Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-26
Resumo
Apresentação: A educação popular destaca-se por sua concepção teórica que valoriza o saber do outro, entendendo que o conhecimento é um processo de construção coletiva. A extensão universitária fundamentada na educação popular em saúde proporciona uma integração entre o saber popular e científico com o foco de contribuir para prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, redução de agravos à saúde, promoção da saúde e qualidade de vida, sendo indispensável à aproximação entre os estudantes e a comunidade. As comunidades remanescentes de quilombos estão localizadas em sua maioria em áreas rurais do Nordeste brasileiro, possuem trajetórias históricas próprias com presunção de ancestralidade negra, com costume e relações territoriais especificas marcada pela segregação racial e resistência a opressão. A população quilombola convive com iniquidades sociais e de saúde e encontra na rede de apoio comunitária uma estratégia de resistência e estímulo para enfrentar as dificuldades que lhes são impostas em seu cotidiano, tendo o compartilhamento de experiências e de recursos como ponto fundamental para manutenção da comunidade. A qualidade de vida é uma noção eminentemente humana, uma concepção abrangente e complexa que está fortemente associada com o grau de satisfação encontrada na vida familiar, amorosa, social, ambiental, estética e nível de condicionamento físico. Este trabalho objetiva relatar experiências de um grupo educativo com mulheres quilombolas residentes na zona rural de um município do interior da Bahia. Descrição das Experiências: O grupo Qualidade de vida reúne semanalmente cerca de vinte mulheres de diferentes faixas etárias residentes na comunidade quilombola do Baixão, zona rural de Vitória da Conquista – BA. Os encontros ocorrem no posto de atendimento da unidade de saúde da família e integra as ações do projeto de extensão “ Educação popular na Estratégia de Saúde da Família”. O projeto de extensão universitária é desenvolvido em parceria com a associação de agricultores familiares remanescentes do território quilombola do Baixão e são realizadas atividades de educação popular em saúde, tendo como foco o estimulo a discussão crítica e reflexiva sobre as práticas em saúde e a relação dos dispositivos educacionais e de saúde com a comunidade, a integração ensino-serviço-comunidade e a educação pelo trabalho na formação em saúde. O grupo Qualidade de Vida teve suas atividades iniciadas no mês de julho 2017, é facilitado por estudantes de graduação acompanhados de profissionais de saúde e orientado por docente da universidade. O primeiro encontro teve como tema central a consciência grupal trabalhada através de dinâmicas, além disso foi realizada uma avaliação física e nutricional de todas as participantes, com aferição de medidas antropométricas de peso, altura, circunferência da cintura e quadril e realização de teste físicos (flexões e abdominais) a fim de avaliar a resistência neuromuscular das participantes. As avaliações foram realizadas com a supervisão de uma nutricionista e um estudante de educação física, a maioria das mulheres quilombolas foram diagnosticadas com excesso de peso (sobrepeso ou obesidade) e baixo condicionamento físico, interferência negativas dessas condições na qualidade de vida foram relatadas pelas participantes. Os encontros subsequentes buscaram estimular a discussão crítica e reflexiva sobre as práticas de saúde abordando temas diversos (tipos de alimentos; mudanças alimentares na comunidade; origem dos alimentos; exercícios físicos para serem feitos em casa; técnicas de relaxamento; troca de receitas culinárias; oficinas de artesanatos; conhecimento corporal e saúde da mulher, entre outros) sugeridos pelos facilitadores ou pelas mulheres quilombolas. Essas temáticas relacionadas à melhoria da qualidade de vida e o incentivo à prática de atividade física foram trabalhadas através de rodas de conversas, dinâmicas grupais, caminhadas pela comunidade, aula de ginásticas realizadas na quadra poliesportiva da comunidade, entre outros. Impacto das Experiências: Ao final do ano de 2017, foi possível observar melhorias significativas no condicionamento físico, hábitos alimentares e uma maior integração entre as participantes. As mulheres relataram aumento na disposição para realizar atividades básicas da vida diária, melhorias na autoestima, diminuição de dores musculares e articulares presentes nas integrantes do grupo devido a rotina de trabalho desgastante somado ao sedentarismo apresentado no início das atividades grupais. Na segunda e na terceira avaliação física e nutricional foram observados resultados satisfatórios, principalmente nos testes que avaliam a resistência neuromuscular, como a resistência abdominal e de braços. Além da mudança no estilo de vida, o grupo Qualidade de Vida proporcionou as mulheres quilombolas um espaço de convivência e socialização, o que, associado à credibilidade e confiança conquistada ao longo dos encontros, proporcionou uma inclusão constante de novas integrantes que objetivam troca de conhecimentos para promoção da saúde e qualidade de vida. Destaca-se que o presente grupo surgiu a partir de uma demanda da própria comunidade explanada em uma reunião entre a associação de agricultores familiares do território quilombola e a equipe do projeto de extensão que pretendia inicialmente trabalhar apenas com os adolescentes da comunidade, e que foi solicitado pelas mulheres participantes do grupo Qualidade de Vida que os encontros ocorressem duas vezes na semana, evidenciando a consciência dos quilombolas na necessidade de aquisição de estilo de vida saudável e a carência de orientações sobre hábitos saudáveis destinada a essa população. Além disso, a atuação dos estudantes na comunidade quilombola utilizando a educação popular em saúde proporciona a construção de conhecimentos de forma dialógica através dos saberes compartilhados, constituindo uma base sólida para formação em saúde dos extensionistas, contribuindo em suas futuras atuações profissionais. Considerações Finais: O grupo Qualidade de Vida tem alcançado resultados positivos na promoção de saúde e qualidade de vida na comunidade quilombola do Baixão, evidenciando que a educação popular se constitui um importante instrumento para o desenvolvimento de ações educativas e coletivas por profissionais de saúde. Entretanto, é importante destacar a necessidade de redução da vulnerabilidade socioeconômica e de uma maior atenção à saúde dos quilombolas por parte dos dispositivos de saúde para uma melhor qualidade de vida dessa população. Ademais, o diálogo é essencial para construção das condutas terapêuticas entre, de um lado, a pessoa que conhece intensamente a realidade onde o problema está estabelecido e, de outro, o profissional com conhecimentos científicos sobre a questão, no entanto, para isso é indispensável a aproximação entre esses atores sociais.