Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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#NOSOTRAS – PREVENÇÃO COM AUTONOMIA
VANIA ROSELI CORREA DE MELLO, SILVIA ANDREA VIERA ALOIA, LORENI LUCAS

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


A Aids continua sendo um dos problemas de saúde pública de maior magnitude na atualidade, registrando números alarmantes em todo mundo. A resposta brasileira à Aids é destaque no cenário internacional e resulta de ações compartilhadas entre o governo federal, estados, municípios e sociedade civil organizada. A taxa de incidência nacional de HIV/Aids, em 2016, foi de 18,5 casos para cada 100.000 habitantes. Apesar da resposta brasileira à epidemia de Aids ser reconhecida internacionalmente como a ‘melhor do mundo’, sua concentração em alguns segmentos populacionais, aponta a necessidade de se direcionar esforços para a redução das vulnerabilidades. No Rio Grande do Sul essa taxa permanece acima da média nacional, ficando em 31,8 casos para cada 100.000 habitantes. Os coeficientes de detecção continuam indicando Porto Alegre como a capital com o maior número de casos diagnosticados, sendo 65,9 casos por 100.000 habitantes, mais que o dobro da taxa gaúcha e 3,6 vezes maior do que a taxa brasileira. A população com baixa escolaridade é a parcela mais vulnerável ao vírus HIV, especialmente entre as mulheres, o que traz como conseqüência, um número cada vez mais elevado de gestantes HIV positivas e crianças expostas. A Capital gaúcha apresenta o maior número de casos detectados de HIV em gestantes, com 20 casos para cada mil bebês nascidos vivos, quantidade 7,7 vezes maior do que a taxa nacional e 2,2 vezes maior do que a estadual. A mortalidade por Aids vem em queda gradativa desde a universalização da terapia antirretroviral, no entanto, em 2016, Porto Alegre apresentou 22,4 óbitos para cada 100 mil habitantes, 76,7% superior ao coeficiente nacional. Assim, este trabalho consiste no relato de experiência de oficinas de prevenção, promoção e educação sobre a Prevenção Combinada com pessoas de maior vulnerabilidade social para o HIV/Aids, realizadas durante o ano de 2017 nos Distritos Sanitários Humaitá Navegantes, Ilhas (HNI), que pertencem a Gerência Distrital Noroeste, Humaitá, Navegantes e Ilhas (GDNHNI), em Porto Alegre, por iniciativa da Associação de Pessoas Vivendo com HIV/Aids do Rio Grande do Sul (APVHA/RS). O objetivo geral do projeto foi a realização de oficinas de prevenção, promoção e educação em saúde sobre a Prevenção Combinada do HIV, em especial com mulheres, adolescentes/jovens em idade reprodutiva, idosas, vivendo ou não com HIV/Aids por meio da articulação das redes da Saúde, Assistência Social e Educação do território. Entre os objetivos específicos podemos citar: propiciar conhecimento sobre a prevenção combinada em espaços de escuta e diálogo sobre as desigualdades de gênero e seus impactos na prevenção, incentivando o próprio cuidado e mudanças de comportamentos para prevenção do HIV/Aids, IST´s, gravidez indesejada e TV; estimular atitudes assertivas frente à condição sorológica, propiciando o aumento da auto-estima; fortalecer e estreitar o vínculo entre as redes da Saúde, Assistência Social e Educação e usuários; agenciar o reconhecimento dos desafios, oportunidades e estratégias para o enfrentamento da epidemia, contemplando tanto o olhar do usuário como o de trabalhadores e gestores envolvidos; incentivar a testagem para o conhecimento de sorologia com informações adequadas sobre Prevenção Combinada e os fluxos e tratamento existentes; sensibilizar sobre os impactos negativos do estigma e da discriminação, quanto à adesão aos serviços e tratamento das pessoas que vivem com HIV/Aids; incitar a participação cidadã e a realização de advocacy das dificuldades/potencialidades da prevenção do HIV/Aids na região. Realizou-se o levantamento dos dados epidemiológicos dos Distritos Sanitários Humaitá Navegantes e Ilhas (HNI), constantes no Relatório de Gestão (2014-2017), seguidos de reuniões preparatórias com as redes da área da Saúde, Assistência Social e Educação do território para compreender o contexto atual do HIV/Aids na região e o estabelecimento das parcerias necessárias. Os objetivos do projeto foram apresentados e pactuados na Comissão Municipal de Saúde da Mulher do Conselho Municipal de Saúde (CMS), nas Unidades Básicas de Saúde - UBS e Estratégias de Saúde da Família – ESF, na associação de bairro, em uma Escola Municipal de Educação Infantil, com o Programa Ação Rua e no Conselho Distrital de Saúde. As oficinas foram preparadas de acordo com o público a ser alcançado, utilizando metodologias e dinâmicas coerentes com o propósito de debater e desenvolver o tema de forma participativa, envolvendo a todos, de modo que cada participante se sentisse à vontade para falar sobre o que sabia, ou não, a respeito do assunto. A partir das falas e escutas produzidas, foram estimuladas reflexões e diagnósticos da situação de saúde da região, buscando fortalecer a autonomia e participação cidadã. Cada oficina teve a duração de 5 horas e, para assegurar a participação efetiva de todos, foram limitadas a participação de 20 pessoas em cada uma delas. Foram realizadas 8 (oito) oficinas de prevenção combinada, uma oficina de preservativos femininos em atividade alusiva ao outubro Rosa e participação nas ações do dia 1º de Dezembro, realizado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), abordando a prevenção combinada e realizando oficinas de preservativo feminino. Os resultados das oficinas foram apresentados em Plenária do Conselho Municipal de Saúde de Porto Alegre (CMS/POA) e na II Mostra do Controle Social de Porto Alegre. As ações desenvolvidas atingiram diretamente 374 pessoas e, indiretamente, 18.000 pessoas. Dentre os efeitos percebidos cabe destacar o estreitamento do vínculo com a rede de apoio local no reconhecimento dos obstáculos de cada setor e o diálogo aberto na busca de melhorias dos serviços e ações de saúde na região. Foi possível observar também o exercício do direito à saúde por meio do conhecimento e participação nas instâncias de controle social (conselhos locais/distrital, conferências de saúde e comissão de saúde da mulher). A interação com o grupo e as equipes de saúde, assistência e educação, facilitou a discussão sobre as dificuldades de adesão, demandas e problemas de acesso. Os relatos e as trocas de experiências sobre as dificuldades existentes ampliam as possibilidades para maior autonomia sobre seus corpos e as estratégias de enfrentamento das iniquidades de gênero. Apesar de Porto Alegre ter a maior incidência de HIV/Aids do país e a estratégia de prevenção combinada ter sido implantada desde 2013, nos defrontamos com coordenações de UBS/ESF e profissionais que ainda desconhecem a estratégia de prevenção combinada. Nesse sentido, foi necessário estabelecer parcerias com profissionais experientes na temática para qualificar as técnicas da implementação da Prevenção Combinada nos serviços. É importante salientar, a excelente adesão ao projeto por parte dos gestores, equipes e usuárias, assim como, os inúmeros convites e possibilidades de dar continuidade as ações através de chamamento de equipes de outras regiões da cidade.

 


Palavras-chave


HIV/Aids. Prevenção. Autonomia