Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Educação Popular em Saúde na Atenção à Saúde da Família: Grupo Educativo com Mulheres Quilombolas de uma Área Rural do Interior da Bahia
Etna Kaliane Pereira da Silva, Everton Almeida Sousa, Ícaro Garcia Viana, Daniele Silva Blêsa Novais, Danielle Souto de Medeiros

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Apresentação: A educação popular destaca-se por sua concepção teórica que valoriza o saber do outro, entendendo que o conhecimento é um processo de construção coletiva. A extensão universitária fundamentada na educação popular em saúde proporciona uma integração entre o saber popular e científico com o foco de contribuir para prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, redução de agravos à saúde, promoção da saúde e qualidade de vida, sendo indispensável à aproximação entre os estudantes e a comunidade. As comunidades remanescentes de quilombos estão localizadas em sua maioria em áreas rurais do Nordeste brasileiro, possuem trajetórias históricas próprias com presunção de ancestralidade negra, com costume e relações territoriais especificas marcada pela segregação racial e resistência a opressão. A população quilombola convive com iniquidades sociais e de saúde e encontra na rede de apoio comunitária uma estratégia de resistência e estímulo para enfrentar as dificuldades que lhes são impostas em seu cotidiano, tendo o compartilhamento de experiências e de recursos como ponto fundamental para manutenção da comunidade. A qualidade de vida é uma noção eminentemente humana, uma concepção abrangente e complexa que está fortemente associada com o grau de satisfação encontrada na vida familiar, amorosa, social, ambiental, estética e nível de condicionamento físico. Este trabalho objetiva relatar experiências de um grupo educativo com mulheres quilombolas residentes na zona rural de um município do interior da Bahia. Descrição das Experiências: O grupo Qualidade de vida reúne semanalmente cerca de vinte mulheres de diferentes faixas etárias residentes na comunidade quilombola do Baixão, zona rural de Vitória da Conquista – BA. Os encontros ocorrem no posto de atendimento da unidade de saúde da família e integra as ações do projeto de extensão “ Educação popular na Estratégia de Saúde da Família”. O projeto de extensão universitária é desenvolvido em parceria com a associação de agricultores familiares remanescentes do território quilombola do Baixão e são realizadas atividades de educação popular em saúde, tendo como foco o estimulo a discussão crítica e reflexiva sobre as práticas em saúde e a relação dos dispositivos educacionais e de saúde com a comunidade, a integração ensino-serviço-comunidade e a educação pelo trabalho na formação em saúde. O grupo Qualidade de Vida teve suas atividades iniciadas no mês de julho 2017, é facilitado por estudantes de graduação acompanhados de profissionais de saúde e orientado por docente da universidade. O primeiro encontro teve como tema central a consciência grupal trabalhada através de dinâmicas, além disso foi realizada uma avaliação física e nutricional de todas as participantes, com aferição de medidas antropométricas de peso, altura, circunferência da cintura e quadril e realização de teste físicos (flexões e abdominais) a fim de avaliar a resistência neuromuscular das participantes. As avaliações foram realizadas com a supervisão de uma nutricionista e um estudante de educação física, a maioria das mulheres quilombolas foram diagnosticadas com excesso de peso (sobrepeso ou obesidade) e baixo condicionamento físico, interferência negativas dessas condições na qualidade de vida foram relatadas pelas participantes. Os encontros subsequentes buscaram estimular a discussão crítica e reflexiva sobre as práticas de saúde abordando temas diversos (tipos de alimentos; mudanças alimentares na comunidade; origem dos alimentos; exercícios físicos para serem feitos em casa; técnicas de relaxamento; troca de receitas culinárias; oficinas de artesanatos; conhecimento corporal e saúde da mulher, entre outros) sugeridos pelos facilitadores ou pelas mulheres quilombolas. Essas temáticas relacionadas à melhoria da qualidade de vida e o incentivo à prática de atividade física foram trabalhadas através de rodas de conversas, dinâmicas grupais, caminhadas pela comunidade, aula de ginásticas realizadas na quadra poliesportiva da comunidade, entre outros. Impacto das Experiências: Ao final do ano de 2017, foi possível observar melhorias significativas no condicionamento físico, hábitos alimentares e uma maior integração entre as participantes. As mulheres relataram aumento na disposição para realizar atividades básicas da vida diária, melhorias na autoestima, diminuição de dores musculares e articulares presentes nas integrantes do grupo devido a rotina de trabalho desgastante somado ao sedentarismo apresentado no início das atividades grupais. Na segunda e na terceira avaliação física e nutricional foram observados resultados satisfatórios, principalmente nos testes que avaliam a resistência neuromuscular, como a resistência abdominal e de braços. Além da mudança no estilo de vida, o grupo Qualidade de Vida proporcionou as mulheres quilombolas um espaço de convivência e socialização, o que, associado à credibilidade e confiança conquistada ao longo dos encontros, proporcionou uma inclusão constante de novas integrantes que objetivam troca de conhecimentos para promoção da saúde e qualidade de vida. Destaca-se que o presente grupo surgiu a partir de uma demanda da própria comunidade explanada em uma reunião entre a associação de agricultores familiares do território quilombola e a equipe do projeto de extensão que pretendia inicialmente trabalhar apenas com os adolescentes da comunidade, e que foi solicitado pelas mulheres participantes do grupo Qualidade de Vida que os encontros ocorressem duas vezes na semana, evidenciando a consciência dos quilombolas na necessidade de aquisição de estilo de vida saudável e a carência de orientações sobre hábitos saudáveis destinada a essa população. Além disso, a atuação dos estudantes na comunidade quilombola utilizando a educação popular em saúde proporciona a construção de conhecimentos de forma dialógica através dos saberes compartilhados, constituindo uma base sólida para formação em saúde dos extensionistas, contribuindo em suas futuras atuações profissionais. Considerações Finais: O grupo Qualidade de Vida tem alcançado resultados positivos na promoção de saúde e qualidade de vida na comunidade quilombola do Baixão, evidenciando que a educação popular se constitui um importante instrumento para o desenvolvimento de ações educativas e coletivas por profissionais de saúde. Entretanto, é importante destacar a necessidade de redução da vulnerabilidade socioeconômica e de uma maior atenção à saúde dos quilombolas por parte dos dispositivos de saúde para uma melhor qualidade de vida dessa população. Ademais, o diálogo é essencial para construção das condutas terapêuticas entre, de um lado, a pessoa que conhece intensamente a realidade onde o problema está estabelecido e, de outro, o profissional com conhecimentos científicos sobre a questão, no entanto, para isso é indispensável a aproximação entre esses atores sociais.


Palavras-chave


Educação Popular em Saúde; Saúde Rural; Saúde Quilombola