Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Os Nós Entre Nós: o processo de construção do IV Encontro Cearense de Residências em Saúde
Georgia Silva Romcy, Ana Paula Silveira de Morais Vasconcelos, Pedro Alves Araújo Filho, Dannielle Arruda, Shalana Holanda Varela, Barbara Braz Moreira, Barbara Xavier Andrade, Esequiel Pagnussat

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Enquanto processo formativo, as Residências Multiprofissionais em Saúde (RMS) envolvem um Projeto Político Pedagógico (PPP) que produz identidades aos atores que a compõe, sejam estes residentes, preceptores, tutores e/ou coordenadores de programas. Essa identidade, não generalizada, mas muitas vezes ativada pelos diversos programas hoje implementados nacionalmente, se configura pela militância, em defesa do SUS e de seus princípios, em defesa da educação pública, em defesa da vida. Assim, propomos realizar um relato de experiência sobre o processo de construção do IV Encontro Cearense de Residências em Saúde (IV ECRS), realizado entre os dias 10 e 12 de agosto de 2015, na cidade de Fortaleza. Esse encontro se constrói, principalmente, a partir dos agenciamentos produzidos nos atores que estiveram presentes no IV Encontro Nacional de Residência em Saúde (IV ENRS), realizado em dezembro de 2014, em Recife. Importante falar desse evento, pois um de seus encaminhamentos envolvia a ativação de coletivos nos diversos Estados, que, principalmente, topassem realizar de encontros estaduais e regionais que antecedessem o V Encontro Nacional de Residência em Saúde e, ao tão esperado naquele momento, V Seminário Nacional sobre Residência Multiprofissional e em Área Profissional da Saúde. Assim, a partir das mobilizações produzidas, em 08 de maio de 2015, foi realizada a primeira reunião para reativação do Fórum Cearense de Residências em Saúde (FCRS) e articulação do Encontro Cearense de Residências. Estavam presentes residentes, preceptores, tutores e coordenadores dos programas de residência multiprofissional em saúde existentes no Estado até então (Residência Multiprofissional em Saúde da Família - RMSF/EFSFVS/Sobral; Residência Multiprofissional em Saúde Mental - RMSM/EFSFVS/Sobral; Residência em Enfermagem Obstétrica - MEAC/UFC; Residência Integrada Multiprofissional Em Atenção Hospitalar À Saúde - MEAC/HUWC/UFC; Residência Integrada em Saúde - RIS-ESP/CE), a exceção dos Programas de Residência Multiprofissional em Urgência e Emergência (Santa Casa/INTA/Sobral) e de Residência em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (HUWC/UFC). Realizou-se um resgate histórico sobre o FCRS, que em outros períodos se manteve ativo, bem como sobre os Encontros Estaduais de Residências Multiprofissionais em Saúde até então. Os atores que estavam nessa reunião expuseram as principais questões existentes em seus programas, dentre as quais se destacaram: o desfinanciamento das residências multiprofissionais; ausência de corpo docente (tutores e preceptores); privatização e precarização do SUS; falta de conhecimento sobre o papel do residente pelas entidades executoras; inexistência de política de absorção dos egressos de residência multiprofissionais pelo SUS. Ainda nessa reunião, foi discutido que o objetivo do Encontro seria discutir a sustentabilidade, a qualidade e o fortalecimento das residências multiprofissionais em saúde do Ceará, sendo este posteriormente, o tema do IV ECRS. Além disso, foram propostos os temas a serem discutidos (financiamento; regulamentação das residências; privatização e desafios do SUS; política de educação permanente/residências; terceirização do sus; qualidade (sus/residências); sustentabilidade das residências multiprofissionais em saúde; tutoria e preceptoria), os eixos norteadores (1. Luta contra privatização do SUS; 2. Luta contra precarização do SUS; 3. Luta pelo fortalecimento da Educação Permanente; 4. Fortalecimento político das Residências Multiprofissionais em Saúde) e divididas as comissões de organização (comunicação, financeiro, programação, estrutura, cultural, inscrições e coordenação geral), cada um com suas atribuições delimitadas, o que não impedia que quem estivesse em uma comissão pudesse contribuir em outra. Um dos marcos delimitado desde o inicio de construção deste processo estava no fato de que este era um evento político, sem cunho científico, no sentido acadêmico/de apresentação de trabalho, mas que nele, a grande potência seria de discutirmos, debatermos e fortalecermos as questões que estavam atravessando os programas de residência multiprofissional do Estado do Ceará. Após essa reunião, mais nove reuniões foram realizadas para a organização do IV Encontro Nacional de Residências em Saúde. Ao longo dos meses, várias pessoas compuseram o coletivo, algumas permaneceram até o final, outras foram deixando o projeto, também, não era fácil, conciliar a organização de um evento que estava sendo construído do zero e com poucos apoios às atividades demandas pelas residências e seus cenários de práticas, fossem para os residentes, tutores, preceptores ou coordenadores. As 60 horas semanais e todas as responsabilidades que cada um tinha em suas vidas precisaram ser conciliadas às demandas que iam sendo produzidas em cada uma das comissões, que tinha autonomia para tomarem decisões, sem que, obrigatoriamente, precisassem passar pelo coletivo ampliado. Se o desfinanciamento dos programas de residência multi era uma das pautas de discussão, ele também se fez presente na construção no IV ECRS, que contou somente com o apoio de algumas entidades (sindicatos e conselhos) das categorias profissionais. Se a privatização e a precarização do SUS atravessam o cotidiano do trabalhador, ela também se fez presente na disponibilidade (ou a falta dela) de muitas vezes preceptores, tutores e coordenadores poderem estar participando mais ativamente do processo de construção do evento. Se a falta de conhecimento sobre o papel do residente pelas entidades executoras era uma demanda cotidianamente vivenciada pelos residentes, ela também atravessou, por vezes, a possibilidade de participação de mais residentes no processo de construção do IV ECRS, já que esses eram impedidos, muitas vezes de participarem das reuniões. Entretanto, apesar de todos os contratempos e desafios existentes, foi possível realizar o IV Encontro Cearense de Residências em Saúde, que contou com, aproximadamente, 300 participantes, durante os três dias de evento, que contou com: uma mesa de abertura, com a temática “As residências em Área Profissional da Saúde no atual contexto do SUS”; uma mesa redonda, com o tema “Como fortalecer a estratégia de Educação Permanente no Estado do Ceará?”; cinco Grupos de Trabalho (GTs), com as temáticas “Tutoria e Preceptoria, As residências multiprofissionais no contexto da privatização do SUS, Residências multiprofissionais enquanto estratégia de educação permanente, Fortalecimento político do SUS e das residências multiprofissionais e Inserção no SUS: para que somos formados?”; a Reunião dos Fóruns (Coordenadores; Tutores e Preceptores; e Residentes); as Atividades Culturais, que além de um espaço de mobilização, também cumpria um papel de cuidado; e a Plenária Final, que teve como produto a Carta do Itaperi, um documento produzido coletivamente com todas as potencias, demandas e desafios existentes naquele momento. A Carta do Itaperi ressaltou uma demanda estadual urgente de reconhecimento das Residências em Saúde e da necessidade de inserção de todos os programas do Estado na Política de Educação Permanente Estadual e nos Programas Municipais de Educação Permanente e reafirmou diversos pontos elencados na Carta de Recife, produto do IV ENRS, dentre os quais a regulamentação, reconhecimento e certificação das residências, a necessária não precarização do trabalho do corpo docente-assistencial, dentre outras questões. Assim, relatar a construção do IV Encontro Cearense de Residências em Saúde é contar sobre um processo com desafios e entraves, mas também uma experiência rica e potente, em que o coletivo foi soberano, sem imposições de hierarquias, mas com muito diálogo e respeito. Além da Carta, um dos produtos que esse encontro possibilitou foi a efetiva reativação do Fórum Cearense de Residências em Saúde.