Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Vivências de prazer e sofrimento de trabalhadores informais na cidade de Manaus/Am
Giselle Maria Menezes da Silva

Última alteração: 2018-01-23

Resumo


O estudo teve por objetivo compreender os mobilizadores de prazer e identificar possíveis agravantes de sofrimento nas atividades laborais de trabalhadores informais na cidade de Manaus/AM. Utilizou-se a metodologia qualitativa, realizando a metanálise dos resultados de duas pesquisas empíricas desenvolvidas nos anos 2010 e 2015. A base teórica dos estudos foi a Psicodinâmica do Trabalho, proposta por Christophe Dejours. As pesquisas adotaram como método de coleta de dados as entrevistas individuais semi-estruturadas com roteiro previamente confeccionado. No que tange à análise de dados, uma das pesquisas utilizou-se da adaptação da sistemática Grounded Theory – Análise de Comparação Constante e a outra fez uso da análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin, com adaptações de Maria Cecília de Souza Minayo (1993). Os participantes das pesquisas abrangeram dez trabalhadores vendedores e outros doze trabalhadores informais em situação de rua usuários dos serviços de Assistência Social. Os resultados apontaram para vivências de prazer marcadas pela flexibilidade da organização do trabalho, reestruturação de laços interpessoais e cooperação entre pares. A flexibilidade, apontada como importante mobilizador de prazer, confere liberdade aos trabalhadores que podem gerenciar seus próprios horários e autonomia para organizar o trabalho da forma que lhes for mais conveniente, sendo, portanto, benéfica ao aparelho psíquico. Já os ganhos nas relações interpessoais dizem respeito aos laços de amizade e cortesia que estabelecem com clientes e outros trabalhadores, sendo a cooperação entre pares evidenciada em situações de ajuda mútua ao realizar determinadas tarefas. Por outro lado, entre os fatores relacionados às vivências de sofrimento estão as condições de trabalho inapropriadas e ausência de direitos trabalhistas e garantias sociais, características de trabalhos informais. Vulnerabilidade à violência, preconceito, estigma, falta de confiança entre alguns moradores de rua e disputa por território foram ainda outros propulsores de sofrimento associados. As condições laborais figuram como mobilizadoras de sofrimento por serem precárias, submetendo os trabalhadores às intempéries climáticas, chuva e altas temperaturas. A violência se identifica através de vivências de medo por serem subjugados, seja pela polícia, seja por outros moradores de rua ou mesmo por outros membros da sociedade. O sofrimento relacionado ao preconceito está evidenciado nos estigmas relacionados aos trabalhadores em situação de rua, cujas imagens estão associadas à de bandidos e malfeitores. Apesar das vivências de sofrimento, o trabalho é apontado pelos trabalhadores como fator imprescindível para que se identifiquem enquanto cidadãos, fortalecendo a identidade e conferindo espaço de reconhecimento social. A flexibilidade no trabalho confere espaços de subversão de sofrimento em prazer, especialmente aos vendedores, que conseguem satisfatoriamente construir estratégias para lidar com o real do trabalho. Embora ainda haja muitas barreiras a serem ultrapassadas pelos trabalhadores informais em situações de rua, os relatos apontam para uma possível fonte substancial de transformação do sofrimento: o reconhecimento e legitimação do valor que esses trabalhadores possuem no âmbito social, sendo resguardados os seus direitos enquanto cidadãos e suas dignidades enquanto seres humanos.


Palavras-chave


Trabalho; vivências de prazer e sofrimento; organização do trabalho; trabalhadores informais.