Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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DEZEMBRO VERMELHO: A EDUCAÇÃO EM SAÚDE EM OFICINAS TERAPÊUTICAS NO ÂMBITO DA SAÚDE MENTAL
Roberta Brelaz do Carmo, Joyce Petrina Moura Santos, Geyse Aline Rodrigues Dias, Karina Faine da Silva Freitas, Mácia Maria Bragança Lopes

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


Apresentação: O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) que afeta gradativamente o sistema imunológico dos indivíduos, podendo ocasionar a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e a propensão a coinfecções que podem gerar graves consequências à saúde. Como o HIV não é passível de cura, infere-se que o empoderamento da sociedade quanto as formas de prevenção é a melhor estratégia a ser adotada para mudar o elevado índice de mortes em soropositivos diante dos quadros estatísticos anuais, sendo responsabilidade da equipe multiprofissional, em especial a enfermagem por ter a educação como um de seus processos de trabalho, apoderar e munir de informações necessárias tais cidadãos, seja de forma individual ou coletiva, visando a transformação da realidade vigente por intermédio de uma maior autonomia dos cuidados de saúde dos mesmos. Os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) são caracterizados como um campo rico para se realizar ações educativas diante da percepção Freiriana, ou seja, realizando o diálogo transformador de acordo com o conhecimento prévio que os usuários têm. Contudo, quando se trata de oficinas terapêuticas dentro do âmbito da saúde mental, é importante levar em consideração a cognição dos indivíduos. Essa importância em conhecer como se dá o processo de aprendizado dos usuários provém do fato de que alguns transtornos psicológicos e medicamentos acabam por ocasionar um déficit cognitivo ou tornam as pessoas apáticas, devendo o profissional saber lidar e entender que, muitas vezes, isso é um processo que provém da fisiopatologia da doença ou do tratamento realizado. Diante deste contexto, é notória a indispensabilidade em tratar sobre HIV/AIDS, levando em consideração o grau de vulnerabilidade que as pessoas com transtornos mentais apresentam, principalmente nos surtos psicóticos, conglobado a um conjunto de fatores que os levam a contrair o vírus, tais como a dificuldade em estabelecer uniões estáveis, ser vítima de abuso sexual, estar com o juízo crítico prejudicado, hipersexualidade, impulsividade, baixa autoestima, entre outros. Frente aos motivos que predispõem esse perfil de público a adquirir o HIV, objetiva-se relatar a experiência vivida em uma ação educativa sobre HIV/AIDS a luz da Concepção Pedagógica Humanista, a qual valoriza as relações interpessoais, sendo mediada por facilitadores da aprendizagem, sempre buscando compreender as necessidades e expectativas dos alunos, possibilitando assim discutir as formas de infecção, tratamento e prevenção, considerando o saber prévio dos educandos. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um relato de experiência que ocorreu no mês de dezembro com usuários matriculados em um Centro de Atenção Psicossocial III (CAPS), localizado em Belém-Pará, e que participam da oficina expressiva terapêutica, a qual enfatiza a necessidade de expressão acerca da temática abordada por meio da fala ou qualquer tipo de arte. Visto que o mês em questão é considerado como um marco na prevenção da AIDS, sendo conhecido como mês vermelho, a oficina teve como tema norteador esta temática de grande relevância social e epidemiológica, abordando, em dois momentos distintos, a diferença entre HIV e AIDS, formas de contágio, modos de se prevenir e a importância em realizar o teste Anti-HIV. Inicialmente, deu-se início à primeira fase da ação educativa, onde todos se sentaram ao redor de uma mesa para que pudessem escrever ou desenhar o que conheciam sobre a AIDS em uma folha de papel que lhes foi entregue. Feito isso, um a um, os usuários foram se apresentando e expondo o que haviam expressado na folha, sendo importante enfatizar que todos escolheram a opção de escrita para discorrer sobre o assunto. Essa estratégia visou estar a par do conhecimento prévio que eles tinham sobre o tema, com vistas a acrescentar informações importantes, levando em consideração a aprendizagem significativa, a qual tem como pressuposto que o conhecimento se faz mediante a ancoragem de novas informações, tendo os condutores da ação como facilitadores desse processo por meio do diálogo. Posteriormente, teve início a segunda etapa da oficina, onde foi informado que iria ser tocada uma música e os usuários participantes deveriam passar de mão em mão uma cartela de preservativos até que a música parasse. A pessoa que estivesse segurando o objeto neste momento de pausa deveria responder uma pergunta. As perguntas norteadoras dessa etapa da oficina foram: “O que é a AIDS?”, “Como se contrai o HIV?”, “Quais são as formas de transmissão?”, “Como se dá o tratamento contra o HIV?”, “Como evitar o HIV?” e “Você conhece e já fez o teste Anti-HIV?”. Resultados: A oficina expressiva em questão contou com a participação de 11 usuários, sendo 9 do sexo feminino e 2 do sexo masculino. Destes, duas usuárias não quiseram participar ativamente, mas ficaram como ouvintes, e uma terceira pessoa foi liberada pela sua técnica responsável, após alegar não estar se sentindo bem. Durante a primeira etapa da oficina, pôde-se notar que todos tinham o conhecimento básico do assunto, tais como o fato de ser uma IST ocasionada por um vírus, que não há cura e que a forma de prevenção é o preservativo. Porém, na segunda etapa, verificou-se a presença de muitas dúvidas que cerceavam o tema HIV/AIDS, tais como “Por que o HIV mata e o vírus da gripe não, se os dois são vírus?”, “Como se usa o preservativo feminino?”, “Por que a mãe pode contaminar o bebê na gestação ou amamentando?”, “Por que se contamina pelo sexo, se não há presença de sangue?” e “É possível adquirir o vírus pela saliva?”. Tais dúvidas surgiam conforme as respostas emitidas pelos usuários às perguntas preparadas para a dinâmica. Essa situação de dúvidas e questionamentos é de grande relevância para o processo de educação em saúde dialógico, e os condutores educadores esclareceram-nas de forma didática. Após isso, foram entregues cartelas de preservativos masculinos aos usuários, enfatizando o uso coerente, correto e indispensável durante o sexo vaginal, anal e oral assim como a importância da divulgação dos conhecimentos adquiridos para os conhecidos e familiares. Considerações finais: Trabalhar os conhecimentos sobre a HIV/AIDS com usuários com transtorno mental é de extrema importância, uma vez que estes são vulneráveis ao acometimento de tal infecção, devido os riscos e variações de humor que o seu estado mental apresenta. Para isso, fornecer informações sobre as características e o combate contra a AIDS utilizando-se de educação bancária não é suficiente para que se obtenha uma estabilidade cognitiva sobre o assunto sendo necessário lançar mão de atitudes que proporcionem a aprendizagem significativa e a escuta ativa, assim como a utilização de processos dinâmicos e divertidos permitindo que expressem suas emoções, dúvidas e sugestões de prevenção para que os conhecimentos prévios e os novos adquiridos possam ter efeito sobre a vida e autonomia no cuidado desses usuários.


Palavras-chave


Educação em saúde; Saúde mental; AIDS