Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO DA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Rosilande dos Santos Silva, Carine de Jesus Soares, Gabriela Freitas Cardoso, Viviana Batista Viana, Rosineia Novais Oliveira, Diego Micael Barreto Andrade, Rosilene das Neves Pereira

Última alteração: 2018-06-14

Resumo


APRESENTAÇÃO: Com o advento da Política Nacional de Humanização (PNH) em 2003, possibilitou à saúde pública do Brasil melhor qualificação. Essa política contribuiu para a efetivação dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), impulsionando melhorias entre o cuidado e a gestão nos serviços de saúde, potencializando trocas solidárias entre a tríade trabalhadores/usuários/gestores. No que se refere a atenção à pessoa com sofrimento psíquico, o cuidado deve estar pautado nos princípios norteadores da PNH, como por exemplo, a autonomia, o protagonismo dos sujeitos, valores que precisam ser fortalecidos pela rede intersetorial de saúde. O cuidado e as ações de saúde mental precisam estar presentes em todos os campos da saúde, para tanto as redes de Atenção à Saúde devem atuar de modo cooperativo proporcionando a corresponsabilidade, através da atenção contínua, integral, de qualidade, e humanizada. Vê-se, portanto, a necessidade da enfermagem refletir sobre a arte do cuidado humanizado como disciplina e profissão. Neste sentido, o cuidado humanizado torna-se resultado de um processo que se conjugam, de forma bastante estreita como sentimentos, valores, atitudes e princípios científicos no intuito de atender os indivíduos em sua integralidade. Assim, objetivou-se relatar a experiência de acadêmicos do curso de enfermagem sobre a humanização em saúde mental no contexto da sistematização da assistência de enfermagem (SAE). Portanto, o estudo torna-se relevante na medida em que se discutem as condições clínicas, socioeconômicas, culturais e afetivas no contexto familiar de uma pessoa com sofrimento psíquico, com base nos princípios e diretrizes da PNH. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência, desenvolvido por acadêmicas do curso de Enfermagem e uma mestranda, a partir da vivência durante atividade prática da disciplina Enfermagem em Atenção à Saúde Mental, no primeiro período letivo do ano de 2016. O estudo decorreu de três visitas domiciliares a família, por meio das quais foi realizada a aplicação da SAE. A participante escolhida foi uma portadora de esquizofrenia usuária do Centro de Atenção Psicossocial do tipo II (CAPSII) de um município no interior baiano. Foi feito contato prévio pela mestranda que agendou a primeira visita domiciliar para apresentação das discentes, da atividade e consulta a cliente a respeito da sua participação na atividade referida. Foram dadas orientações verbais de que se tratava de uma atividade prática da disciplina Enfermagem em Atenção à Saúde Mental e ela foi consultada sobre a decisão de participar ou não. A partir da concordância da cliente procedeu-se o encontro com a coleta de dados através do Histórico de Enfermagem, baseado na Teoria das Necessidades Humanas Básicas proposta por Horta, composto por questionamentos referentes a história de vida, familiar, socioeconômica, alimentação, uso de medicamento e exame físico. Esse momento pode-se estabelecer vínculo com a paciente e familiar através do diálogo e acolhimento. Posteriormente, realizou-se o levantamento dos Diagnostico de Enfermagem com base nos dados coletados, segundo o North American Nursing Diagnosis Association. A partir desta acurácia da situação de saúde, discutiram-se os instrumentos elaborados e traçamos os possíveis planos de cuidados necessários. Durante a segunda e terceira visita domiciliar realizou-se a implementação dos cuidados de enfermagem e avaliação. A última etapa correspondeu a socialização de cada caso clínico em sala, com a participação de usuárias(os) do CAPS II concomitante com a avaliação dos resultados das visitas. RESULTADOS: Histórico de enfermagem: M.N.J.,42 anos, parda, católica, aposentada, ensino fundamental I incompleto, veio de uma prole de oito irmãos, órfã de mãe, e sem interação familiar com os demais membros da família. Relatou ter trabalhado de empregada doméstica, durante esse período envolveu com o filho de sua patroa, desse relacionamento teve sua primeira gravidez, tendo sua filha usurpada por sua patroa. M.N.J nunca teve contato com essa filha e isso causa um profundo sofrimento, assim como o afastamento dos seus irmãos. Reside atualmente com seus dois filhos na casa de uma tia. A renda familiar é proveniente da sua aposentadoria e do trabalho dos filhos. Devido à ausência dos filhos durante o período de trabalho, M.N.J permanece maior parte do dia deitada, passando da hora de alimentar-se porque fica aguardando o retorno dos filhos.  Apresenta condições físicas satisfatórias, realiza higiene pessoal sozinha, veste-se adequadamente. Hipoativa, permanece por muito tempo na mesma posição, voz baixa e lenta, limita-se a responder solicitações verbais. Relatou padrão de sono alterado, eliminações intestinais diminuídas, eliminações vesicais com características normais (SIC), não realiza atividade física nem lazer, prefere ficar em casa, assistir novelas. Diagnosticada há mais ou menos 10 anos, foi internada na psiquiatria por três vezes. Usuária do CAPSII, onde tem acesso aos medicamentos, no entanto, encontra-se afastada e resistente à possibilidade de retorno ao tratamento integral. Diagnostico de enfermagem: Dentre os diagnósticos foram identificados aspectos relacionado a convivência familiar e  social, assim como aspectos pessoal de solidão e desânimo; Tristeza relacionada à falta de contato com familiares, Síndrome pós-trauma relacionada à perda da sua filha, caracterizado pela tomada de sua filha logo ao nascer, Interação social prejudicada, relacionada à ausência de pessoas significativas, Processos familiares interrompidos, relacionados à distância e falta de interação familiar, Isolamento Social, relacionado às alterações no estado mental que contribuem para a ausência de relacionamentos pessoais, Bloqueio de pensamentos, relacionados com a falta de entendimento e exposição dos pensamentos (prejuízo na cognição),  Constipação, relacionado a eliminações intestinais diminuídas, Baixo Estima, relacionado ao desânimo e falta de vontade de se arrumar. Intervenções de enfermagem: Foi desenvolvido intervenções que possibilitaram aceitação, compreensão, escuta e ações de elevação da estima da mesma, contribuindo para a melhoria da saúde. Dentre essas atividades podemos citar: oficina de arte com pintura em tela, café da manhã balanceado possibilitando melhora na digestão, sono e proporcionando a interação familiar; passeio em sorveteria, cujo a finalidade permitir interação social, encontro entre pessoas; sessão de beleza, atividades lúdicas, presente de higiene pessoal. Durante as visitas foi observado que a implementação dessas ações resultou em impacto positivo no processo saúde/doença, pois percebeu maior interação social e sensibilizou ao autocuidado. Neste ínterim, percebemos que o cuidado é um instrumento essencial na humanização da assistência e deve ser realizado continuamente por todas as esferas sociais, por isso atividades como essas deve acontecer. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Acredita-se que a humanização na assistência da pessoa com sofrimento psíquico é um elemento imprescindível na restruturação das práticas de saúde. Para tanto, necessita de implementação das políticas públicas no campo da saúde mental.  Humanizar a saúde mental requer o envolvimento das diversas instancias sociais no intuito de fomentar as discussões sobre as políticas públicas que priorizem a necessidade do atendimento acolhedor e humanizado ao cidadão, bem como sensibilizar os profissionais de saúde para a desconstrução de paradigmas e incluir cada vez mais práticas em consonância com a PNH. Ademais, a vivência contribuiu para a formação profissional das graduandas de enfermagem, uma vez que possibilitou a compreensão do cuidado voltado para as necessidades biopsicossociais, favorecendo a construção de novos caminhos para uma melhor abordagem terapêutica, revelando uma assistência pautada nas teorias humanísticas de enfermagem, sendo evidenciado a relevância da SAE na assistência do indivíduo por meio da humanização e da integralização do cuidado.


Palavras-chave


Saúde Mental; Cuidados de enfermagem; Humanização na Assistência.