Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A visita interdisciplinar no hospital: uma aposta na clínica do sujeito, no trabalho em equipe e na contra hegemonia no cuidado em saúde
Rosana dos Santos Silva, ANDREiA Santos MENDES, Sara Santana Correia, Larissa Malhado de Abreu Novaes, Jercilurze Barros Asevedo Cardoso, Ricardo José Menezes Barberino Mendes

Última alteração: 2018-01-27

Resumo


Este relato de experiência se propõe a estimular a construção de um exercício reflexivo sobre a prática da visita interdisciplinar e sua potência na construção da clínica do sujeito, do trabalho em equipe e da contra hegemonia no cuidado em saúde, através do estudo descritivo da vivência de uma equipe multiprofissional, no Hospital das Clínicas da UFBA. No campo da saúde reconhece-se, cada vez mais, a equipe enquanto um recurso capaz de dar suporte a ações clínicas inovadoras. Todavia, a formação da equipe não se dá de modo automático, faz-se mister construir esse trabalho, o que demanda um exercício permanente de discussão, avaliação das condutas e partilhamento das responsabilidades frente aos usuários e famílias, significando o agir em saúde e o fazer clínico como um trabalho vivo em ato. O conceito de transferência de trabalho, discutido por Lacan, que diz respeito ao trabalho com responsabilidade partilhada, fazendo circular o saber que advém do sujeito e não do profissional, é o pressuposto teórico-epistemológico que norteia a discussão proposta. Criada em dezembro de 2015, a visita interdisciplinar foi construída a partir do reconhecimento pela equipe de referência da enfermaria de cardiologia da necessidade de engendrar mudanças nos modos de cuidar e gerir cuidado, orientando o saber-fazer para lógica sujeito-centrada. Participam da visita: psicóloga, médicos cardiologistas, assistente social, farmacêutica, enfermeiras, nutricionista, fisioterapeuta, residentes multiprofissionais, residentes médicos, estagiários de psicologia e farmácia e internos de medicina. A visita ocorre semanalmente e nesse espaço são discutidos os casos e os projetos terapêuticos singulares dos usuários internados na enfermaria. Entretanto, no cotidiano das visitas algumas questões são permanentes: O que se deve partilhar? O que partilhar mantendo o olhar centrado no usuário? As experiências nas visitas trazem como resultados um horizonte de respostas para estas indagações. Partilha-se os elementos fornecidos pelo sujeito que funcionam como pistas para o tratamento, para o seu projeto terapêutico singular. O objetivo é fazer o sujeito aparecer, um convite sutil para que a equipe possa pensar o caso a partir dos elementos trazidos pela sua narrativa e não pela convergência de saberes múltiplos dos profissionais que terminam por produzir um saber sobre o sujeito. Mas, este convite não se dá sem tensões, uma vez que sua matriz é contra hegemônica no espaço do hospital que tem seus fazeres e práticas orientados pelo paradigma biomédico, cujo objeto é um corpo-organismo. Com a participação nas visitas interdisciplinares foi possível identificar como resultados o impacto das trocas e discussões promovidas nesse espaço no cuidado ofertado aos usuários e na sua implicação no autocuidado, uma vez que todo o plano terapêutico era compartilhado, estruturado a partir das situações singulares e não-previstas que cada caso convocava. Estes achados da experiência permitem considerar que a participação na visita interdisciplinar faz com que nos defrontemos com um campo comum que é a clínica, uma clínica que se tece a partir dos endereçamentos do sujeito para nós e dos efeitos das nossas intervenções. Assim cada um da equipe pode se tornar um parceiro da clínica, a clínica do sujeito.


Palavras-chave


interdisciplinaridade, clínica do sujeito, trabalho em equipe