Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A EXPERIÊNCIA E A SATISFAÇÃO DE PUÉRPERAS QUE TIVERAM PARTOS ASSITIDOS POR ENFERMEIRAS (OS) OBSTÉTRICAS (OS): RESSIGNIFICANDO UM CUIDADO IDEAL
Oracio Carvalho Ribeiro Júnior, Tatiane Silva de Araújo, Geysiane Rocha da Silva, Maria Auxiliadora Pires Pond, Maria Suely de Sousa Pereira, Semírames Cartonilho de Souza Ramos

Última alteração: 2018-02-06

Resumo


Introdução: O ciclo gravídico-puerperal é constituído por uma série de modificações fisiológicas, psicológicas e sociais que permeiam a vida da mulher e as relações desta no seu território. Estas modificações tendem a alterar a percepção da mulher no que diz respeito a sua posição nas relações sociais, principalmente no que diz respeito à interação com os demais membros familiares. Estas alterações são progressivas durante toda e gestação e têm seu clímax por ocasião do trabalho de parto e parto, quando a mulher adentra em uma fase decisiva e de transição para o desempenho do papel de mãe. È um momento de muita instabilidade e que demanda necessariamente um cuidado prestado de forma segura, com características acolhedoras e resolutivas, sem a perda do protagonismo feminino, bem como, livre de violência obstétrica, garantindo o nascimento de uma criança saudável sem prejuízos para a saúde materna. Durante muitos anos os eventos envolvidos no trabalho de parto e parto foram considerados como integrantes do ciclo de vida da mulher, sendo vivenciado em caráter privativo, na maioria das vezes, compartilhado dentro de um contexto feminino, através da partilha de saberes entre as parturientes, assim como na figura das parteiras e outras mulheres que eram inseridas neste ciclo de eventos. Este modelo buscava em cada situação e contexto, reiterar o papel da mulher como protagonista da gestão dos acontecimentos relacionados ao seu organismo durante a geração de um novo ser, sendo secundário o desempenho de papéis dos demais atores inseridos no processo. Este modelo foi progressivamente perdendo espaço a partir de meados do século XVII com a inserção da figura do homem, em especial do médico, como o mais adequado profissional para garantir um parto seguro. Estas mudanças no modelo assistencial foram reforçadas pela invenção do fórceps e a expansão das escolas de medicina, que fizeram um movimento de retirada da autonomia da mulher, com institucionalização da assistência ao ciclo gravídico-puerperal, ao mesmo tempo em que houve um forte questionamento sobre as competências da parteira para acompanhar a assistência obstétrica. Estes acontecimentos deram origem a uma nova fase de assistência obstétrica no Brasil e no mundo, baseada na medicalização do parto e nascimento, com protagonismo do médico. Como resultado deste cenário, tem-se no Brasil, ainda hoje, indicadores de assistência materno-infantil considerados catastróficos, com altas taxas de mortalidade materna e perinatal, elevadas taxas de cesarianas, uso indiscriminado de ocitocina, episiotomia de rotina, dentre outros. Em face deste cenário tecnocrático e medicalizado de assistência obstétrica, vários movimentos vem surgindo no mundo inteiro, inclusive no Brasil, com fortes críticas a este modelo de cuidado, trazendo a máxima de sua não conformidade para se alcançar uma assistência segura e satisfatória para a mulher e seus familiares. Diante disso, seguindo recomendações internacionais, o Ministério da Saúde vem incorporando, desde meados da década de 90, a presença do enfermeiro obstétrico como uma das principais estratégias para a humanização da assistência obstétrica e redução das taxas de cesarianas no país. Neste contexto, a humanização na assistência obstétrica é vista como um conjunto de ações que visam promover um parto e nascimento saudáveis e a prevenção da mortalidade materna e neonatal, com intervenções criteriosas e menor utilização de tecnologias invasivas disponíveis. Além disso, o trabalho de parto e parto despertam na mulher um conjunto de sentimentos muitas vezes desconhecidos, fato que gera grandes expectativas na mesma, requerendo uma assistência baseada em conhecimentos técnico-científicos e que compreenda as percepções e individualidades daquela, tornando o processo mais fisiológico e humanizado possíveis. Nesta perspectiva, o enfermeiro obstétrico figura como um profissional com a assistência distinta, que transmite segurança e respeito à parturiente, conferindo autonomia à mesma, proporcionando um bem-estar físico e emocional, fatores propícios para uma boa evolução do trabalho de parto e parto. Porém, ainda é muito forte a resistência para que este modelo assistencial em obstetrícia possa ser consolidado no Brasil, requerendo entre outras estratégias de enfrentamento, o fazer conhecer o quão positiva é a vivência da parturição acompanhada do enfermeiro obstétrico na perspectiva de humanizar o parto e o nascimento. Assim, este estudo tem por objetivo descrever as experiências e satisfação de puérperas que tiveram o parto assistido por enfermeiro obstétrico em um centro de parto normal na cidade de Manaus, Amazonas.

Métodos: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo documental, com abordagem qualitativa. O cenário de pesquisa foi uma maternidade pública situada na cidade de Manaus, Amazonas, referência em obstetrícia. A maternidade conta com um Centro de Parto Normal Intra-hospitalar (CPNI) onde as parturientes classificadas como de risco habitual são assistidas por enfermeiras (os) obstétricas (os) durante todo o trabalho de parto e parto, através de tecnologias não invasivas. Ao final do parto, as puérperas são convidadas a relatar as experiências com a assistência recebida em um livro próprio do setor. Os dados foram coletados do livro de registro de experiências anteriormente citado. Foram utilizados neste estudo, 12 registros do ano de 2017, segundo critério de saturação de dados. Para a análise dos dados utilizou-se a análise do conteúdo como referencial metodológico. Foram realizadas as seguintes etapas: pré-análise, codificação e categorização, inferência e interpretação dos dados. Neste estudo foram respeitados os princípios da pesquisa com seres humanos preconizados na resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

Resultados: Da pré-análise e codificação emergiram três categorias de análise, a saber: ser parturiente em ambiente de cuidado diferenciado, onde as usuárias reconhecem na própria ambiência do CPNI um fator gerador de qualidade no cuidado realizado por proporcionar individualidade e distanciar o cuidado de um caráter hospitalar; a presença da enfermeira (o) obstétrica (o) como dispensador de cuidados diferenciados, onde as mulheres colocam suas impressões sobre a forma como se dá o cuidado realizado pelo enfermeiro durante o trabalho de parto e parto, buscando implementar cuidados de forma criteriosa, respeitando a feminilidade da mulher e sempre na perspectiva do saber compartilhado que transmite segurança e satisfação em relação ao cuidado recebido; ser parturiente protagonista do processo de parto e nascimento, onde as usuárias reconhecem no cuidado da enfermeira (o) obstétrica (o) a possibilidade de expressarem seus sentimentos, da percepção dolorosa das contrações e da livre movimentação durante o trabalho de parto e parto, além das decisões compartilhadas sobre as ações desenvolvidas.

Considerações Finais: As experiências e satisfação de puérperas em relação a assistência pela enfermeira (o) obstétrica (o) durante o trabalho de parto e parto é representada a partir de um cuidado em ambiente diferenciado, prestado de forma diferenciada pelo enfermeiro e que proporciona à mulher ser protagonista da assistência obstétrica. Estes achados reforçam a importância do papel do enfermeiro obstétrico na assistência ao parto e nascimento, a mesmo tempo que não esgota o tema abordado, uma vez que satisfação e experiências são processos dinâmicos que têm comportamentos mutáveis ao longo do tempo.


Palavras-chave


Enfermagem Obstétrica; Parto Normal; Satisfação do paciente