Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Mental Tchê da Resistência: movimento social no protagonismo da luta antimanicomial
Károl Veiga Cabral, Márcio Mariath Belloc, Sandra Maria Sales Fagundes, Maria de Fátima Bueno Fischer, Carla Leão, Larissa Dall'Agnol da Silva, Jéssica Farias Dornellas

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


O presente trabalho é a apresentação da experiência de uma construção coletiva, plural e participativa, encabeçada pelo Fórum Gaúcho de Saúde Mental (FGSM), da manutenção de um importante espaço de debate e fortalecimento da saúde mental, da luta antimanicomial e dos princípios e diretrizes do SUS, atacados na esteira dos retrocessos nas política públicas desde o golpe parlamentar e judiciario de 2016.

O espaço em questão é conhecido como Mental Tchê, um evento anual tradicional da luta antimanicomial do Rio Grande do Sul, cuja participação e transcendência já ultrapassou as fronteiras do estado e do país. Organizado na cidade de São Lourenço do Sul, o evento congrega usuários dos serviços de saúde mental, trabalhadores, gestores, estudantes, familiares, parlamentares, professores e segmentos interessados no tema da saúde e políticas públicas antimanicomiais. Em 2017 seria a 13ª edição, mas a nova gestão municipal recém empossada resolveu não organizá-lo. Justifica tal decisão pela falta de recursos, afirmando que em seu lugar iria promover uma gincana.

Ocorre que o Mental Tchê, mais do que um símbolo da luta antimanicomial, é um dispositivo de reflexão e debate sobre as conquistas e desafios da saúde mental coletiva no estado. Dessa forma, o movimento social tenta negociar a participação do município, solicitando cedência do local, pois todos os outros custos seriam bancados pelos militantes entidades apoiadoras. Com a contínua negativa, o Fórum Gaúcho de Saúde Mental toma para si a tarefa e, com a parceria do Conselho Regional de Psicologia (CRP/07), do Coletivo Gaúcho de Residentes em Saúde, da Associação de Usuários de Serviços de Saúde Mental de Pelotas (Aussmpe) e da Associação Arte e Cultura Nau da Liberdade, faz acontecer na cidade de São Lourenço do Sul o evento que ficou conhecido como Mental Tchê da Resistência.

Cabe mencionar que, há época, não era só a cidade sede do evento que apresentava retrocessos. Desde 2015, a política estadual já era fortalecer o parque manicomial (hospitais psiquiátricos e comunidades terapêuticas). Um embalo no golpe de 2016 que chega ao final de 2017 com a construção de uma política de fortalecimento, a nivel nacional, do mesmo parque manicomial.

Dessa forma, o presente trabalho pretende discutir todo o processo de organização e mobilização da militância da luta antimanicomial e do Sistema Único de Saúde no Rio Grande do Sul, capaz de reativar e fortalecer pólos descentralizados, organizando participativamente um evento com debate técnico, ético e político, com rodas de conversas, com arte, com economia solidária e, principalmente, com produção de alegria e protagonismo cidadão. Antes de tudo um acontecimento que levou cerca de 1.200 pessoas, em um dia de frio e chuvoso, sem nenhuma ajuda governamental, a produzir um encontro cuja potência técnica, política e afetiva ainda se faz sentir quase um ano depois. Seus efeitos são principalmente na organização do participação comunitária, do movimento social, do controle social, para enfrentar os retrocessos que vimos sofrendo em todas as esferas de governo.


Palavras-chave


saúde mental coletiva; luta antimanicomial; movimento social