Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Os fazeres e saberes dos Agentes Comunitários de Saúde que são objeto do ensino-aprendizagem de estudantes de graduação.
Dara Felipe, Paulette Albuquerque, Paulette Albuquerque, Paulette Albuquerque

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Apresentação: Nas últimas décadas vem ocorrendo reformas nas graduações da saúde, induzindo maior aproximação entre os espaços de trabalho e educação com o intuito de vencer a pouca ou nenhuma conexão com o mundo real e a experiência vivida, o silêncio acerca da prática multiprofissional e interdisciplinar e a carência de projetos para superação da fragmentação do cuidado em saúde. No processo de mudança do modelo de atenção à saúde a Atenção Primária em Saúde (APS) apresenta-se como estratégica. Torna necessária novas competências, implica um fazer sustentado em uma nova ética, outra postura assistencial na atuação individual, no trabalho em equipe, com as famílias, com a comunidade e para o planejamento do trabalho. Nesse sentido, a rede básica de saúde é um campo de prática potencial e necessário. Contudo, migrar o ensino para a Atenção Básica (AB) não significa, automaticamente, migrar para um novo paradigma. Frequentemente, a AB reproduz o modelo de cuidado dos serviços especializados, mesmo tendo como indicação a ampliação do escopo das práticas. Evidencia-se o contraste entre a ênfase na consulta clínica e a integralidade das ações propostas pela APS. A inserção dos estudantes nos cenários de aprendizagem pouco interroga as relações verticais e reducionistas que em geral marcam a aproximação entre profissionais de saúde e usuários. Diante do exposto, a equipe de Saúde da Família, com destaque para os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), são atores fundamentais no fortalecimento da APS na relação ensino-serviço. É possível classificar o fazer dos agentes comunitários de saúde em dois eixos: técnico e político. O eixo técnico está relacionado ao atendimento de indivíduos e famílias, ao monitoramento de grupos ou de problemas específicos e à intervenção e orientação para a prevenção de agravos. O segundo, político, compreende a inserção da saúde no contexto mais geral de vida, destacando-se a discussão desse contexto e a organização da comunidade no sentido de transformá-lo. A ação do ACS exige, por um lado, a utilização de tecnologia simplificada no controle da doença. Por outro, exige um conhecimento bastante complexo para acompanhar indivíduos e grupos, no âmbito da identificação de risco ambiental, da promoção da saúde e da prevenção de doenças prevalentes. Este deve ser habilitado a identificar problemas que têm impacto sobre a saúde e o bem-estar da comunidade e a conhecer os recursos necessários para sustentar sua ação e atuação, de forma criativa e autônoma. Assim, buscou-se identificar quais são os elementos da prática dos ACS que são objeto de ensino aprendizagem dos estudantes relacionando as competências do trabalho desses profissionais com as previstas na formação de duas categorias profissionais (médicos e sanitaristas- graduação).

Desenvolvimento do trabalho: A pesquisa se localizou no campo dos estudos qualitativos tendo como referencial teórico metodológico as práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano. Teve como campo de produção de sentido o território de três Distritos Sanitários de Recife e dois cursos de graduação em saúde (medicina e saúde coletiva) da Universidade de Pernambuco – UPE. Foram realizados três grupos com os ACS, e entrevistas com docentes e estudantes, bem como analisados os currículos e outros instrumentos pedagógicos.

Resultados: São nos primeiros períodos que a integração dos estudantes com os agentes comunitários de saúde ocorre de maneira sistemática. O primeiro ano do curso médico tem como tema principal a Promoção à Saúde nos cenários de aprendizagem dos territórios das Unidades Básicas de Saúde - UBS. O primeiro período do curso de saúde coletiva tem o propósito de introduzir o estudante no campo da Saúde Coletiva, a partir da visão do Território Sanitário, cujo olhar dirige-se para a complexidade da vida familiar, tendo por objetivo a produção de um Diagnóstico Sociossanitário. Nesses momentos os ACS são a referência ou responsáveis pela inserção dos estudantes, sendo a figura de mediação das aprendizagens ocorridas. Os estudantes retornam ao território da AB nos últimos semestres, quando não tem o ACS como responsáveis pela supervisão, sendo essa realizada pelo profissional de nível superior correspondente. Foram identificadas as seguintes atividades realizadas pelos estudantes de medicina e saúde coletiva nos primeiros semestres quando ficam sob a supervisão dos ACS: Observação do território e das condições de vida, saúde e aspectos socioambientais; Levantamento de dados do prontuário; Visita às famílias que estejam sendo acompanhadas pelas equipes de saúde; Atividade de comunicação-educação em saúde;Identificação dos Equipamentos Sociais; Identificação das condições sociossanitária da família e do domicílio. O acompanhamento dos estudantes pelos ACS tem por objetivo aproximá-los do território.  É no contato com os ACS que estudantes têm acesso às famílias e suas compreensões quanto às condições de saúde do território.  O conhecimento do território é de grande relevância para o desenvolvimento da integralidade, apontando para o desenvolvimento de ações de prevenção de promoção da saúde e educação em saúde. Foi destacado que os aprendizados dos estudantes a partir do contato com os ACS são de diferentes ordens: questões éticas e do comportamento junto à comunidade, aspectos comunicativos e os aspetos técnicos do cuidado em saúde. No primeiro campo estão situadas o respeito às práticas e aos modos de vida da comunidade, bem como o comportamento que os profissionais devem ter de respeito aos comunitários e discrição. Quanto aos processos de comunicação, trata da abordagem às famílias e a maneira de transmitir informação. Os aspectos técnicos dizem respeito ao acompanhamento e intervenções realizadas pelos Agentes Comunitários de Saúde e a Equipe de Saúde da Família. Visando sistematizar os aprendizados os dos estudantes a partir das experiência nos territórios da Atenção Básica junto aos ACS, foram organizados cinco eixos: Leitura do território garantindo a aproximação com os determinantes e condicionantes do processo saúde- doença; Educação em Saúde; Acolhimento e vínculo. O comportamento junto à comunidade, destacando os aspectos comunicativos da interação. O cuidado ampliado. Identificou-se que esses eixos estão previstos nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Medicina e Saúde Coletiva, relacionados às competências a serem desenvolvidas durante a formação profissional desses estudantes. Destaca-se também que tais saberes referem-se às seguintes competências dos  ACS, conforme definido no Perfil de Competências Profissionais do Agente Comunitário de Saúde: promoção  da  saúde;  planejamento  e  avaliação;  e integração da equipe de saúde com a população local.

Considerações finais: Os cursos investigados propiciam a inserção dos estudantes na atenção primária em dois momentos (primeiros e últimos semestres). Nos demais semestres os estudantes deslocam seu cenário de aprendizagem da atenção primária para os demais níveis de atenção da rede de saúde, Tal perspectiva indica uma não valorização da Atenção Básica como espaço estratégico para a formação, indicando uma visão ainda fragmentada e hierarquizada do cuidado em saúde. Destaca-se também o fato de que os ACS são referência dos estudantes apenas nos primeiros anos, sendo indicado uma desvalorização de seus saberes a medida que o processo de profissionalização se desenvolve. Contudo, é destacado a relevância do contato com os ACS na formação, vê-se a potência  desses  profissionais  para  ampliar o  cuidado  a  ser  ofertado,  inserindo  aspectos  sociais  e culturais.  Destaca-se que tais aprendizados já estão previstos nas Diretrizes Curriculares indicando a necessidade de reconhecimento e maior institucionalização de estratégias que favoreceram esse desenvolvimento, como é o caso da interação com os ACS.

Palavras-chave


Formação de profissionais na saúde;Agentes Comunitários de Saúde;Integração-ensino-serviço-comunidade