Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-26
Resumo
APRESENTAÇÃO: O suicídio representa importante problema de saúde pública, tendo em vista suas repercussões sociais, econômicas e psicobiológicas negativas, que afetam o bem estar dos indivíduos que mantinham vínculos com aqueles que foram vítimas de suicídio, ou mesmo dos que passaram pela tentativa de suicidar-se. Suas causas são multifatoriais, pois envolvem determinantes ligados à conjuntura social, cultural, político-econômica, ambiental, acadêmica/estudantil e ocupacional, em virtude dos estressores inerentes a estas esferas, que incidem sobre o indivíduo, sobrecarregando-lhe física e mentalmente. Se tais estressores não forem administrados com equilíbrio e, ao mesmo tempo, minimizados por meio da inserção de práticas de relaxamento ou que propiciem o compartilhamento de vivências, no qual se possa ter com quem dialogar, a fim de construir relações de vínculo e empatia, e se tais estressores combinarem-se com variáveis exógenas ou endógenas, que intensifiquem a sobrecarga física, sofrimento mental e consequente sentimento de solidão e incapacidade de solucionar as adversidades da vida, o indivíduo pode ser levado a acreditar que a resolução exequível de seus problemas ancora-se no suicídio. As estratégias de educação popular em saúde, enfatizadas por Paulo Freire, corroboram com o que se pretende ao discutir saúde, pois permitem que cada indivíduo exponha percepções e relate vivências a respeito de um tema em foco e, de maneira compartilhada, construam saberes que impactem na produção do cuidado. Diante disso, o I Simpósio Paraense de Prevenção ao Suicídio, realizado na cidade de Belém-Pará, nos dias 08 e 20 de setembro de 2017, reuniu profissionais, estudantes e sociedade em geral, para debater sobre o tema, tendo como facilitadores dos espaços de formação trabalhadores da assistência, gestão, ensino e pesquisa, com experiência nas áreas de Saúde Mental e afins. A Liga Acadêmica Paraense de Saúde Mental (LAPASME), entidade que tem por objetivo fortalecer, complementar e aprimorar a formação acadêmica e profissional por meio de atividades de ensino, pesquisa e extensão, foi apoiadora do evento e, à convite da comissão organizadora, realizou ação de educação popular em saúde, a fim de contribuir com as discussões e reafirmar a necessidade de minimizar os estressores que incidem sobre a saúde biopsicossocial, por meio da participação ativa dos sujeitos envolvidos. Assim, este trabalho tem como objetivo: relatar a experiência de integrantes de uma liga acadêmica na realização de ação de educação popular voltada à promoção da saúde em sua dimensão biopsicossocial. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, do tipo relato de experiência, elaborado por integrantes da LAPASME, a partir da aplicação de uma ação de educação popular em saúde, como parte das atividades do I Simpósio Paraense de Prevenção ao Suicídio, ocorrido nas dependências do Instituto de Ciências da Saúde (ICS) da Universidade Federal do Pará (UFPA). A ação foi realizada em 08 de setembro de 2017 e teve como objetivos: obter e analisar as percepções dos participantes do evento sobre o que entendiam por suicídio; promover espaço de cuidados mútuos para relaxamento e dispersão de tensões que afetam a saúde física e mental, por meio da educação popular em saúde. Para tanto, consistiu de duas etapas: coleta de percepções dos participantes sobre a temática; promoção de sala de cuidados, para dialogar com o público e realizar práticas respiratórias antiestresse. Para a primeira etapa, os integrantes da LAPASME elaboraram, previamente, três perguntas, as quais foram escritas em cartões de papel, uma em cada cartão, e distribuídas aleatoriamente aos participantes do evento, para que as respondessem de acordo com sua compreensão e conceitos formulados mediante experiências de vida. Estas perguntas foram: “Para mim, o que causa o suicídio é...”, “O suicídio é...” e “Eu diria para um amigo com pensamentos suicidas que...”. Foram distribuídos mais de 200 cartões, um para cada participante. Após isso, montou-se varal no corrimão da escada que dá acesso ao auditório, sede dos espaços de formação, onde foram grampeados os cartões, ao passo em que eram entregues respondidos pelos participantes, e os mesmos ficaram expostos até o término das atividades do primeiro dia. Posteriormente, realizou-se análise das respostas, identificando-se os temas apresentados. Para a segunda etapa, organizou-se uma sala, intitulada “Sala de Cuidados”, espaço que esteve aberto durante o turno vespertino, no primeiro dia do evento, e foi dedicado à realização de rodas de conversa, durante as quais se estimulava os interessados a participar ativamente com suas percepções, ideias e experiências acerca da temática e, assim, construir/compartilhar o cuidado coletivamente. Durante as rodas, agregaram-se, também, práticas respiratórias antiestresse. Os resultados desta ação, enfocando a primeira etapa, foram compartilhados, por dois representantes da LAPASME, por ocasião do segundo dia do evento. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Como resultados da primeira etapa, obteve-se 126 cartões respondidos, dos mais de 200 distribuídos, sendo 43 referentes à pergunta “Para mim, o que causa o suicídio é...”, 41 à pergunta “O suicídio é...” e 42 à pergunta “Eu diria para um amigo suicida que...”. Foram identificados e quantificados os temas que ocorreram nas respostas dos participantes. Quanto à pergunta “Para mim, o que causa o suicídio é...”, obteve-se os seguintes temas e respectivos números de ocorrência: um conjunto de fatores: 14; relações familiares/sociais ausentes e/ou conflituosas: 04; questões subjetivas e existenciais (insatisfações/desespero/desesperança): 23; questões ligadas à religiosidade (ausência de crenças ou representação divina): 01; sofrimento mental pregresso (depressão): 01. Para a pergunta “O suicídio é...”, obteve-se os seguintes temas e respectivos números de ocorrência: um ato de fuga dos problemas e tensões pessoais e/ou sociais, ou interrupção do sofrimento (psíquico, físico ou emocional): 21; uma forma de colocar fim à própria vida: 09; resultado da falta de coletividade: 03; acúmulo de pensamentos negativos (raiva/tristeza/saudade/desespero etc.): 03; um ato injustificável e imperdoável (causa dor em si e em outrem): 02; um ato que se deve ao conflito entre viver em prol de causas de outrem e suprir as próprias necessidades: 01; fenômeno social e psicológico que precisa de cuidado e atenção: 02. E, relativo à pergunta “Eu diria para um amigo com pensamentos suicidas que...”, obteve-se os seguintes temas e respectivos números de ocorrência: palavras de valorização da pessoa e persistência pela vida (o indivíduo é importante/há outro caminho que não a morte/perspectivas do futuro): 16; oferecimento de apoio/ajuda: 16; incentivo à procura de ajuda profissional: 05; incentivo à fala: 03; apesar das mazelas e más influências da sociedade, é preciso acreditar e perseverar pela vida: 01; decidir por si próprio: 01. Na realização da segunda etapa, o público mostrou-se interessado em participar e contribuir com a dinâmica em roda, expondo mutuamente suas vivências, e envolver-se nas práticas respiratórias antiestresse. Percebeu-se que a promoção deste espaço foi salutar aos êxitos dos objetivos pretendidos, tendo em vista que representou uma alternativa à dispersão dos estressores inerentes à vida secular, e foi buscado pelos participantes sobretudo durante os intervalos do evento. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Tendo em vista que o suicídio é tema relevante e necessita ser amplamente discutido nas diferentes esferas sociais, salienta-se a importância de agregar aos espaços de formação estratégias que estimulem a participação ativa dos indivíduos, destacando-os como protagonistas das ações, e que permitam compreender o que sabem/entendem sobre a temática, a fim de que futuras propostas sejam elaboradas de modo a atender as necessidades dos diferentes grupos sociais.