Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A equidade em saúde e as diferentes facetas do acesso vivenciado em uma comunidade em vulnerabilidade social
Michelle Kuntz Durand, Ivonete Teresinha Schülter Buss Heidemann

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Apresentação: acesso é um conceito complexo, empregado algumas vezes de maneira confusa e multifacetada. Os diversos enfoques de análise do acesso relacionado aos serviços de saúde demonstram o nível de pluralidade e complexidade do tema, enfatizando o enredamento e imprecisão da temática. Vinculado as suas desigualdades, é descrito como um dos principais problemas a serem enfrentados para que o Sistema Único de Saúde funcione efetivamente, segundo os princípios e diretrizes estabelecidos. Neste sentido, este estudo tem como objetivo discutir o acesso de mulheres de uma comunidade em vulnerabilidade social do sul de Santa Catarina para o alcance da equidade em saúde e a relação com suas diferentes dimensões. Desenvolvimento do trabalho: trata-se de uma pesquisa participativa, com abordagem qualitativa que utilizou como estratégia metodológica o Itinerário de Pesquisa de Paulo Freire que tem como etapas a investigação temática, a codificação e descodificação e o desvelamento crítico, tendo como proposta a participação horizontal e dialógica dos participantes. A investigação dos temas ocorreu durante o desenvolvimento dos Círculos de Cultura no período de abril a junho de 2016 no transcorrer de seis encontros. Teve a participação de dez mulheres maiores de dezoito anos moradoras de uma comunidade quilombola do sul de Santa Catarina. Este estudo foi submetido para apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos sendo aprovado pelo CAAE 53143216.6.0000.0121. Resultados e/ou impactos: ao iniciarmos as discussões com o grupo relacionadas à temática acesso e mobilidade, percebeu-se um pensar ingênuo e “não-reflexivo” frente aos acessos comunitários vivenciados por essa comunidade. Embasados no diálogo, passamos a revisitar um novo e crítico olhar ante às suas realidades. Revelou-se, além da precária mobilidade de transporte, uma deficiência de informações sobre o cuidado de si assim como uma lacuna entre essas mulheres no que se refere à relação com os profissionais da saúde. Dessa forma, o tema gerador acesso na perspectiva de transporte/ mobilidade urbana é desvelado em duas outras dimensões: acesso à informação em saúde e o racismo; profissionais da saúde e o empoderamento das mulheres quilombolas, desvelando a importância do empoderamento comunitário para o alcance da equidade, acessibilidade e Promoção da Saúde. Instiga-se um aprofundamento desta temática, pois se percebe que o constrangimento, insegurança e culpabilidade destas mulheres ao relatarem algumas omissões sobre sua saúde. Por outro lado, é visível o alcance do empoderamento das mesmas ao terem atitudes perante a sua saúde e autocuidado. Embora ainda exista considerável debate sobre o conceito de acesso à informação em saúde, parte da literatura acede que acesso não equivale à simples utilização do serviço e educação em saúde. O acesso tem sido descrito como a oportunidade de utilização dos serviços em circunstâncias que permitam o uso apropriado dos mesmos e auxiliando na avaliação da equidade em saúde. O debate realizado no transcorrer de Círculos de Cultura possibilita aos pesquisadores uma maior proximidade e inter-relação com as participantes, possibilitando uma verdadeira inserção em seus cotidianos e uma leitura pautada ainda na percepção, na empatia e na vivência das rodas. Com isso, na medida em que os encontros foram sendo desenvolvidos e os temas geradores codificados e descodificados, identificou-se déficit relacionado à informação em saúde das participantes somado a um crescente e real interesse do grupo frente as questões relacionadas ao cuidado de si, qualidade de vida, autonomia e Promoção da Saúde, permitindo assim o desvelamento da temática do Acesso e mobilidade. A discriminação por cor e raça, perpetrada na maior parte das vezes de forma velada em virtude das leis que a condenam, determina diferenças enormes no acesso e na assistência nas diferentes esferas sociais, como, por exemplo, na menor oportunidade de escolarização, na justiça, como reflexo da falta de informação e da relação com uma melhor rentabilidade econômica assim como nas condições de moradia e habitação. Neste interim, destaca-se que o preconceito interfere na condição de saúde. O profissional da saúde pode contribuir para amenizar esta realidade contribuindo no empoderamento desta população. Nesta mesma direção, se ratificam a violação multifatorial embasada no racismo, sexismo e condições socioeconômicas e culturais da garantia do acesso universal e equitativo à saúde assim como da utilização dos serviços.  O acesso - utilização dos serviços e insumos de saúde - é condição importante para a manutenção e reestabelecimento da saúde, ainda que não seja o único fator responsável por uma vida saudável e de qualidade. Ao se compreender dificuldade de acesso à informação em saúde e sua relação com as questões raciais desveladas no transcorrer dos Círculos de Cultura, as participantes passam a vislumbrar uma nova necessidade a se buscar. Percebem assim, um maior e crescente interesse em aprender e compreender suas vidas e seus direitos como protagonistas de suas estórias. O acesso referente à mobilidade e a informação em saúde, ainda se fez necessário, por meio dos relatos das participantes, discutir a relação com os profissionais da saúde e o empoderamento das mulheres quilombolas. A relevância desta abordagem para as participantes envolvidas neste estudo fomenta a necessidade de se discutir esta relação e aprofundar a temática. O restrito acesso aos profissionais da saúde ou a ausência de habilidades para utilizar ou questionar frente aos seus anseios, indicam a vulnerabilidade dessas relacionada ao processo de saúde e doença. Frente a isso, a importância da formação é voltada a práticas dialógicas entre os atores envolvidos, apontando a compreensão dos determinantes da saúde bem como o desenvolvimento de ações que resultem em melhoria das condições de vida e de saúde da população e consequente maior responsabilização dos profissionais pelos resultados de suas ações. Desta forma, ações intersetoriais, envolvimento do controle social e escuta as necessidades dos sujeitos devem ser articuladas no contexto, visando constituir compromissos e parcerias para a melhoria das condições do acesso da população aos serviços de saúde. Considerações Finais: o cenário do acesso que remete as múltiplas dimensões da vulnerabilidade da mulher quilombola reforça a importância eminente de estratégias de empoderamento individual e comunitário de forma equitativa e promotora de práticas e discussões que promovam a saúde e qualidade de vida dessas mulheres. Destaca-se a importância de se impulsionar uma consciência cidadã, sobrepujar o conformismo social por meio da emancipação e fortalecimento de sujeitos empoderados e comprometidos e finalmente assim garantir o acesso universal e equitativo como construção e direito de todos.

 

 


Palavras-chave


Equidade no Acesso; Grupo com Ancestrais do Continente Africano; Vulnerabilidade Social