Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Inovações na atenção a pessoa em sofrimento mental: uma revisão de literatura
Cláudia Mara de Melo Tavares, Américo de Araújo Pastor Junior, Gabriel Rodrigues Vieira

Última alteração: 2018-05-05

Resumo


APRESENTAÇÃO: O cuidado em saúde mental nos serviços públicos de saúde da forma como é abordado hoje é recente. Data da década de 70 o início de uma série de lutas e discussões de trabalhadores da saúde mental, usuários, familiares e outros que levam a formulação de ideias mais libertárias e humanas de cuidado à pessoa em sofrimento mental. Chamamos de Reforma Psiquiátrica o conjunto de transformações da prática, saberes e valores culturais e sociais. A Reforma Psiquiátrica tem contribuído para a efetivação de uma nova política pública de assistência aos pacientes psiquiátricos e a construção de tecnologias de cuidado inovadoras. O processo de Reforma Psiquiátrica ainda está em curso no Brasil e demanda a construção de novos modos de estar diante da pessoa em adoecimento e instituindo práticas inovadoras de inclusão social e desinstitucionalização. Diante de tais afirmações, cabe perguntar: Quais as experiências inovadoras implementadas nos cuidados as pessoas em sofrimento mental são descritas na literatura científica nacional? Essas inovações são congruentes com o processo de reforma psiquiátrica?  As publicações estão de acordo com a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde? Para responder essas questões esta pesquisa tem como objetivo geral identificar as principais inovações no cuidado a pessoa em sofrimento mental nas publicações científicas. Para isso tem como objetivos específicos mostrar o que é inovação em saúde; conhecer as semelhanças e diferenças entre as pesquisas publicadas e categorizar os artigos encontrados de acordo com os itens da subagenda de Saúde Mental de pesquisa em saúde.  DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um trabalho de revisão integrativa de literatura, onde através da sistematização e ordenamento dos resultados é possível sintetizar o conhecimento produzido no período estudado sobre o tema. A seleção da amostra foi realizada através de publicações indexadas na base de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO); LILACS; MEDLINE; BDENF - Enfermagem. Para a seleção do material foram usados os seguintes critérios de inclusão todas as categorias de artigo, com resumos e textos completos disponíveis, publicados em português entre os anos de 2012 a 2017 e contivessem em qualquer índice os seguintes descritores em ciências da saúde (DeCS): Saúde mental, Enfermagem e Inovação – encontrados sete artigos. Enfermagem, Saúde mental e Nova - encontrados 41 artigos. Enfermagem, Saúde Mental e Desinstitucionalização – 37 artigos. Destaca-se a palavra Nova pois esta não se trata de um descritor e sim de uma palavra-chave. Os critérios de exclusão foram de artigos duplicados (30); que estivessem inseridos no cenário hospitalar (dez), teses (12) e artigos que falavam sobre a realidade de outros países (quatro). Foram localizados 85 artigos sendo excluídos 56 e analisados 29 artigos. RESULTADOS: Responderam ao critério de inclusão e exclusão 29 artigos.  É válido destacar que a base de dados Scielo quando acessada através do endereço <www.scielo.br> apresentou artigos em quantidade inferior quando acessada através do endereço <http://search.scielo.org/>. Foram utilizados os artigos encontrados através do último. Este trabalho voltou o seu olhar para a categoria profissional de Enfermagem, no entanto, grande parte dos artigos encontrados têm como direção o trabalho multiprofissional.  O trabalho multiprofissional apareceu em 62% das publicações (N=18) enquanto artigos que mostram o cuidado exercido exclusivamente pela equipe de enfermagem correspondem a 31% (N=9) e apenas dois artigos (7%) não se referem a nenhuma categoria profissional. A interdisciplinaridade exercida pela equipe multiprofissional é uma proposta de superação do modelo manicomial podendo levar a processos criativos e mudanças efetivas nos serviços. Uma grande quantidade das referências encontradas se refere à equipe multiprofissional, mostrando que essa estratégia é amplamente adotada pelos serviços substitutivos. O processo de trabalho além de multiprofissional acontece também de forma intersetorial, envolvendo diferentes serviços. A portaria ministerial 3088/2011 é quem institui a rede de atenção psicossocial (RAPS) no SUS e estabelece as diretrizes, os objetivos e os componentes da rede.  Condizente com as inovações no cuidado a portaria tem como uma de suas diretrizes a “diversificação das estratégias de cuidado” que podem acontecer nos diversos serviços que compõe a RAPS, como os Centros de apoio psicossocial (CAPS); Residências Terapêuticas (RTs), Equipes de consultório na rua; Centros de Convivência; Unidades de Acolhimento; Leitos psiquiátricos em hospitais geral e outros. A inovação no campo da saúde mental pode ser considerada como um processo capaz de potencializar o surgimento de modos novos de interação, saberes e práticas e a superação do modelo anterior, manicomial. Pensando-se inovação sob esta ótica é possível localizar algumas práticas inovadoras nos artigos encontrados. Como o cuidado no território, práticas que indicam a inclusão do usuário na sociedade e na vida familiar, que favoreçam a autonomia do sujeito, que trabalhem em rede intersetorial, a inclusão da família no cuidado do usuário, práticas que incluíssem terapias alternativas, práticas que incorporassem a economia solidária, estimulando o empreendedorismo dos usuários e a autonomia do sujeito e para além das práticas com o usuário e sua família também foram encontradas práticas de educação comunitária sobre saúde mental. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Após a análise dos artigos é possível concluir que processos inovadores de atenção a pessoa em sofrimento mental são elaborados diariamente nas práticas de cuidado fora do cenário hospitalar. Entendendo a inovação em saúde mental como a superação do modelo anterior é possível comparar ao modelo hospitalocêntrico, asilar, voltado para o modelo biomédico de cuidado e a atenção psicossocial, com o cuidado no território, uma perspectiva mais ampla do processo saúde-doença, onde esta última potencializa as práticas inovadoras. Essas práticas inovadoras não são somente por estar em um lugar ideológico diferente, mas por ser uma prática diferente, de reconstrução do modelo assistencial, inserida no processo, em curso, de reforma psiquiátrica, o que favorece a constante reflexão sobre a própria prática profissional. A maioria dos cuidados considerados como inovadores neste trabalho deveriam fazer parte do cotidiano das RAPS. Trabalhar na lógica de território, por exemplo, é um dos princípios organizativos do SUS, no entanto, entra aqui como uma inovação pois nos serviços hospitalocêntricos não acontecia. A inclusão do usuário na sociedade é um dos objetivos principais da atenção psicossocial, mas é abordado aqui como uma inovação pois é uma lógica diferente do modelo anterior, de exclusão, de encarceramento.

 


Palavras-chave


Inovação; Saúde Mental; Desinstitucionalização