Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O desafio da interdisciplinaridade entre trabalhadores da atenção básica e estudantes em formação no território de uma USF no Nordeste Brasileiro.
Michelly Santos de Andrade, Rebbeca Gomes Ferraz, Maria das Graças Maciel Ferreira, João Rodolfo Moura de Araújo

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


Apresentação

Esse resumo objetiva trazer alguns aspectos relacionados aos desafios da interdisciplinaridade vivenciados em uma unidade de saúde da família (USF), modalidade integrada, ou seja, uma unidade composta por quatro equipes de saúde da família, que compartilham espaços físicos comuns, como sala de imunização, sala de observação, sala de citológico, farmácia e laboratório para coleta de exames de sangue, dentre outros, à exceção dos consultórios de enfermagem e medicina. A interdisciplinaridade nos diversos pontos da rede de atenção à saúde possui até então inúmeros desafios para sua implementação, a começar pelos sentidos que o termo oferece. Defenderemos nesse trabalho, àquele descrito por Francischett em [200?], como “um processo de constante aprendizado [...]”. Na atenção básica, essa questão parece ser ainda mais palpável, pois a organização do trabalho nas equipes multiprofissionais da Estratégia Saúde da Família (ESF) é pautado em um atendimento integral que requer a presença de diferentes formações profissionais trabalhando com ações compartilhadas, com troca de saberes e responsabilidades mútuas, assim como, com processo interdisciplinar centrado no usuário.

Desenvolvimento do trabalho

Diariamente, de segunda-feira à sexta-feira, as portas da unidade se abrem. Abrem-se aos costumeiros e novos usuários, aos seus antigos e novos trabalhadores, aos potenciais parceiros do cuidar. Nessa levada de maré, os corpos desejantes vão produzindo encontros, ora produzindo (mais) vida, ora nem tanto. É nesse cenário que os desafios da interdisciplinaridade no cotidiano do trabalho surgem, alavancados pelas disputas por projetos de saúde e cuidado. As práticas de saúde sofrem os efeitos desses (des)encontros. Uns deles, relatados por profissionais de nível superior de uma USF ao serem questionados sobre: “quais os desafios da interdisciplinaridade no cotidiano da atenção básica, considerando a presença dos estudantes de graduação?”

Resultados e/ou impactos

No que tange ao cuidado integral em saúde, caminhos para sua efetivação foram descritos. O caso da interdisciplinaridade nas diretrizes curriculares dos cursos da saúde e na mudança de poucos processos de trabalho, principalmente, na estratégia de saúde da família, é um deles. Outros como o quadrilátero da formação ainda sofre resistência por parte de alguns gestores, trabalhadores e dos usuários que ainda não compreenderam que a integração gestão-ensino-serviço-comunidade pode ser benéfica aos atores envolvidos.Não se pode negar que esse último conceito gerou modificações, a exemplo da celebração de instrumentos contratuais entre instituições de ensino e serviço, garantindo assim o acesso a todos os estabelecimentos de saúde, reconhecendo-os como cenário de práticas para a formação no âmbito da graduação e da residência em saúde no SUS soba responsabilidade do gestor da área de saúde, atribuindo-lhes as partes relacionadas ao funcionamento da integração ensino-serviço-comunidade.Todavia, essa “integração” é motivo de descontentamentos por parte de muitos trabalhadores que não conseguem compreender como as unidades básicas de saúde são espaços potenciais de educação e ensino em serviço. Isso porque é comum chegar às USF, grupos de estudantes e residentes, com seus respectivos representantes, sem que haja quaisquer apresentações dos planos de trabalho anteriores à pactuação, geralmente realizada entre a secretaria (via gerência de educação e saúde) e as instituições.A sensação dos trabalhadores é de que os cursos caem como paraquedas, sem ninguém saber, sem ninguém dizer o que acha disso, daquele curso estar lá ou não, se é bom, se é ruim para a comunidade ou para a equipe. Há confusão quanto ao (re)conhecimento do papel dos estudantes e residentes nos cenários de prática. Talvez, um pouco diluída no caso desses últimos, pois como se configuram como médicos da equipe, a integração, e consequentemente, a interdisciplinaridade, em geral, ocorre inevitavelmente. Diferente dos estudantes de graduação, cuja permanência no serviço acontece em menor espaço de tempo, dificultando a integração.O desafio da interdisciplinaridade entre trabalhadores da AB e profissionais em formação no território perpassa também pela alteridade, ou seja, construção da identidade do sujeito. Pois, é nesse ponto que o nó pode aparecer, no “eu” do profissional de saúde, em um comportamento inadequado em relação a outrem. Para os trabalhadores que se envolvem mais no processo, a única coisa a fazer é conversar a respeito com essas pessoas, e tentar a transformação paulatinamente.A grande questão é que muitas vezes se produzem projetos de intervenção, PTS que não se convertem em benefício para a comunidade. E muitas vezes por isso, a comunidade não se envolve. Isso é fruto da pouca discussão, da implantação da estada desses cursos nas unidades, reforçando assim, a ideia de muitos usuários e mesmo de alguns profissionais de que só o médico pode resolver a demanda apresentada. Reduzindo a visão do cuidado em relação à saúde do indivíduo, família e meio onde vive. Uma alternativa seria a participação de outros profissionais na escuta inicial.Essas opiniões podem mudar com a aproximação qualificada dos representantes das instituições. Indo aos serviços de interesse, apresentando o curso, a proposta da atividade (prática e/ou estágio), conhecer o que já vem sendo desenvolvido na unidade, as demandas (ao menos, as principais) da comunidade/equipe, readequar as atividades (aulas práticas e/o estágios) entre o serviço e a comunidade, e se possível, integrar com as atividades de outros cursos existentes no local. Preferencialmente, antes da pactuação.Mas também, que houvesse ao trabalhador: 1.conhecimento sobre as políticas de educação e saúde do seu município que regulamentam a aprendizagem pelo trabalho no âmbito da rede municipal de saúde e estabelecem relações de cooperação pedagógica, incluindo atividades de parceria na área de ensino, atenção e pesquisa em saúde, 2. liberação dos interessados pela integração gestão-ensino-serviço-comunidade para participarem dos colegiados que deliberam sobre a educação e saúde no município, 3.acesso às estratégias de indução às mudanças curriculares nos cursos de graduação e pós-graduação na área da saúde, 4.espaço nas reuniões de equipe para debaterem como a formação em saúde, desenvolvida por meio da relação entre trabalhadores da AB no território (estágios de graduação e residências, projetos de pesquisa e extensão, entre outros) pode beneficiar a todos, principalmente, a população, pela qualificação dos profissionais de saúde. Enfim, valorização da Educação Permanente no cotidiano do trabalho.

Considerações finais

O desafio da interdisciplinaridade entre trabalhadores da atenção básica e estudantes em formação no território está posto, mediante as estratégias indutoras articuladas entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação. As perspectivas são múltiplas, diante das disputas no campo da saúde. A nossa realidade tem mostrado que apesar da captura do trabalho vivo, novos arranjos são possíveis. Dialogar. Repetir, repetir até fazer diferente tem sido práticas que temos desenvolvido ao reconhecermos em nós e no outro, potência para agir.Fazendo alusão à canção “Encontro das águas”, a interdisciplinaridade “é como o caminho das águas, vem assim afluente sem fim, rio que não deságua.” O encontro das águas é um fenômeno natural facilmente visto em muitos rios da região amazônica. Nossa aposta é que a interdisciplinaridade assim seja na atenção básica e nos demais pontos de atenção da rede de atenção à saúde, através dos encontros no cotidiano do trabalho, onde os afetos circulam, potencializando um processo colaborativo das práticas de saúde e, consequentemente, por uma rede de cuidados integral e resolutiva


Palavras-chave


Interdisciplinaridade;atenção básica; formação em saúde