Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O ALCOOLISMO NA HISTÓRIA DE VIDA DE ADOLESCENTES: UMA ANÁLISE À LUZ DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Christiane Tereza Aleixo Santos, Arielle Lima Santos, Jeferson Santos Araújo, Joel Costa Lobato, Yasmin Martins Sousa, Sílvio Éder Dias Silva

Última alteração: 2018-01-02

Resumo


Apresentação:. A problemática do álcool é uma questão de saúde pública que atinge a população mundial em todas as faixas etárias. A adolescência é um período crítico na vida das pessoas, no qual ocorrem novas descobertas significativas que são fundamentais para a construção da personalidade e da individualidade, sob o ponto de vista biopsicossocial. O alcoolismo, ao ser inserido no cotidiano do adolescente, passa a fazer parte do seu cognitivo e de sua comunicação com o seu grupo de pertença, passando a doença para uma dimensão psicossocial, que será fundamental para adoção de um comportamento diante de uma droga tão presente na sua rotina familiar. Por tal motivo, compreender a relação entre a história de vida dos jovens ao conviverem com um membro da família que é alcoolista irá propiciar um melhor entendimento de sua representação sobre a doença e, a partir dela, a sua atitude frente às bebidas alcoólicas. Descrever as representações sociais de adolescentes sobre alcoolismo e o hábito de consumir bebidas alcoólicas e analisar as implicações do alcoolismo nas histórias de vida dos adolescentes.  Desenvolvimento do trabalho: Este estudo é do tipo descritivo-exploratório, com o emprego de abordagem qualitativa, utilizando o método de história de vida para captar as Representações Sociais (RSs) dos sujeitos do estudo acerca do tema em questão. O campo de pesquisa foi o Projeto Tribos Urbanas, que é um programa da Prefeitura de Belém-PA, criado em 2006, com o objetivo de atender jovens e adolescentes que se envolvem com gangue, a iniciativa visa retirá-los das ruas e envolvê-los em atividades socioeducativas .Os sujeitos do estudo foram 40 adolescentes de ambos os sexos, sendo 30 do sexo masculino e 10 do feminino. Empregamos a técnica da saturação de dados, que diz respeito à repetição dos discursos, como forma de delimitar a amostragem deste estudo. A pesquisa foi orientada pela Portaria 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Pará, recebendo o número de protocolo 004/08 CEP-ICS/UFPA. A técnica de coleta das narrativas dos adolescentes para produção de fontes orais foi a entrevista semiestruturada, orientada por roteiro composto de 15 perguntas, contextualizando da infância até a adolescência dos jovens, o que possibilitou compreender a influência dos seus familiares alcoolistas na adesão do adolescente ao uso de álcool. Como forma de respeitar o anonimato dos adolescentes foi empregado o sistema alfanumérico, seguida pelo número de ordem do depoimento. Resultados: Nesta unidade temática, fica notório como os adolescentes vislumbram em suas RSs da bebida alcoólica algo benéfico, visto esta propiciar espontaneidade e descontração. Porém, eles também destacam que o consumo em excesso, que leva à embriaguez, é um fato danoso para sua saúde física e mental. O álcool é bom porque faz a gente viajar. Quando a gente bebe, ficamos mais empolgados, se acha o tal. Eu bebia muito, porque achava que o meu problema era em casa, porque a vovó me criticava muito, porque eu fumava cigarro e bebia, aí eu achava que fazendo aquilo eu ia esquecer os problemas de casa. Outra questão para gente beber é a influência dos amigos, pois para ficar perto dos moleques lá tinha que beber, porque senão era careta, era mocinha, essas frescuras de macho (E2 ). Outro ponto identificado foi de que, apesar de o consumo do álcool fazer parte das atividades festivas de determinados grupos sociais e de ser considerado normal se ingerido sem provocar embriaguez, os adolescentes conseguem identificar os seus efeitos negativos quando ele é consumido de forma excessiva, o que pode ser identificado nas seguintes falas: [...] o álcool é ruim porque deixa a gente de ressaca no outro dia. A gente gasta dinheiro para beber e tudo. A pessoa acorda no outro dia liso com dor de cabeça, bafo escroto na boca, não sabe o que fez, se brincou ou arrumou confusão. A gente não sabe o que faz (E10). [...] o álcool, quando é bebido de forma excessiva, ocasiona um grande malestar físico e psicológico. Além do que, a pessoa faz às vezes um monte de besteira sobre o efeito do álcool, que, depois, se arrepende (E1 ) . Em diversos momentos, quando indagados sobre o motivo que leva um ser humano a aproximar-se da bebida alcoólica, os entrevistados, em sua maioria, relatam os problemas de caráter familiar ou social. Sabe-se que os eventos estressantes da vida são subjetivos para cada indivíduo, e que a capacidade de superação depende de fatores que implicam, a princípio, a maturidade da pessoa no contexto sociocultural no qual está inserida. As falas a seguir reforçam tais afirmações: [...] eu acho que às vezes é pra esquecer os problemas, e começa a beber pra curtir mesmo, beber pra fazer briga com os outros, criarem coragem, esse é meu ponto de vista. Eu bebo hoje com a minha namorada, mas não bebo com os moleques da rua, porque ali não tem futuro não. Através de amizades, através de ver todo mundo bebendo, aí vai querer experimentar e vê que é gostoso (E12). Cabe mencionar, também, que essa convivência com um familiar alcoolista propiciou aos adolescentes a aprendizagem de ingerir bebidas alcoólicas quando se deparavam com problemas que levaram os seus pais a se tornarem dependentes químicos. O adolescente assume o papel de aprendiz seguindo os passos do perito, que são seus pais. Por tal motivo, desvelar o universo do alcoolismo dos adolescentes favorece a implementação de estratégias que devem ser aplicadas para impedir que esta clientela, tão carente de cuidados, faça uso de álcool, seja por experimentação ou de forma abusiva.Considerações: As RSs reveladas pelo método de história de vida propiciaram a compreensão do universo consensual dos adolescentes que tiveram as bebidas alcoólicas inseridas no seu cotidiano, o que favoreceu compreender a verdadeira extensão deste problema. As bebidas alcoólicas são amplamente difundidas, principalmente porque seus apreciadores gostam da sensação de prazer que a droga ocasiona. Porém, passam despercebidos pela maioria dos consumidores, os malefícios do álcool, tais como a dependência química, os acidentes automobilísticos e outros problemas de vínculo social. Existe a necessidade de se instituir estratégias de prevenção ao consumo de bebidas alcoólicas de forma abusiva pelos adolescentes que não se centrem unicamente em transmitir os conhecimentos científicos, mas em fornecer uma relação de influência mútua com o conhecimento, que venha servir aos interesses e necessidades do jovem para interagir na sociedade, a fim de que o adolescente se sinta capaz de utilizar seus saberes para participar da sociedade como cidadão, enfatizando a importância da aplicabilidade prática desses conhecimentos para sua relação com o mundo.


Palavras-chave


Adolescente; Educação em enfermagem; Alcoolismo