Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Revisão sistemática do suicídio na população LGBT: resultados parciais (e promissores!) de uma revisão da revisão.
Allan Gomes de Lorena, Carolina da Silva Buno, Mariana Cabral Schveitzer

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


O Observatório Nacional da Saúde LGBT da Universidade de Brasília (UnB) em parceria com o Departamento de Apoio a Gestão Estratégica da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde (DAGEP/SGEP/MS) deu início no ano de 2016 as atividades do 1º encontro presencial do Curso de Formação de Multiplicadores/Formadores da Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) com o objetivo de qualificar formadores e multiplicadores para as ações de educação permanente e formação da política LGBT.

Foram selecionados cinquenta candidatos/as entre conselheiros de saúde, lideranças e ativistas LGBT, gestores e trabalhadores do SUS, professores, estudantes e pesquisadores de todo país para participar desta proposta através de edital público, divulgado no site do Observatório de Saúde LGBT da UnB.

Por se tratar de um projeto de “larga escala” em todo o território nacional, o curso de formadores ocorreu na modalidade semipresencial com dois encontros na UnB (setembro e dezembro) e exigiu, ainda, um trabalho de conclusão de curso sobre saúde LGBT em formato de projetos de intervenção tendo em vista a realidade de cada participante nos territórios, regiões de saúde, munícipio ou Estado que estão inseridos no cotidiano.

Sendo assim, no 2º encontro presencial do curso foi apresentado o projeto de intervenção “epidemiologia da violência e suicídio LGBT: introdução, objetivo, método” com a finalidade de identificar causas e perfis das vítimas, bem como, analisar a mortalidade entre os anos de 2015 a 2016 e mapear serviços de saúde no munícipio de São Paulo que atendem e registram casos de violência interpessoal/autoprovocada na população LGBT, resultando em um capítulo de livro a ser publicado pelo Observatório LGBT no sentido de disponibilizar o trabalho de conclusão do curso para usuários, trabalhadores e gestores implicados com a temática do suicídio, das redes de atenção e da gestão do cuidado.

Então, para dar continuidade a questões relativas da implementação da Política Nacional de Saúde LGBT está sendo conduzida uma revisão de revisões sistemáticas com o objetivo de analisar a produção do conhecimento sobre suicídio LGBT.

A revisão sistemática da literatura é uma metodologia de pesquisa qualitativa (podendo ser quantitativo ou quali-quanti) que possibilita fornecer um diálogo sobre as práticas de saúde baseadas em evidências através da identificação, triagem e elegibilidade de estudos primários para apoiar a tomada de decisões sobre determinada situação de saúde com informação técnica e cientifica de qualidade.

Os passos para desenvolver uma revisão sistemática são: definição da pergunta norteadora, definição dos descritores e das bases de dados, coleta e análise dos dados (através do Instrumento de Avaliação Qualitativa e Revisão Crítica e Ferramenta de Extração de Dados do Instituto Joana Briggs).

A elaboração da pergunta norteadora foi feita com base na estratégia PICo do Instituto Joanna Briggs, assim, para os profissionais de saúde e gestores, quais são as causas e perfis das vítimas de suicídio na população LGBT nos serviços de saúde?, sendo, P – profissionais de saúde e gestores, I – as causas e perfis das vítimas de suicídio na população LGBT, Co – serviços de saúde.

A partir da pergunta norteadora foi feita uma primeira aproximação com os Descritores de Ciências da Saúde (DeCS) da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e do Medical Subject Headings (MeSH) do National Center for Biotechnology Information (NCBI) nas bases de dados Pubmed (n=76), Lilacs (n=2), Web of Science (n=14), Science Direct (n=5), Scopus (n=189), CINAHL (n=13), PsycInfo (n=9) e Eric (n=72) com a seguinte estratégia de busca: “suicide AND “systematic review” AND (gay OR lesbian OR bisexual OR transexual OR transgender OR queer)”.

Uma busca inicial limitada no Pubmed foi realizada, seguida de análise das palavras-chave contidas no título e resumo, e dos termos de indexação usados para descrever o artigo. O mesmo procedimento foi utilizado em todas as bases de dados incluindo estudos publicados em inglês, português e espanhol e estudos publicados até 2017. Este período é justificado porque até agora não houve uma revisão da revisão sistemática sobre o tema. Os trabalhos selecionados foram avaliados por dois revisores. Quaisquer divergências que surgiram entre os revisores foram resolvidas por meio de consenso, ou com o auxílio de um terceiro revisor.

A partir da busca nas bases de dados, um total de 380 títulos foi identificado. Destes, 50 não apresentavam resumos, deixando 330 títulos para serem avaliados a partir do título e resumo. Destes, 43 foram identificados para leitura na íntegra.

Os artigos selecionados permitem apontar para uma discussão que o suicídio é um problema de saúde mental coletiva que atinge, principalmente, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas queer (estes e estas, não estão dentro do padrão heteronormativo, não correspondem ao padrão homem e mulher, podem ser “entendidos” como homens sem pênis, mulheres com pênis, bichas travestis, “sapatões” que não são mulheres, bichas que não são homens, trans que não são homens e nem mulheres).

Além disso, os artigos de revisão sistemática falam sobre fatores de risco, adolescência LGBT, identidade de gênero, prevalência e prevenção, cuidado em saúde e outros temas de “intersecção” para compreender o suicídio na perspectiva da epidemiologia, dos direitos humanos, da etno-culturalidade, da teoria psicológica e da construção social do gênero.

Sobre a saúde mental desta população, foi possível identificar que a depressão, a ansiedade, o abuso de substâncias psicoativas e as atitudes autoprovocadas (como o cutting) são fatores de risco para o suicídio levando em consideração que a ideação e a tentativa de suicídio é um problema sete vezes maior na população LGBT do que na população heterossexual.

Como dissemos, os resultados são parciais e promissores porque os estudos de revisão sistemática sobre suicídio LGBT indicam um vasto campo de saberes com múltiplas abordagens para compreender um fenômeno humano tão complexo. Nesse sentido, uma revisão de revisão sistemática sobre o tema é estratégico por sintetizar as evidências cientificas mais relevantes para propor ações, projetos e programas para a promoção da saúde mental e prevenção do suicídio e qualificar a política nacional de saúde LGBT através dos achados desta revisão.


Palavras-chave


suicídio, revisão sistemática, pesquisa qualitativa