Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Acessibilidade aos serviços de saúde pela população do campo: a experiência do Assentamento Normandia
FRANCILENE MENEZES DOS SANTOS

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Este trabalho tem como foco analisar as barreiras de acesso à saúde dos (as) trabalhadores (as)  do Assentamento Normandia no município de Caruaru/Pernambuco,foram caracterizadas as condições gerais do assentamento e as ações de saúde desenvolvidas pelo município para atender aos trabalhadores rurais. Os resultados mostram que apesar da rede de serviços, o sistema de saúde do município apresenta dificuldades no desenvolvimento de ações preventivas, de promoção e assistência.

As barreiras organizacionais foram as mais evidenciadas nos discursos, com destaque para a estrutura física e funcionamento da (USF).

As principais barreiras geográficas foram: atravessar a BR 104, a inexistência de passarelas ou viadutos que facilitem a travessia desta BR, a ausência de transporte público e a distância do trajeto até a USF.

A dificuldade de comunicação e diálogo com os assentados foi à principal barreira de comunicação identificada.

Configuram as barreiras financeiras os gastos com o transporte para deslocamento até os serviços de saúde.

Muitas são as barreiras de acesso a saúde para a população do campo e assentada da reforma agrária, iniciar pela barreira geográfica uma vez que os territórios são localizados em lugar de difícil acesso, e a unidade de saúde da família fica numa distancia de  5km,sendo que fica contra o fluxos e tendo que atravessar um BR duplicada de alto fluxos nos dois sentidos muitas vezes tornam inacessíveis os cuidados de saúde para os Assentados,a falta de uma passarela ou faixa de pedestre com semáforo tem causado grandes transtornos e uma sensação constante de insegurança.

Outro fator que impossibilita o acesso aos serviços de saúde é a barreira financeira onde o custo de deslocamento sai caro, o transporte alternativo em horários não regulares e com horário até as 18h00min. Quem não tem recurso não acessa os serviços de saúde, assim o sistema acaba os excluindo.

As barreiras organizacionais são consideradas grandes entraves a começar pela estrutura de funcionamento dos serviços de saúde, a USF de referência do Assentamento segue o formato das unidades urbanas, mesmo sendo uma unidade escola, ela ainda tem uma estrutura frágil pequena não comporta os usuários, cronograma de atividade e os horários de funcionamento não flexível, a forma de organização dos processos de trabalho, a formação dos profissionais é desvinculada da realidade das condições de vida e saúde da população, são despreparada as equipes para lidar com as especificidades da população do campo

As barreiras de informações um problema muito grande justamente por ter falhas, os assentados não ficam sabendo das atividades desenvolvidas na unidade e nos demais serviços de saúde. Essa falta de diálogo não colabora para que o bom entendimento flua regulamente entre unidade e usuários, porque não existe nenhuma metodologia tipo: boletim, programa em rádio, TV, redes sociais, que promova esse vínculo entre usuário e os serviços de saúde para além do agente comunitário de saúde como ele não vai com freqüência no território as informações chegam atrasadas, só no acolhimento não dá pra sanar o problema.

Os resultados deste estudo comprovaram que a principal barreira de acesso aos serviços de saúde enfrentados pelos trabalhadores Assentados é geográfica. Foi apontada a dificuldade de locomoção, quando os mesmos buscam a assistência à saúde, uma vez que a unidade de saúde de referência se encontra numa distância aproximadamente 5 km, localizada no contra fluxo dos veículos que circulam pela BR 104, que, por sua vez é mais um agravante no percurso até a USF Rafael, por ser uma estrada duplicada e não possui nenhum dispositivo de redução de velocidade ou passarela, lombada que proteja os moradores no momento de fazerem a travessia para o outro lado, onde pegam o transporte para chegarem a USF do Rafael.

Se tratando da dificuldade de se deslocar do Assentamento até USF do Rafael, é notável a escassez de transporte público que faça esse trajeto, já que o fluxo maior é contrário ao sentido da unidade, uma vez que o maior movimento é sentido cidade e não para o campo.

É valido ressaltar que um dos aspectos negativos de consenso citado pelos entrevistados na barreira de comunicação é a própria falta de diálogo entre os assentados e a USF do Rafael, os mesmos não têm acesso às informações dos serviços de saúde, e principalmente das atividades desenvolvidas na unidade. Isso faz com que os usuários se distanciam da unidade que deveria ter esse elo, ser referência das famílias a porta dos mesmos na entrada da atenção básica.

Tem que se criar mecanismo que oferte aos trabalhadores rurais o acesso às informações mesmo em território que não tem cobertura de sinal de telefonia, que ultrapasse o momento em que os mesmos se encontrem na unidade na ocasião do acolhimento, porque nem em todas as áreas são cobertas por ACS, como ocorre em algumas que se diz ter cobertura, mas o Agente Comunitário de Saúde não dá conta de cobrir tantas famílias.

O que mais chamou atenção nos relatos da Barreira Financeira nas entrevistas foi o aspecto dos gastos com deslocamento até a unidade de saúde da Família do Rafael como também em outros serviços de saúde. Os Assentados arcam com quatro reais para chegar à USF, os que não têm como arcar com esses valores faz o percurso de 3 km a pé, onde algumas vezes se arrisca pegando um atalho para se chegar até a unidade. Quando se trata de outros serviços os gastos são ainda maiores para os usuários, uma vez que não existe nenhuma política de financiamento para transportar os usuários até os serviços.

Entre os aspectos que configuram a barreira organizacional evidenciada nos discursos dos sujeitos, a estrutura física da USF é pequena para a quantidade de usuários, com sugestão de desmembrar a unidade para que consiga de fato cobrir todos os usuários, uma vez que USF tem mais de 6.000 famílias e a cada dia se expande mais.

No que se refere á ausência de participação dos usuários na organização dos serviços de saúde da USF, nota-se que boa parte dos usuários não tem conhecimento de quanto é importante sua participação na organização da unidade, isso se dá pelo simples fato de que os mesmos não se sentem parte da unidade, eles são tão distanciados que desconhece que deve sim opinar na condução do planejamento e organização da USF.

Assim, pretende-se com a pesquisa auxiliar os gestores municipais e estaduais no aprimoramento das condições de saúde dessa população, levando em consideração o modo de viver e produzir saúde no campo na perspectiva dos/as camponeses/as.

De modo geral as políticas de saúde são voltadas para os problemas dos grandes centros urbanos, esquecendo as peculiaridades das populações do campo, não levam em conta a organização da comunidade a cultura, seus hábitos, suas práticas de vivência e convivência, e as condições socioeconômicas, sendo, portanto insuficiente para resolver as complexidades dos problemas existentes. Um projeto de saúde humanizado fundamentado no conceito ampliado de saúde, tendo como eixo norteador uma saúde preventiva, com profissionais formados a partir de uma educação popular, que os Agentes Comunitários de Saúdes reconheçam seu papel como educador popular da saúde.

 


Palavras-chave


Saúde da população rural. Políticas públicas. Acesso aos Serviços de Saúde.