Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O TERRITÓRIO E A TERRITORIALIZAÇÃO COMO ESPAÇO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE: A EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA EM SAÚDE DA FAMÍLIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
Vanessa de Lima Silva, Josiglês Araújo de Oliveira Júnior, Mauricéa Maria Santana, Waldiney Fellipe Da Silva, Lorenna Brito Ferreira, Paulo Leopoldino da Silva Junior

Última alteração: 2018-04-04

Resumo


As temáticas território e territorialização permeiam as diretrizes organizativas do sistema de saúde brasileiro, principalmente quando se trata da descentralização, regionalização e redes de atenção. E estão claramente explicitas nas diretrizes territorialização, adscrição dos usuários, acessibilidade da atenção básica descritas na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB-2012/2017) que guiam o processo de trabalho na Estratégia de Saúde da Família (ESF) e no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf). Considerando por um lado a importância da apropriação dos territórios para organização do processo de trabalho das equipes da atenção básica na perspectiva do planejamento participativo e uma intervenção resolutiva. E por outro lado, a lacuna formativa dos profissionais de saúde, visto que a temática do território e territorialização não compõem a grade curricular das graduações em saúde, com exceção de algumas graduações que tiveram suas grades curriculares reformuladas recentemente. Compreende-se o momento de inserção dos residentes nos territórios de vinculação como um espaço propício para o desenvolvimento da educação permanente (EP), pois parte da integração ensino-serviço, bem como a formação profissional no ambiente de trabalho. Nesse contexto a educação permanente representa um instrumento fundamental para a capacitação e qualificação dos profissionais, pois objetiva responder às lacunas de conhecimentos e atitudes. Este estudo tem por objetivo descrever o relato de experiência vivenciado na disciplina Território/Territorialização na Saúde: foco na Estratégia de Saúde da Família, do programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família – RMSF da Universidade Federal de Pernambuco, cujo objetivo é oferecer e discutir elementos teóricos e práticos que subsidiem aos residentes e profissionais de saúde, assim como organizar o planejamento do seu processo de trabalho na atenção primária sob a lógica do território vivo. Nesse processo, além dos residentes, participam também os profissionais de saúde, incluindo os agentes comunitários de saúde, tanto nas etapas teóricas como nas etapas práticas. Diante disso, a vinculação dos residentes nas equipes pressupõe a necessidade de apropriação da realidade na perspectiva da construção do projeto de intervenção para os dois anos de inserção nas unidades. Inicialmente é feita uma reunião de acolhimento entre a instituição de ensino e a unidade, com a participação de todos os atores: residentes, tutores (professor da disciplina), profissionais eNasf / eSF e as comunidades de Mangueira e Bongi/ Novo Prado, onde são pactuadas as etapas do processo de territorialização. Os residentes são preceptorados pela eNasf e pela eSF dos respectivos territórios. As etapas do processo subdividem-se em três etapas: qualitativa, quantitativa e cartográfica, na perspectiva de ampliar o olhar para o território contemplando as subcategorias analíticas, sendo elas: a dimensão política, simbólico-subjetiva, física e técnica. A etapa qualitativa é realizada no primeiro mês de inserção dos residentes no território e consiste no processo de construção de vínculos entre os residentes, equipes e comunidades. A análise da dimensão política consiste em caracterizar as relações de poder existentes no território, já na dimensão simbólica subjetiva busca-se conhecer elementos da identidade e pertencimento, as representações simbólicas e culturais da comunidade. A finalidade desta etapa é reconhecer o contexto histórico e contemporâneo de apropriação do território, os elementos da organização política e relações das redes de poder existentes, bem como os atores políticos e as possíveis relações de parcerias. Tudo isso a partir das percepções dos comunitários, buscando identificar o que representa para eles a vivência naquele lugar, a compreensão do processo saúde-doença na concepção deles, o reconhecimento dos principais problemas de saúde e doença, as potencialidades materiais e humanas, e caracterização das redes de solidariedade existentes, assim como os aspectos culturais e religiosos. Também busca-se compreender a expectativa que a população tem a respeito do trabalho da equipe da atenção básica. Desde essa etapa a comunidade é inserida no processo de territorialização refletindo junto aos residentes e equipes envolvidas. Para tanto, utilizam-se como instrumentos: diário de campo, onde são registradas todas as impressões que os residentes e/ou profissionais concebem do território, entrevista semi-estruturada e/ou rodas de conversas com moradores e a aplicação da cartografia participativa onde a comunidade faz o próprio mapa contemplando o sentido e o significado de viver naquele lugar. Na etapa quantitativa, exploram-se os elementos da dimensão técnica, caracterizando o território a partir dos indicadores demográficos, sociais e epidemiológicos. Nela utiliza-se um instrumento elaborado na disciplina de território em saúde que permite uma caracterização rápida do território, onde há a agregação de um elenco mínimo de variáveis que permite compreender as condições de moradia, o uso das edificações, a presença de saneamento básico, a população por faixa etária, as condições referidas de saúde e as prioridades descritas na Política de Atenção Básica, além de algumas variáveis socioeconômicas. Na etapa cartográfica é feita uma interface entre todas as dimensões do território, além da cartografia participativa (elaborada na etapa qualitativa), um mapa síntese é confeccionado. O mapa elaborado apresenta as subdivisões das microáreas dos ACS destacando elementos fixos dos territórios, naturais ou construídos. Sendo eles: ruas, becos, escadarias, edificações, etc., evidenciando no mapa as condições de risco existentes. O mapa mostra também a distribuição espacial das morbidades e condições referidas, assim como riscos e possibilidades por família, obtendo-se uma síntese do território a partir da percepção popular e técnica. Após a realização das três etapas é realizado um planejamento participativo com a presença da comunidade, da instituição de ensino (residentes e tutores), dos profissionais da eSF e eNasf e dos gestores, destacando os problemas prioritários do território e a intervenção para eles. Assim, o processo de trabalho dos residentes e das equipes é organizado a partir da realidade do território. Os resultados obtidos com essa experiência apontam a importância desse processo enquanto um espaço de educação permanente, visto que supre lacunas substanciais da formação e traz um novo significado para o trabalho a partir da ampliação do olhar para as reais necessidades do território. Sob essa ótica, podemos destacar os benefícios advindos desse processo, como a percepção qualitativa da vida no território, sobretudo com a inclusão dos comunitários enquanto sujeitos; a compreensão do território em suas multidimensionalidades; a possibilidade de cruzamento entre as variáveis quantitativas; além de permitir a visualização das condições de vida e saúde da comunidade com a confluência do saber popular e técnico. Um dos impactos mais significativos é o reconhecimento da magnitude do trabalho pelos atores envolvidos, no momento da conclusão do processo a culminância das experiências entre eles reflete numa sensação de prazer coletivo e de um novo sentido para o trabalho. Podemos concluir que a condução do processo de trabalho sob a luz do território vivo pressupõe a escolha de caminhos metodológicos que ampliem a forma de ver e consequentemente de atuar no território e envolvendo a comunidade em todo o processo, inclusive no planejamento participativo. Pois, para além de análise dos bancos de dados, quantificação das informações e conhecimento dos indicadores socioepidemiológicos, é preciso observar, sentir, cheirar os territórios, assim como, ouvir os sujeitos signatários que tornam o território vivo e dinâmico.


Palavras-chave


território; atenção básica; educação permanente.