Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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TRANSVER O MUNDO DAS RESIDÊNCIAS EM SAÚDE
Lorrainy da Cruz Solano, Rosangela Diniz Cavalcante, João Mário Pessoa Júnior, Francisco Arnoldo Nunes de Miranda

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


Esse é um relato de vivências das Residências em Saúde da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte como instituição formadora e a Prefeitura Municipal de Mossoró como instituição executora dos programas de Residência Multiprofissional em Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade e Residência de Medicina de Família e Comunidade. Vivências que tomando emprestadas ideias seminais de Manoel de Barros que pretendem transver o mundo das residências em saúde para além do academicismo, tecnicismo e biologicismo das formações. Com os olhos encardidos de sonhos, um grupo de trabalhadores da secretaria municipal de saúde de Mossoró foi convocado no ano de 2013 para ajudar a reestruturar a Atenção Básica do município. No primeiro momento foram definidas comissões com matrizes de planejamento para serem executadas com metas a curto, médio e longo prazo. Uma das metas era submeter o projeto de Residência Multiprofissional para fortalecer a formação em serviço que tinha como disparador a Residência de Medicina de Família iniciada em 2011 mediante um processo de mudança nos serviços locais. Assim, a busca por professores da universidade que aceitassem participar do projeto foi iniciada, mas como não existia programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica no estado do Rio Grande do Norte foi difícil encontrar parceiros, além de outros motivos, tais como: o edital não previa recursos financeiros adicionais, somente a bolsa do residente; a pró-reitoria da universidade do Estado do Rio Grande do Norte não conhecia o que era residência multiprofissional e não tinha legislação que atendesse ao projeto; os professores não tinham interessem em abraçar o projeto  já que não previa bolsa imediata, entre outros. Após negociação exaustiva conseguimos organizar um projeto pedagógico com apoio dos programas do Ceará (Fortaleza e Sobral) que terminaram sendo nossos matriciadores desde então. Na submissão surgiram outros obstáculos, tais como: necessidade de currículo Lattes dos preceptores que seriam profissionais da secretaria de saúde, já que a maioria dos trabalhadores sequer conhecia a plataforma Lattes, documento da Comissão Permanente de Integração Ensino-Serviço, uma vez que não funciona no Estado. Todos esses desafios serviram de ponte para transpor esses problemas e após submissão da proposta, a mesma foi aprovada no final de 2013. Disaprender foi um exercício fundamental para executar os projetos pedagógicos das Residências. Uma característica singular dos membros dos núcleos docentes estruturantes dos programas consiste em serem profissionais com mais de 10 anos de experiência como trabalhadores da Atenção Básica com ênfase na Estratégia de Saúde da Família. Essa singularidade facilitou o transver, uma vez que a produção dos projetos partiu das necessidades de saúde da população mossoroense, da capacidade instalada da rede de serviços de saúde da cidade e dos problemas identificados como nós críticos dos serviços. Desse modo, a Residência de Medicina de Família refez seu caminho para que fosse possível integrar os programas e permitir uma formação em serviço pautada na integração ensino-serviço-comunidade, aprendizagem significativa, necessidades de saúde e quadrilátero da formação. Refizemos as disciplinas em temas geradores que tem o Arco de Maguerez como eixo estruturante, além de avaliações que permitiram integrar o residente, o grupo e o facilitador. Desse modo, os residentes dos dois programas estão integrados nas vivências teóricas/conceituais e nas vivências territoriais. Ao serem distribuídos nos cenários de aprendizagem são inseridos formando equipes multiprofissionais com os seguintes núcleos: enfermagem, serviço social, nutrição, medicina, odontologia, fisioterapia e psicologia. A definição dos núcleos aconteceu em virtude da disponibilidade de tutores e preceptores para colaborarem com os programas. Há uma necessidade de outros núcleos profissionais como educação física, fonoaudiologia entre outros, mas o número de profissionais da secretaria de saúde e da universidade é insuficiente para permitir a organização das residências. Um esticador de horizontes é o propósito maior dos programas para que seja possível mudar os indicadores de saúde do município, com desdobramentos regionais já que Mossoró é uma cidade pólo do alto oeste potiguar, essencial para desenvolvimento de suas políticas de saúde. Esticar para ver e sentir as mudanças na assistência, gestão, ensino, pesquisas direta ou indiretamente na vida das pessoas, quer sejam usuários, trabalhadores e/ou gestores. A poesia é necessária para manter nossos sonhos frente aos obstáculos que encontramos constantemente nesse caminho de Transver. Algumas nódoas de imagens existem no processo. Uma de grande intensidade são os interesses da gestão municipal que atualmente insiste em tratar os residentes como mão de obra barata para o serviço, desconsiderando todo o processo de confecção dos projetos para alinhar aos interesses políticos partidários da atual gestão. Um exemplo desse fato é a alocação dos residentes em equipes incompletas ou desmembrando as residências, ou seja, residente de medicina de família para cobrir equipe sem médico e residentes da multiprofissional em outras equipes sem dentista ou enfermeiro rompendo com a integração dos programas e utilizando a mão de obra dos residentes. Outras, também de grande importância são invisibilidades que o governo estadual tem para com os programas de residências em saúde, nosso Estado não tem uma CIES (Comissão Integração Ensino-Serviço) organizada, o que consequentemente não entende as residências que existem no estado como parte essencial da política estadual de educação permanente. Em nível federal estamos capengando com essas políticas de desmonte do Sistema Único de Saúde e da Atenção Básica. Outra nódoa que deve ser apontada é o perfil dos profissionais residentes que reproduzem no processo de formação da residência o modelo biomédico. Essa talvez seja o maior de todas, porque tem a força de embotar nossas imagens esticadas no horizonte. De maneira geral, estão nos programas pelo valor da bolsa, desdenham o SUS e menosprezam a Atenção Básica, tenta fazer das vivências territoriais um ambulatório. Outra nódoa é o perfil dos preceptores e tutores que também tendem a reproduzir o modelo biomédico, mesmo alguns sendo professores da universidade, mas ainda não conseguimos mudar esses saberes e fazeres. Portanto, o transver o mundo das residências é uma necessidade existencial para alimentar o movimento de defesa da vida e de fortalecimento do SUS. Sonhamos, vivemos e lutamos por uma Atenção Básica qualificada que possa garantir aos usuários o acesso à rede de serviços, a coordenação do cuidado, a longitudinalidade do cuidado, a orientação centrada na família, a integralidade.


Palavras-chave


Residências em Saúde; formação em serviço; atenção básica