Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Imagens do Projeto Redes Virtual: uma história contada por seus atores
juliana maria moura nascimento silva, Fernanda Maria Duarte Severo, Cassia de Andrade Araújo

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


O Projeto “Articulação de rede intersetorial de base territorial para atenção às pessoas em sofrimento decorrente do uso crack, álcool e outras drogas em municípios do programa crack, é possível vencer”, também denominado Projeto Redes, tem como objetivo principal contribuir com a organização e a articulação de redes intersetoriais de atenção ao usuário de álcool, crack e outras drogas. Tem como proposta a utilização de estratégias baseadas em evidências científicas que favoreçam a integração entre as áreas técnicas para a efetivação das políticas públicas, que viabilizem o apoio ao planejamento integrado, monitoramento e avaliação destas políticas, visando o fortalecimento do desenvolvimento da pesquisa, ensino e divulgação sobre a temática, com a incorporação de novas tecnologias.

O Projeto Redes é um desdobramento de ações do Plano integrado de enfrentamento ao Crack e outras drogas[1]. Com vistas à prevenção, tratamento e à reinserção social de usuários e ao enfrentamento do tráfico de crack e outras drogas ilícitas, o programa possui os eixos de Prevenção, Cuidado e Autoridade, que compreendem ações de saúde, assistência social, educação e segurança pública executadas por municípios, estados e União.

O Redes fez parte do cotidiano da rede intersetorial de 54 municípios do Brasil desde o ano de 2014 até o final do ano de 2017. Essa estratégia de articulação intersetorial que envolve serviços da saúde, educação, assistência social, segurança pública, educação e outras políticas locais produziram resultados significativos em diversos territórios, transformando trajetórias de vida de pessoas em situação de vulnerabilidade e agravos decorrentes do abuso de álcool e outras drogas.

A Plataforma Digital Redes Virtual é um ambiente virtual de aprendizagem vinculada ao Redes. Com um conceito de governança colaborativa e intersetorial, trabalha com mediações tecnológicas que potencializam a consolidação dos saberes e intercâmbios de conhecimentos das práticas de cuidado das Redes de Atenção Psicossocial e das Redes Intersetoriais de Álcool e outras Drogas.  Este espaço virtual configura-se como uma ferramenta privilegiada de sistematização dos conteúdos produzidos pelos atores do Projeto Redes, sensibilizando e mobilizando atores estratégicos durante a sua execução, em todo o território nacional.

Ao longo deste tempo muitas experiências significativas foram realizadas a partir do trabalho e dedicação de quem teceu a rede fio a fio. Neste sentido, o questionário “Imagens Redes Virtual” foi uma das estratégias criadas para sistematizar as experiências vivenciadas nos territórios de modo a construir a memória do Projeto Redes.

A aplicação do questionário se deu através do formulário eletrônico do Google Forms, no período de 18 de outubro a 10 de dezembro de 2017. O endereço de acesso ao questionário foi divulgado por e-mail, whatsapp, redes sociais e, de modo particular, pelos interlocutores e articuladores do Redes que estiveram envolvidos na mobilização dos territórios.

O formulário semiestruturado possuía 13 questões. Sete delas traçam o perfil do participante levantando informações sociodemográficas que incluem sexo, município e estado de atuação, instituição a qual pertence, tempo de participação, papel que desempenha no projeto e área de atuação. Outras seis questões foram referentes à percepção sobre a atuação no Projeto Redes. As questões estimularam o compartilhamento de experiências vividas, os aprendizados, as transformações percebidas na dinâmica do trabalho, os desafios vivenciados, pontos positivos e negativos, além de expectativas do que ainda poderia ser feito. Por fim, deixamos um campo aberto onde cada participante pôde complementar as informações livremente enviando materiais diversos como fotos, vídeos, poesias, cordéis, músicas e reflexões para o e-mail institucional (intersetoriais.redes@gmail.com).

O formulário Imagens do Redes Virtual teve uma taxa de retorno de 392 questionários. Destes, sete foram considerados duplicados seguindo critérios de exclusão. Inicialmente, foram selecionados os questionários pelo nome do participante e município, seguido das questões fechadas (tempo de participação, instituição a qual pertence, função que desenvolve no projeto e área de atuação). Os formulários que apresentaram semelhanças nas questões acima citadas foram excluídos da análise. Assim, foram considerados 385 questionários com representação de 52 dos 54 municípios acompanhados pelo projeto.

A escolha pelo instrumento online limitou a participação de atores fundamentais ao Projeto Redes, os usuários. Na tentativa reaver tal prerrogativa, a equipe da Fiocruz realizou uma mobilização nos territórios para o levantamento de vídeos, fotos e demais materiais que resgatassem a riqueza de cada experiência loco-regional. Tiveram ainda algumas visitas em loco da equipe de comunicação da Fiocruz onde foram realizados registros e filmagens de atividades, além de entrevistas com esses atores. Todo o material produzido estará disponível no blog e na plataforma do Redes Virtual.

Os primeiros resultados indicam uma alta taxa de representatividade dos municípios esteve distribuída nas regiões Centro-Oeste (34,3%), Nordeste (23,4%), Norte (22,3%), Sudeste (15,8%) e Sul (4,2%). O levantamento dessas experiências contou com a participação de diversos atores que inclui trabalhadores da rede (52,7%), articuladores de território (13%), gestores locais (11,9%), interlocutores (6,8%), supervisores (3,1%), usuários (0,5%) e outros (11,9%). Os articuladores de territórios, interlocutores e supervisores são colaboradores vinculados ao projeto que desempenham funções distintas de modo a apoiar e fortalecer as estratégias de articulação intersetorial, gestão do conhecimento e empoderamento loco-regional.

O perfil dos participantes é, em sua maioria, mulheres (79,6%) com atuação nas áreas da saúde (39,7%), assistência social (19,7%), educação (17,7%), segurança pública (3,4%) e outros (19,5%). Esse dado demonstra o caráter potencial e inovador da intersetorialidade, característica marcante do projeto, na atenção às pessoas em sofrimento decorrente ao uso de crack, álcool e outras drogas.

O tempo de participação no projeto dos respondentes evidencia que mais da metade dos participantes (64,2%) vivenciaram o Redes há pelo menos seis meses. Desses, 41% dos entrevistados possuem mais de um ano de vivência. É interessante perceber que mesmo as pessoas que participaram do projeto em um curto período, inferior a seis meses (35,8%), também acumularam aprendizados e reflexões acerca das intervenções realizadas nos territórios.

As questões abertas trouxeram uma riqueza dos relatos das experiências com uma multiplicidade tanto de cenário como de atores. As experiências são singulares demonstram uma diversidade aprendizados e significados calcados numa construção coletiva de co-gestão da política sobre drogas e articulação em redes de prevenção, cuidado e reinserção social por meio da criação e/ou fortalecimento regular de instâncias de gestão intersetorial.

O levantamento das experiências do Redes além de ter possibilitado a construção um acervo de memória do projeto, também evidenciou as contribuições e transformações que ocorrem tanto na política sobre abuso de álcool e outras drogas dos municípios como na trajetória de vida das pessoas que dela fizeram parte, tanto no âmbito profissional como pessoal.

O apoio pedagógico, a aprendizagem teórica, a cogestão política, a mediação nas articulações de rede e as interações sociais foram algumas das contribuições que materializaram a passagem do Redes nos municípios. Os relatos realizados por trabalhadores da rede, gestores, usuários e demais atores apontam evidências que o projeto cumpriu um importante papel na construção do cuidado com cidadania, dignidade e respeito às diferenças.

O principal legado que a experiência do Redes deixa nos territórios é que mesmo diante de tantos entraves, a intersetorialidade é um caminho possível e quando ela acontece de forma co-responsável o trabalho em rede pode potencializar novas formas de trabalho com este público no cuidado da rede pública.


[1] Instituído pelo decreto nº 7.179 de 2010 da Presidência da República, lançado pela Presidência da República em dezembro de 2011.


Palavras-chave


Redes; co-gestão; intersetorialidade; relato de experiencias