Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA MORTALIDADE NO MUNICÍPIO DE ALTAMIRA-PA NO PERÍODO DE 2007 a 2016.
Arissia Micaelle Coelho Sousa, Carlos Eduardo Branches de Mesquita, Leoneide Érica Maduro Bouillet, Francileno Sousa Rêgo

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Apresentação: A mortalidade constitui um dos indicadores mais importantes para avaliar os impactos de determinada doença ou causa na saúde de uma população, e, saber o motivo pelo qual os habitantes de um país morrem pode esclarecer justificativas do aumento ou diminuição da longevidade desses em um território. Estudos prévios revelam que a implementação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte atingiu de várias maneiras a população de Altamira-PA, causando impactos socioambientais, populacionais e na saúde pública do município. Assim, o objetivo deste trabalho foi estudar o perfil epidemiológico da mortalidade no município de Altamira-PA no período de 2007 a 2016, visto que houve um crescimento populacional de cerca de 28% entre os anos de 2000 e 2010 sem, no entanto, uma melhora e capacitação da infraestrutura do município. Tal problemática, a exemplo de outras regiões que sofreram o mesmo impacto, evidencia uma relação entre os índices de mortalidade e o inchaço populacional. Portanto, percebeu-se a importância de conhecer o perfil epidemiológico e a variação dos números referentes à mortalidade nos anos antecedentes e subsequentes da explosão demográfica nessa região, bem como estabelecer relações causais a fim de melhor conhecer os impactos sociais na saúde de uma população e prevenir ou amenizá-los posteriormente em situações semelhantes. Desenvolvimento do trabalho: A pesquisa foi de caráter quantitativo, descritivo, retrospectivo, documental e epidemiológico de delineamento longitudinal. As informações foram obtidas a partir do banco de dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), disponibilizado na Divisão de Vigilância em Saúde do município de Altamira-PA, que tem localização na mesorregião do sudoeste paraense com uma área territorial de 159.533,255 km² e possui 99.075 habitantes de acordo com o último Censo feito em 2010. Não foram colhidas informações que permitisse a identificação pessoal, ao contrário, foram coletados dados como tipo de óbito categorizado pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10), data do óbito, idade, sexo, escolaridade, ocupação habitual. Foram incluídas informações de óbitos de pessoas residentes em Altamira-PA ocorridos no período de 2007 a 2016 que estivessem contidas no banco de dados do SIM. Foram excluídas informações acerca de óbitos não ocorridos no período proposto, óbitos de pessoas não residentes no município, e quaisquer dados não provenientes do SIM. O trabalho foi inteiramente pautado na resolução do Conselho Nacional de Saúde 466/2012, através da qual houve proteção ao objeto da pesquisa levando em conta suas particularidades. Foi obtido aval da banca de qualificação da Universidade Estadual do Pará e da Secretaria Municipal de Saúde do município de Altamira-PA para realização da pesquisa, e por meio do termo de compromisso de utilização de dados os pesquisadores se comprometem com a confidencialidade dos dados coletados bem como a privacidade de seus conteúdos. Resultados obtidos: A taxa de mortalidade por 1000 habitantes foi progressivamente crescente de 2007 a 2016, de 4,83 a 6,74, respectivamente, e alcançou valor máximo de 7,46 no ano de 2015, período esse que compreende o surgimento de intensas modificações sociais na cidade decorrentes da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Foram notificados 5876 óbitos de residentes, dos quais a maioria foi decorrente de causas externas com 23,63% (n=1506) – entende-se por óbito por causa externa aquele que é decorrente de lesão causada por violência, seja ela homicídio, suicídio, acidente ou morte suspeita –, que ao longo dos anos experimentaram um crescimento contínuo desde 2008 a 2015 e sofreram leve redução no ano de 2016, seguido por doenças do aparelho circulatório com 19,93% (n=1171), doenças do aparelho respiratório com 9,25% (n=544) e neoplasias com 8,95% (n=526), resultados esses que se configuram como consequência do inchaço populacional de uma cidade sem infraestrutura adequada. Os dados apresentados, no qual houve uma predominância de óbitos por causas externas, sugerem uma relação com o período de construção da hidrelétrica, marcado por paralizações de operários que alegavam falta de condições dignas de trabalho, bem como a ocorrência de acidentes e riscos diários que potencializam o estresse, adoecimento dos trabalhadores e acidentes que contribuem para uma grande demanda do Hospital Municipal São Rafael de Altamira e saturação dos serviços de saúde. Do total, houve prevalência do sexo masculino com 67% (n=3910) em relação ao sexo feminino com 33% (n=1945) dos casos, o qual se atribui a padrões comportamentais e sociais capazes de deixar esse público mais vulnerável tanto a causas externas quanto a doenças sistêmicas que podem se agravar se não forem diagnosticadas e tratadas precocemente. Do total de óbitos do público masculino, 33,83% (n=1.323) foram desencadeadas por causas externas, destacando a relevância dessa causa ao estudo. O maior índice de mortalidade esteve concentrado na faixa etária maior ou igual a 75 anos, causada principalmente por doenças do aparelho circulatório representando 37,05% dos óbitos desse público, destacando o aumento dos óbitos por essa causa à medida do avançar da idade. O grupo compreendido na faixa etária de 15-34 anos concentrou o segundo maior número de óbitos causados principalmente por causas externas, apresentando decréscimo a medida em que se envelhece. Com relação ao grau de escolaridade, o número de óbitos foi maior indivíduos com nenhum grau de instrução com 20,49% (n=1204), sendo esse decrescente a medida em que se aumenta o nível de educação. Tal resultado expõe que a percepção de cada pessoa sobre a sua própria saúde pode estar relacionada aos maiores cuidados consigo mesma, além de que o grau de escolaridade estar agregado ao poder aquisitivo, melhor alimentação e maior acesso aos serviços de saúde. Quanto à ocupação, verificou-se que o número de mortes esteve maior em trabalhadores agropecuários, florestais e da pesca, com 19,26% (n=1132) do total, representando o alto risco de acidente de trabalho nesse setor. Considerações finais: Portanto, o presente estudo, além de servir como forma de problematizar o impacto de grandes obras de infraestrutura na saúde de uma população, fez-se necessário para conhecer a realidade e as particularidades de um município diretamente afetado por uma grande obra como a Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Deste modo, usar o conhecimento, adquirido através do perfil epidemiológico da cidade de Altamira-PA, para prever as consequências que uma cidade diretamente afetada por uma obra desta magnitude poderá sofrer e pode servir como subsídio para o planejamento prévio na construção de uma infraestrutura apropriada para os futuros grandes projetos e também fazer ecoar ainda mais a discussão em torno desse assunto na comunidade científica e na sociedade.

 


Palavras-chave


Mortalidade; Usina Hidrelétrica de Belo Monte;