Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-25
Resumo
INTRODUÇÃO
As feridas crônicas, atualmente chamadas de feridas complexas são consideradas problema de saúde pública. A assistência de enfermagem aos cuidados de feridas necessita de atenção especial dos profissionais de saúde, destacando a enfermagem na ânsia de novos conhecimentos para fundamentar a sua prática.
Durante muito tempo, a Enfermagem prestou o cuidado de prevenção e tratamento de lesões de pele baseando-se apenas em mitos e tradições, o que levou à repetição das ações sem questionar a validade e eficácia das mesmas, isso induziu ao descrédito dos profissionais de enfermagem. Atualmente vive-se em outro cenário, onde os enfermeiros demonstram maior interesse na inclusão da fundamentação científica em sua prática, o que aumentou o número de pesquisas nessa área. Esse progresso da Enfermagem no tratamento de feridas tem sido mais evidente nas últimas décadas por conta do surgimento da disciplina de estomaterapia e dos avanços em pesquisas cientificas que, além de um aperfeiçoamento nas práxis, acarretam em avanços tecnológicos.
Estomaterapia é a ciência que tem por especificidade o cuidado a pessoas portadoras de lesões de pele, estomizadas e com incontinência anal e/ou urinária, sendo o enfermeiro o protagonista dessa ação, o que exige um profissional qualificado, adequadamente habilitado e competente.
A disciplina de estomaterapia tem uma importância ímpar na formação do acadêmico de enfermagem, já que uma de suas competências, além dos tratamentos de feridas e ostomias, é o de prevenção a lesões por pressão, algo recorrente em pacientes com longos períodos de internação e com déficit em suas funcionalidades. A relação teoria-prática tem um papel singular, uma vez que os acadêmicos podem pôr em prática as orientações recebidas em sala de aula. A pratica, sob supervisão, produz no aluno um pensamento crítico e reflexivo a cerca do método correto e eficaz de se utilizar em um determinado tratamento, além de aproxima-lo de novas técnicas e tendências benéficas.Esta aproximação tende a ser potencializada através de metodologias ativas.
As metodologias ativas baseiam-se em problemas e, atualmente, duas se destacam: a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) e a Metodologia da Problematização (MP).
A educação baseada em problemas valoriza a relação do homem no mundo, haja vista que potencializa a construção do conhecimento a partir de vivências práticas dos alunos. Apoiada nos processos de aprendizagem por descoberta em oposição ao aprendizado por recepção a “educação problematizadora” incentiva o estudo de casos reais, cujas ações devem ser descobertas, discutidas e construídas pelos acadêmicos. A tendência é a de que o discente se familiarize com os anseios dos pacientes já nos semestres iniciais dos cursos, entrando em contato precoce com a realidade social dos mesmos.
Na ABP, há a formação de um grupo tutorial, onde o professor apresenta aos alunos um problema pré-elaborado por uma comissão de especialistas. Os problemas contêm os temas essenciais para que os alunos cumpram o currículo e estejam aptos para o exercício profissional.
Já a metodologia da problematização tem seus fundamentos teórico-filosóficos sustentados no referencial de Paulo Freire. É um modelo de ensino comprometido com a educação libertadora, que valoriza o diálogo, desmistifica a realidade e estimula a transformação social através de uma prática conscientizadora e crítica. Neste caso, os problemas estudados precisam de um cenário real, para que a construção do conhecimento ocorra a partir da vivência de experiências significativas.
Este estudo tem por objetivo de relatar a importância da metodologia ativa da problematização na disciplina de estomaterapia para a formação do enfermeiro, através de um relato de experiência.
MÉTODOS
Esta pesquisa descreve aspectos vivenciados pelos autores, a partir das aulas práticas de estomaterapia, através de uma metodologia ativa, na graduação de enfermagem.
O período das aulas ocorreu de 11 a 15 de abril de 2015, durante o 7º período da graduação de enfermagem, na faculdade Estácio do Amazonas, sob supervisão do professor da disciplina. Participaram das aulas, os acadêmicos regularmente matriculados nos turnos matutino e noturno.
As aulas tinham como temática: feridas, coberturas e curativos, onde foi ministrado as particularidades e tratamentos de diversos tipos de lesões, tais como: pé diabético, queimaduras, lesões por pressão, dentre outras. As aulas práticas deram-se através da divisão de temas de curativos entre os acadêmicos, como por exemplo: Compressivo, oclusivo, semi-oclusivo. Os acadêmicos foram divididos em grupos, onde cada um simulou a sua respectiva ferida em um dos membros do grupo e os demais explicaram sobre a característica da lesão e procedimento a ser realizado, e logo após realizaram com as devidas técnicas assépticas. Ao final da aula prática, os acadêmicos foram avaliados pelo professor responsável e receberam as suas notas.
RESULTADOS
A metodologia ativa da problematização demonstrou-se eficaz, tendo em vista a participação e aceitação dos acadêmicos. Durante a aula, os acadêmicos puderam ter o contato com os principais métodos/técnicas de curativos, em seus diversos graus possíveis, como o desbridamento por hidroterapia, assim fortalecendo os assuntos ministrados em sala de aula, propiciando uma melhor abordagem ao tema, atuando com um olhar humanizado na enfermagem. Entende-se que o processo de ensino-aprendizagem acontece baseado na utilização de metodologias ativas, nas quais o aluno passa a ser protagonista de seu processo de aprendizagem e os professores assumem o papel de mediadores/facilitadores.
O método propõe a elaboração de situações de ensino que promovam uma aproximação crítica do aluno com a realidade; a reflexão sobre problemas que geram curiosidade e desafio; a disponibilização de recursos para pesquisar problemas e soluções; a identificação e organização das soluções hipotéticas mais adequadas à situação e a aplicação dessas soluções.
No decorrer do estágio puderam realizar os curativos adequados, conforme as suas características e especificidades, sob supervisão da preceptoria de estágio, além de ensino em saúde com os profissionais responsáveis pelos curativos na unidade, corroborando para a importância da metodologia ativa na disciplina de estomaterapia. Identifica-se que a estimulação ainda da corrente biomédica de cuidado não só é um obstáculo para a superação dos termos teoria e prática, aprendizagem e prática assistencial, vai de encontro com o ser docente, na qual a tendência é utilizar técnicas que reforcem a passividade dos alunos em campo prático. A inovação não é o simples usar tecnológico, mas sim, no que tange o uso de propriedades metodológicas que alinhem-se e representem formas de desenvolvimento e processo de ensino e aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A metodologia de ensino no decorrer da aula prática, proporcionou para os acadêmicos um olhar aguçado quanto às práticas de enfermagem e um embasamento teórico-prático, despertando um pensamento crítico-reflexivo quanto a terapêutica ideal para cada tratamento, desde a utilização de produtos tópicos, das coberturas, manobras e técnicas para uma assistência humanizada.
Os resultados adquiridos nesta pesquisa permitem identificar o melhor desempenho dos acadêmicos na disciplina de estomaterapia, atuando no cuidado de pacientes com feridas e conhecendo melhor aquilo que necessitam na prática para melhor terapêutica do paciente.
Por fim, considera-se que a avaliação apresentada quanto a pratica e ao conhecimento dos estudantes seja importante para o próprio curso de graduação. A abordagem desses conteúdos na disciplina da graduação do referido curso, ou mesmo a criação de uma disciplina curricular que contemple essa metodologia de modo a abranger os diversos aspectos envolvidos no processo de cuidar de pacientes com feridas, parecem relevantes.