Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A atuação do sanitarista nos processos de formação: o Projeto de Apoio ao estágio curricular do curso de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília
Ana Carolina Marques Binacett, Claudia Mara Pedrosa

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


O trabalho relata a experiência de atuação do sanitarista nos processos formativos que foi desenvolvida no primeiro semestre de 2017 na Universidade de Brasília, como Apoio ao estágio curricular obrigatório estruturado por sanitaristas egressos do curso e  graduandos no período final do  curso de saúde coletiva. O projeto teve como objetivo qualificar os processos formativos e potencializar a experiência do estágio curricular.

O projeto foi estruturado pela coordenação do estágio em saúde coletiva com intuito de aprimorar a experiência do estágio. O estágio curricular que geralmente inicia no sexto semestre envolve a rede relacional do preceptor (profissional do serviço), professor orientador e coordenador do estágio com o estagiário e tem apresentado vários desafios ao percurso formativo dos estudantes e docentes.   A função de Apoiador, inspirada na proposta de Apoiador Institucional da Política Nacional de Humanização do SUS buscou estudantes que já haviam experienciado o estágio e recém egressos do curso para atuar como articulador nessa relação. O objetivo principal era potencializar a experiência formativa, enfocando os desafios e entraves que são  vividos por alguns estudantes.  O apoiador pautado na sua vivência e no planejamento proposto pela Comissão de Estágio, auxiliava em vários processos, desde a inserção do estagiário no serviço como também apoiando a coordenação na condução metodológica do processo de ensino-aprendizagem junto aos preceptores e professores orientadores. O  estágio obrigatório está organizado em dois semestres, estágio 1 e 2 e a divisão dos 9 apoiadores foi definida de acordo com a complexidade da formação, sendo os graduandos apoiadores dos estudantes do estágio 1, e os sanitaristas egressos do curso apoiaram estudantes que cursavam estágio 2. Os apoiadores tiveram dois momentos de maior atuação durante o semestre. A primeira foi a fase inicial de inserção no serviço. Historicamente esta fase se apresenta com certo grau de dificuldade pelos estudantes de saúde coletiva por se inserirem em serviços no qual a profissão ainda não é conhecida, e os profissionais, inclusive os preceptores, demonstram insegurança nas atividades que podem ser realizadas pelos estagiários do curso. Os campos de prática do estágio concentram-se em sua maioria na Região Leste de Saúde do Distrito Federal, região contratualizada para prática da universidade. O estágio 1 no período diurno consistiu em serviços/gerências da Atenção Básica e Programa de pesquisa, assistência e vigilância à violência (PAV) da Região Leste de Saúde do Distrito Federal, nos quais os estudantes acompanharam as ações cotidianas do serviço/gerência e posteriormente elaboraram projetos com base em questões levantadas pela própria equipe local. Por ser um curso noturno, a coordenação oferece o estágio noturno para estudantes que impossibilitados de realizar a prática durante o dia por conta do trabalho, matriculam-se no estágio noturno que foi realizado no Hospital Universitário de Brasília (HUB). Os estagiários divididos em três grupos - maternidade, emergência e oncologia - elaboraram Itinerários Terapêuticos dos pacientes oriundos da Região Leste com vistas a refletir sobre os achados junto à Diretoria de Atenção Primária da Região Leste de Saúde do Distrito Federal. O estágio 2 teve como campo de prática o HUB, O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e a Diretoria de Atenção Primária à Saúde da Região Leste de Saúde. Após a integração do estudante no serviço e vínculo firmado, a segunda fase consistiu no acompanhamento do processo formativo, por meio das estratégias metodológicas como de leitura e orientação do portfolio em parceria como o docente orientador, no qual cada estudante teve como atividade permanente o registro das percepções, inquietações, sentimentos, angústias, aprendizados, estudos, construção do projeto, na linguagem que desejasse. O portfólio tem sido uma das ferramentas pedagógica utilizadas durante os estágios, devido sua ampla possibilidade de expressão para descrever as atividades realizadas ao longo do semestre. O Apoio procurou potencializar o registro de cada vivência por meio de feedbacks periódicos. Apesar da função Apoio ter tido de forma mais expressiva esses dois momentos, outras atividades também foram desenvolvidas com os estagiários, como discussão de textos e dinâmicas de preparação antes da entrada nos serviços. Neste processo destaca-se uma atividade de simulação de entrevista com estagiários do Hospital Universitário de Brasília que iriam trabalhar com os Itinerários Terapêuticos com intuito de aprimorar as competências atitudinais do grupo. A atividade junto a coordenação do estágio consistiu em simular os diferentes conflitos que poderiam surgir durante a entrevista e quais seriam os mais adequados e/ou menos adequados modos de lidar com a questão. Todo o processo de apoio foi acompanhado e planejado coletivamente com a coordenação de estágio em reuniões quinzenais.

A participação dos sanitaristas egressos do curso e dos graduandos no período final de formação possibilitou  uma olhar avaliativo e a qualificação  dos processos formativos da graduação em Saúde Coletiva da UnB. Ao evidenciar as dificuldades e entraves  para a construção da identidade dos sanitaristas nos serviços e a consolidação das práticas formativas no SUS os apoiadores trouxeram para o debate no espaço da Coordenação de Estágios a necessidade de revisar alguns momentos formativos  previstos no projeto pedagógico do curso que  estavam deixando lacunas   e dificultando o desenvolvimento das atividades dos estudantes nos serviços. Processos metodológicos como técnicas de entrevistas e anamneses  que eram apontados pelos estudantes como incipientes nas práticas, foram inseridos e  exercitados nas atividades com apoiadores. No âmbito da formação docente os apoiadores também contribuíram para ampliar a discussão sobre as demandas que os discentes apresentam na relação estudante-orientador, como a necessidade de utilizar com maior frequência metodologias ativas, e a construção de planos de trabalhos que contemplem as demandas e a identificação do estudante na profissão. Importante destacar que em diversos momentos a mediação de conflitos surgiu como uma prática necessária ao Apoiador tanto na relação estudante-serviço, como estudante-orientador.


O projeto possibilitou evidenciar lacunas na formação do curso e qualificou processos formativos tanto no âmbito da graduação, quanto dos egressos e docentes e abriu novas possibilidades para se pensar a revisão da proposta pedagógica  do curso neste momento da graduação e na inserção dos estudantes em serviços de saúde da atenção primária no Distrito Federal. Os desdobramentos do projeto tem se dado em novos projetos complementares de extensão e formação docente, além da revisão do projeto político pedagógico no  espaço do Núcleo Docente Estruturante.  Espera-se consolidar como prática do sanitarista a função Apoio aos processo formativos, tanto no espaço da graduação , como nos cursos de especialização e atualização profissional.


 



Palavras-chave


Saúde Coletiva; Reformas Curriculares; Educação Interprofissional em Saúde; Políticas Públicas de Saúde; Relações Interprofissionais; Saúde Pública; Trabalho em Saúde; Educação.