Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-22
Resumo
APRESENTAÇÃO: O trabalho objetiva relatar uma vivência interprofissional realizada por docentes e estudantes, por meio de atividades práticas e estágios curriculares obrigatórios dos cursos de graduação da área da saúde, na Clínica Universitária Regional de Educação e Saúde - Cures. O texto apresenta a caracterização do serviço, as demandas que motivaram a equipe a implementar as ações de Apoio Matricial e os impactos dessas ações junto aos serviços e no processo de formação interprofissional. A Cures, é um serviço-escola (SE), localizado no município de Lajeado, no estado do Rio Grande do Sul, criado e mantido pela Universidade do Vale do Taquari - Univates, instituição de Ensino Superior (IES) comunitária e sem fins lucrativos. Iniciou suas atividades em março de 2011 com docentes, estudantes e supervisores da área da saúde que desenvolvem atividades práticas vinculadas às disciplinas e aos estágios curriculares em interação com as equipes da rede de municípios da região. Atualmente, o serviço agrega os cursos de Biomedicina, Educação Física, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Nutrição, Odontologia, Pedagogia e Psicologia. Cada curso conta com um profissional da área, denominado de supervisor local, que é o responsável pelo acompanhamento das atividades e avaliação dos estudantes e estagiários. O serviço propõe-se a integrar uma rede regional de cuidados do campo da Saúde, da Educação e da Assistência Social dos municípios conveniados com a IES, onde as vivências e intervenções estão baseadas nos princípios da interdisciplinaridade, da integralidade e da intersetorialidade. As ações de cuidado são planejadas e desenvolvidas em parceria com profissionais dos municípios da região, visando de modo simultâneo, os atendimentos às pessoas, a qualificação dos trabalhadores de saúde da rede e a formação interprofissional dos estudantes. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: O SE tem como referência as proposições da ampliação da clínica e a realização de projetos terapêuticos que demandam estudo, abertura para romper com antigos modelos de intervenção e cuidado em saúde. Ao articular as atividades de estágio, como serviços de saúde e educação da rede pública e a proposição da construção conjunta de PTS para os usuários referenciados surgiu o tensionamento interinstitucional em função das diferenças nos modos de organização dos processos de cuidado entre o SE e as equipes da rede. As equipes dos municípios relataram fragilidades e dificuldades para a implementação das ações de cuidado propostas para os usuários. Estas dificuldades eram de relacionamento entre os profissionais, entre as equipes da rede ou relacionadas aos processos de trabalho e à promoção de cuidado. Os relatos dos trabalhadores apontavam que ainda predominava o fazer disciplinar e fragmentado nas ações de cuidado, contrapondo-se às mudanças propostas pelo SUS e pelo SE. Diante deste contexto, a equipe interprofissional da Cures passou a desenvolver ações de apoio matricial (AM) com equipes dos municípios de origem dos usuários referenciados. Uma equipe da CURES, constituída por estudantes/estagiários, sob a orientação e participação de um docente/supervisor formulava uma proposta para a realização de encontros periódicos para o AM, que era apresentada e pactuada com a equipe municipal. O AM é uma ferramenta institucional para promover a interlocução com os profissionais, de modo a horizontalizar as especialidades e trabalhar com a cogestão dos saberes e relações interprofissionais. O início das ações foi precedido pela apresentação da proposta e dos objetivos do AM ao grupo de estagiários do SE. Os estudantes poderiam inscrever-se para compor as equipes ou eram convidados pelos docentes para participar e iniciavam estudos sobre o AM e sobre as demandas e o contexto da equipe que seria apoiada, coordenados por um docente. As atividades de AM foram realizadas entre 2013 e 2015 para equipes de municípios de pequeno porte, que não possuíam equipes de Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). Os encontros com os profissionais dos municípios eram mensais, com datas previamente agendadas e duração média de duas horas cada um. Ao final de cada encontro de AM a equipe do SE reunia-se para relatar as situações vivenciadas e observadas, seguida de debates e problematizações, buscando identificar e compreender o funcionamento, as demandas, necessidades, potencialidades e fragilidades das equipes. Também eram avaliadas as intervenções, sentimentos e desafios para a equipe do SE. As ações de AM foram desenvolvidas com equipes de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), uma equipe de um Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) e uma equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF). Cada uma teve a duração de pelo menos um ano. RESULTADOS: Os encontros oportunizaram a escuta dos trabalhadores, a valorização dos saberes de cada um, a identificação das situações de satisfação e de dificuldades no trabalho e a problematização das situações descritas. A equipe de apoio instigava os profissionais para o reconhecimento de suas potencialidades e responsabilidades com a população e o planejamento e execução de ações de cuidado, por meio de oficinas, rodas de conversa e visitas domiciliares. A partir destes encontros ocorreram algumas mudanças nos processos de trabalho das equipes, que passaram a problematizar e planejar ações de cuidado para alguns usuários que demandavam maior atenção, maior articulação com outros serviços da rede, estabelecendo parcerias e pactuações entre os serviços. No entanto, também ocorreram dificuldades, entre elas, a falta de adesão de alguns profissionais de saúde e a interrupção das atividades de AM, com a mudança de gestão nos municípios. Para as equipes da CURES, as ações proporcionaram aos estudantes que integraram as equipes de AM do SE a possibilidade de interagir com os profissionais das equipes municipais, conhecer os contextos e as demandas e participar do processo de problematização e planejamento de intervenções nos diferentes cenários. As vivências e aprendizagens foram destacadas pelos estudantes e docentes, pela possibilidade de conviver e analisar os desafios que envolvem os processos de gestão e cuidado nos serviços de saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A realização de ações de AM na rede de serviços municipais de saúde mostrou-se uma estratégia potente tanto do ponto de vista pedagógico quanto no tensionamento para a construção de processos de trabalho de cuidado em saúde. Experiências como estas representam avanços na formação de profissionais, que acreditem na importância do trabalho em equipe e da integralidade da atenção no cuidado ao sujeito. O trabalho também reforça o compromisso com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e a responsabilidade da Universidade na formação de profissionais comprometidos com a promoção da saúde e da vida.