e caminhos.  A “equipe-guia” a qual propomos aqui não se encontra isolada, mas em constante relação com os diversos atores que compõem os programas de residência multiprofissional em saúde. A pesquisa encontra-se no momento em fase de análise dos dados produzidos no campo, que foi realizado durante o ano de 2017.