Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ATUAÇÃO DA PSICÓLOGA NA SAÚDE INDÍGENA
Aline Lorena da Silva Lima, Bianca Tsubaki, Álvaro Pinto Palha Júnior, Marcela Acioli, Camila Rodrigues, Maycon Correia Pinto, Eluana Carvalho, Isabela Ramos

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


Um dos grandes desafios atuais para a Psicologia é a compreensão da sua atuação em meio aos Povos Indígenas, apesar dos profissionais se depararem com esses povos em espaços de atenção primária, secundária e terciária em saúde e demais políticas públicas ao longo da história da psicologia no Brasil, a inserção do psicólogo em instituições voltadas especificamente para a intervenção com Povos Indígenas tem marco histórico demarcado na política pública de saúde, através da Portaria MS/GM nº 2.759, de 25 de outubro de 2007, que inicia o Programa de Saúde Mental Indígena no âmbito da Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, estrutura integrante do Subsistema de Atenção a Saúde Indígena do Sistema Único de Saúde – SASI/SUS. Os profissionais que atuam neste âmbito vêm galgando seu ofício de maneira gradativa e cautelosa, tendo em vista que esta prática está necessariamente ligada às questões subjetivas e que a compreensão das demandas acerca dos povos indígenas deve ser entendida a partir da perspectiva dos mesmos, em uma lógica que se inicia no território. A referida política pública é a que acumula bases mais sólidas e ações mais concretas na construção de caminhos possíveis para atuação de psicólogas(os) com povos indígenas. Tal constatação, somado ao fato de parte dos autores deste trabalho terem experiências acumuladas no SASI/SUS, aponta as discussões para uma priorização do debate localizado na Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. Dessa forma, o trabalho proposto tem como objetivo a reflexão sobre a atuação do profissional psicólogo a partir da literatura acadêmica, somado a pesquisas e experiências que os integrantes do Grupo de Trabalho (GT) Psicologia e Povos Indígenas do Conselho Regional de Psicologia Pará e Amapá (CRP) da 10 Região vêm tecendo desde a sua criação. O referido GT é formado por estagiários e profissionais do Distrito Sanitário Especial Indígena Guamá Tocantins e Distrito Sanitário Especial Indígena Xingu. Em suas práticas tem acumulado atuações em saúde indígena, pesquisas acadêmicas e intervenções do GT acerca da temática da atuação do psicólogo neste âmbito. Dentre as reflexões continuamente construídas pelas experiências dos integrantes do referido GT, há considerável importância apontada para o diálogo como parte indispensável para a atenção em saúde nestes contextos, tendo em vista que se deve exercitar a compreensão da(s) cultura(s) do povo com o qual se atua, para somente então, construir junto aos sujeitos com quem se presente atuar, as demandas reais de cuidado e os caminhos possíveis para responder às mesmas, priorizando sempre os saberes locais. Esta troca é fundamental ao considerarmos a história de contato que pesa sobre os atuais contextos históricos e sociais dos povos indígenas e populações não indígenas que se relacionam com os mesmos. As histórias destes encontros deixam marcas que devem ser consideradas, sob o risco de investir em uma estratégia patológica que interfira negativamente nos movimentos de autonomia e liberdade de todos envolvidos. De forma que temos compreendido cada vez com mais convicção que a(o) psicóloga(o) deverá pautar seus encontros, sempre singulares, na necessidade de compreender as tecnologias locais de cuidado desenvolvidas pelos sujeitos com quem pretende o encontro, pois o diálogo deve ter esta base como princípio para diálogo de caminhos que possam ser aprimorados e aqueles que possam ser substituídos por uma nova tecnologia. Destarte, é preciso com urgência construir caminhos singulares para construção de consensos para demandas de cuidado, pois nem sempre o que se pudesse caracterizar como demanda psicológica para os profissionais da saúde não indígena, se apresentará como sofrimento para aquele grupo ou indivíduo indígena. Cada povos ou coletivo tem seus próprios modos de compreender o mundo, sua epistemologia e cosmologia próprias, de maneira que um acontecimento compreendido como problema por um povo em uma comunidade não será necessariamente considerado da mesma maneira em outra. Dessa maneira, a Psicologia como área que problematiza os comportamentos e subjetividades individuais e coletivos com o objetivo de elaborar estratégias de cuidado, prevenção e amparo, se inclina sob a fala dos povos indígenas, na busca de encontrar caminhos possíveis para o cuidado que o profissional deverá articular juntamente com a comunidade na construção de bem viver que faça sentido para a população. Para tanto, é necessário que o psicólogo se dedique à contínua desconstrução e reconstrução de suas práticas. De forma que outra importante ferramenta apontada como estratégica para atuação do psicólogo com povos indígenas é a escuta qualificada. Ouvir além do sentidos óbvios de palavras e comportamentos, apostando em compreensões construídas dialogicamente na vivência compartilhada com os povos indígenas, ouvir para muito além do óbvio e dado como “natural”. Ao levantamos reflexões sobre a atuação do psicólogo na saúde indígena é necessário ressaltar a importância do respeito à cultura, valorização da comunidade e do indivíduo para a construção de uma intervenção conjunta e apropriada de ações da própria cultura local para as demandas que possam emergir. Para tanto, pontuamos por fim, mesmo que temporariamente, alguns caminhos possíveis que podem auxiliar psicólogas(os) em suas práticas junto aos povos indígenas, estes são: estabelecer vínculo com a comunidade, construindo relações de confiança e solidariedade que não se restrinjam às diretrizes formais e administrativas; considerar o território (geográfico e subjetivo) para o povo com o qual se trabalha, entendendo que os lugares em que os povos indígenas vivem tem geralmente compreensões que não são facilmente traduzidos por nossos conhecimentos e são base para apontar caminhos mais adequados para cada demanda; compreender a(s) identidade(s) que representa este povo; como estão os vínculos entre a comunidade, compreendendo as histórias de amizade e/ou inimizade entre sujeitos ou famílias, as categorias de parentesco, formação das famílias, constituições de casamento possíveis ou não, regras de convívio adequados e inadequados, dentre outros acordos locais; fomentar a autonomia e protagonismo dos povos indígenas, compreendendo como único caminho possível para promoção de saúde, compreendendo como base para compreensão dos processos de saúde e doença; bem como garantir a sustentabilidade das ações em sua prática dentro do âmbito de populações indígenas, evitando apostar em estratégias que produzam dependência de fatores externos ao território e povos com quem se está atuando.

Palavras-chave


Saúde Indígena; psicologia; política pública