Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A FRAGMENTAÇÃO NA DIMENSÃO DA LINHA DE CUIDADO
Wirlley Quaresma da Cunha, Ingrid Fabiane Santos da Silva

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Apresentação: A linha de cuidado é tida como a trajetória ou itinerário terapêutico que o usuário deve percorrer no sistema de saúde e, também como uma estratégia para reorganizar a atenção, já que esse fluxo do usuário deve ser orientado a fim de que ele consiga obter os cuidados adequados às suas necessidades. Isto porque as unidades isoladamente apresentam limitações, sejam elas técnicas, de recursos e de pessoal, para resolverem completamente todas as demandas que surgirem, alguns casos extrapolam os seus alcances e, para suprir esta necessidade existe a linha de cuidado e a possibilidade do compartilhamento do cuidado com outros dispositivos do sistema. A linha de cuidado faz parte da mudança da lógica assistencial que considera que a atenção à saúde não se limita aos serviços clínicos. Como prova disto enfatiza-se a incorporação de diversas instituições e setores que não estão diretamente relacionados à assistência na saúde nesta gama de serviços partícipes da produção do cuidado. Dessa forma, os serviços atuariam em um mesmo sentido e de forma complementar, ademais nesta rede de cuidados nenhum dos componentes é tido como substituível, ou seja, em hipótese alguma a responsabilidade pelo usuário deve ser repassada. No entanto, em revisão bibliográfica realizada durante pesquisa de dissertação de mestrado, na qual buscou-se conhecer como a literatura acadêmica da Saúde Coletiva aborda o tema da fragmentação na saúde no âmbito assistencial, percebemos que alguns autores analisados apontam elementos problemáticos no que diz respeito ao trabalho compartilhando na rede, os quais nos detivemos neste trabalho. Desenvolvimento: Trata-se de uma revisão bibliográfica do tipo narrativa. O levantamento foi realizado em setembro de 2016 nas bases de dados MEDLINE, LILACS e SciELO, utilizando as palavras-chave “fragmentação” e “saúde”. Adotamos como critério de seleção: texto integral estar disponível online, ser escrito em língua portuguesa e ter como eixo temático o sistema de saúde brasileiro. Não delimitamos um período específico para as publicações pois buscamos abarcar amplamente as publicações sobre a temática. Ao todo, foram recuperados 249 artigos, sem excluir aqueles comuns a mais de uma base. Depois de realizada a leitura dos títulos e resumos de todos os textos foram excluídos os trabalhos que versavam sobre os serviços de saúde privados, a formação dos profissionais de saúde, a educação em saúde, políticas ou programas oficiais e sistemas de saúde estrangeiros, ficamos assim com uma amostra final de 56 trabalhos. Resultados: Percebemos nesta revisão que a fragmentação na dimensão da linha de cuidado ocorre, sobretudo, pela dificuldade de se estabelecer integração e cooperação entre os cuidados prestados pelos pontos da atenção. Na maioria dos casos relatados a responsabilidade pelo usuário é repassada para outras unidades quando a porta de entrada (serviço pelo qual o indivíduo adentrou no sistema) não consegue dar respostas suficientes, não havendo consequentemente o compartilhamento de responsabilidades pelo usuário. Vale destacar que o cuidado compartilhado na rede não se detém às ações curativas, mesmo assim percebe-se que a doença ainda é central na organização dos processos de trabalho, com fluxos pré-determinados e orientados para serviços e procedimentos (consultas, exames e internação) envolvendo principalmente as instituições de saúde. O indivíduo nessa situação é reconhecido por sua doença e não como sujeito singular, a linha de cuidado enquanto ferramenta de mudança da lógica assistencial deve ter como eixo as necessidades de saúde dos usuários, por isso deve unificar ações preventivas, terapêuticas e de reabilitação. As dificuldades para a efetivação do fluxo de cuidado adequado seriam resultantes principalmente da comunicação deficiente entre os serviços, seja pela ausência de tempo durante expediente para a realização de encontros e reunião para planejamento de ações conjuntas, como pela barreira geográfica que inviabiliza um canal de comunicação permanente. Além disto, os trabalhadores afirmam que outro elemento é a necessidade de superação do paradigma biomédico no âmbito assistencial, já que a linha de cuidado não se coaduna com esta lógica. Observou-se também que a preocupação maior em profissionais de saúde que compõem equipes multiprofissionais é a de garantir um fluxograma de serviços clínicos, porém, a linha de cuidado não deve se restringir a protocolos e fluxos pré-estabelecidos, ela difere dos mecanismos de referência e contrarreferência, apesar de incluí-las, exatamente por permitir a flexibilização na pactuação de fluxo entre os diferentes serviços, reorganizando os processos de trabalho. A extrema burocratização no cuidado na rede pôde ser sentida no controle do fluxo de usuários a partir de centrais de marcação de consulta, as quais seguem regras administrativas e não permitem a possibilidade de alteração pelos serviços. Em alguns casos, as centrais mediam a relação entre equipes de saúde da família e os serviços de outros níveis de complexidade, relação esta que se resume a preenchimento de impressos. Considerações: Constatou-se a necessidade de haver uma maior sincronia entre os serviços para a efetividade da atenção ofertada, implica dizer que deve haver um direcionamento comum, como o próprio termo “linha” parece indicar. A palavra não nos remete neste caso a algo que obedeça a uma lógica retilínea, mas que haja continuidade e confluência dos trabalhos prestados, isto se traduz naquilo que vem sendo chamado de projeto terapêutico comum. A fragmentação na linha de cuidado traz implicações diretas na qualidade da assistência e, consequentemente no atingimento do cuidado integral. Além disso, percebemos um enorme descompasso entre o que fora preconizado no contexto da Reforma Sanitária e o que se visualiza no chamado SUS real, evidenciando que os esforços feitos no sentido da reestruturação no âmbito assistencial e da superação do modelo de atenção fragmentado de viés biomédico ainda não foram suficientes.


Palavras-chave


Fragmentação; Linha de Cuidado; Assistência à saúde.