Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL: Relato de Experiência na Formação Interdisciplinar em Saúde Coletiva
SILVIO ALMEIDA ALMEIDA FERREIRA, SILVIA LETÍCIA GATO COSTA, EVELYN MAYARA SILVA DOS SANTOS, MÁRCIA CHAVES NINA, TATIANE MARA MOTA FREITAS, ZONILCE BRITO VIEIRA, Rui Massato Harayama, WILSON SABINO

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


O Planejamento Estratégico Situacional (PES), visa a participação e valorização em todo o processo, dos diferentes atores que estão interligados diretos ou indiretamente com o território, dispondo em sua composição de diversos passos realizados de maneira participativa. Vem sendo considerada uma ferramenta fundamental em ações voltadas a área da saúde, com destaque para atenção básica. O PES é uma das estratégias educacionais adotadas que integra os conteúdos trabalhados no curso de Bacharelado Interdisciplinar em Saúde (BIS), da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), no componente curricular de Interação na Base Real (IBR), dividido em quatro semestres, com aulas teóricas e práticas, com discentes e docentes, que incluem visitas para levantamento de informações, coleta de dados e interações com as comunidades. O objetivo deste trabalho é relatar as atividades desenvolvidas na formação superior, do planejamento em saúde, para atuação profissional no âmbito da saúde coletiva. Trata-se de um relato de experiência das atividades realizadas dentro do programa da disciplina de IBR. As atividades de campo desenvolveram-se na Comunidade de Irurama, localizada às margens da rodovia Everaldo Martins (PA 457), no trecho Alter do Chão/Santarém/Pará, na Região do Eixo Forte. Contou com a participação, nas etapas do PES, de lideranças da comunidade, de moradores e de Agentes Comunitários de Saúdes (ACS). O processo do PES deu-se em três etapas: a) (Re)Conhecendo a realidade (IBR I e II, calendário acadêmico de 2016): onde realizou-se por meio de visitas a comunidade, um diagnóstico situacional, considerando os aspectos demográficos, epidemiológicos, ambientais, sociais, culturais/tecnológicos, organização política e econômicos. Foi identificado os principais problemas na percepção dos comunitários; b) Priorizando o(s) problema(s) do território (IBR III, calendário acadêmico de 2017): nesta etapa, após debates e discussões entre os comunitários com livre participação, foram elencados os problemas levantados. Para a priorização dos problemas, foram utilizados os critérios: magnitude (afeta a quem?), transcendência (interessa a quem?), vulnerabilidade (tendo recursos, é fácil de resolver?), urgência (se não intervir no problema, há agravamento da situação?) e factibilidade (existem recursos disponíveis pra isso?), com isto, estabeleceu-se valores pontuais para a priorização dos problemas, onde os comunitários utilizaram a “Matriz de Priorização” para pontuar os problemas que posteriormente foram somados, obtendo-se a relação de priorização por ordem decrescente de pontuação, tendo como suporte orientações dos acadêmicos do BIS; c) Explicando o problema: depois de priorizado o problema, partiu-se para a explicação que foi realizada por meio do Diagrama de Ishikawa (Causa e Efeito). Com base no Problema Priorizado, delimitou-se: a Imagem Objetivo, que consiste em onde se quer chegar com a intervenção direta nas causas do problema; os Descritores, que são as evidências do problema na comunidade; as Causas, que diz respeito ao porquê de ocorrer as evidências; e as Consequências, que são o que gera cada descritor dentro da comunidade. E assim, para o conjunto das Consequências, como para o conjunto das Causas, definiu-se ao final, a Causa Convergente e a Consequência Convergente, respectivamente. Mediante os relatos e discussões, foram elencados 12 problemas pelos participantes: Crianças com problemas pulmonares por consequência da poeira; Excesso de velocidade dos veículos na via de acesso à comunidade, causando poeira; Ausência de iluminação pública e falta de manutenção da rede elétrica; Resíduos sólidos nos igarapés e nas vias de acesso da comunidade; Consumo de álcool e outras drogas; Ausência de policiamento; Poluição sonora; Grande demanda para atendimento médico (há um médico que atende 17 comunidades); Ausência de locais para atividades de integração social e cultural para as crianças de 0 a 5 anos; Falta de transporte disponível para as Agentes Comunitários Saúde (ACSs) realizarem as visitas mais distantes dentro da comunidade; Ausência de capacitação para os ACSs da área rural; e Falta de continuidade no ensino para jovens e adultos. Com o resultado da priorização dos problemas foram elencados os dois principais: Insuficiência de Iluminação Pública e Ausência de Capacitação para ACS da Área Rural, respectivamente, para o trabalho com as etapas seguintes. Para o primeiro problema, “Insuficiência de Iluminação Pública”, destacou-se como Descritores: Aglomeração dos jovens para Consumo de Drogas Lícitas e Ilícitas, Insegurança Noturna e Falta de Manutenção da Rede Elétrica; como Imagem Objetivo: Fornecimento de Iluminação Pública de Qualidade, que é aonde se quer chegar ao intervir nas causas do problema e nos descritores, a fim de minimizar os impactos causados pelo problema; para cada um dos descritores elencou-se as possíveis Causas, obteve-se como a Causa Convergente: Ausência de Políticas Públicas Voltadas as Comunidades Rurais – observou-se que há iniquidades relacionadas a efetivação de políticas direcionadas às comunidades rurais, o que interfere em melhorias em diversas áreas que são necessidades básicas; Além das causas, para cada descritor se destacou as Consequências, ou seja, o que gera todas essas problemáticas, se obtendo uma Consequência Convergente: Desconfiguração Sociocultural – observou-se mudanças que vem causando impacto na rotina dos comunitários e nas atividades realizadas, consequentemente alterando a configuração social construída, como por exemplo, muitas atividades noturnas não são mais realizadas, principalmente, por medo de assaltos. Para o segundo problema priorizado “a Falta de Capacitação para os ACS’s da Área Rural” obteve-se como Descritores: falta de formação continuada, ausência de orientação sobre agravos específicos da área rural e inexistência de alinhamento no planejamento das ações para a área rural – evidenciando a carência de ações voltadas a formação continuada desses ACS’s nos agravos e doenças peculiares a realidade rural; como Imagem Objetivo: promover formação para os ACS’s da área rural; com base nestes Descritores e nas suas causas apontadas, obteve-se a Causa Convergente: Planejamento das Políticas de Trabalho das ACS’s inadequados à realidade rural; e para cada descritor, também, foram encontradas as possíveis consequências, chegando assim, a Consequência Convergente: Precarização do Trabalho das ACS`s. Conclui-se que o trabalho realizado jundo aos comunitários, isto sendo, com a participação dos atores envolvidos, é fundamental na execução de um planejamento em saúde, que implica em um processo de despertar o empoderamento de um olhar de organização coletiva em que o PES constitui-se como uma ferramenta poderosa para ser utilizada, pois possibilita um processo de construção na realidade vivenciada e em conjunto com os seus atores, ampliando as possibilidades de realização e sucesso das ações. Percebeu-se, após a participação nestes processos, que é possível executar projetos, compondo novos arranjos organizacionais e institucionais, cooperativos, que privilegiam a interdisciplinaridade na análise de problemas com a participação ativa da comunidade.


Palavras-chave


Planejamento em Saúde; Planejamento Estratégico; Planejamento Participativo; Saúde Coletiva