Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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As limitações no ensino da saúde indígena na formação do enfermeiro para atuação em contexto intercultural.
Rizioléia Marina Pinheiro Pina, Vilanice Alves de Araújo Püschel, Sineide Santos de Souza

Última alteração: 2018-02-15

Resumo


APRESENTAÇÃO: A docência em enfermagem proporciona aulas práticas em ambiente hospitalar, porém corriqueiramente presenciamos o modo como os enfermeiros realizam o cuidado ao indígena, caracterizado por atitudes ora paternalistas, ora autoritárias, demonstrando dificuldades no cuidado de indivíduos etnicamente diferentes, os quais em sua maioria são tratados como iguais, em desacordo com à diretriz do Sistema Único de Saúde (SUS), no que tange à equidade. A população indígena necessita de cuidados congruentes às questões culturais, haja vista se tratar de uma população que necessita de um olhar atento às suas especificidades. Nesse sentido, este estudo objetivou caracterizar o perfil dos enfermeiros que atuam no cuidado à Saúde Indígena da etnia Mura no município de Autazes, interior do Amazonas, bem como compreender aspectos relacionados a formação profissional para atuação em contexto intercultural. DESENVOLVIMENTO: Trata-se de uma pesquisa descritiva de abordagem qualitativa. Participaram do estudo dez enfermeiras que atuavam no cuidado à população indígena Mura no Município de Autazes. Quatro enfermeiras atuavam na atenção secundária em área hospitalar, seis enfermeiras atuavam na atenção primária à saúde, destinadas ao atendimento a essa população nas aldeias de Pantaleão e Murutinga. Para a coleta foi realizado contato prévio com os profissionais, bem como com as lideranças indígenas, para esclarecimentos sobre o estudo e obtenção das autorizações e somente após as anuência das instituições envolvidas iniciou-se o trabalho de campo.  Os critérios de inclusão para o estudo foram, enfermeiras que trabalhavam com a população indígena Mura nos dois níveis de Atenção à Saúde. Foi considerado critério de exclusão, o profissional que estivesse de licença médica ou férias. Todos os enfermeiros foram convidados a participar da pesquisa, porém três enfermeiros não compareceram para a entrevista, após agendamentos. As participantes foram esclarecidas acerca da pesquisa, dos objetivos e dos métodos que seriam utilizados. Após os devidos esclarecimentos, as que concordaram em participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As entrevistas seguiram um roteiro semiestruturado, contendo aspectos relacionados ao perfil das enfermeiras, e duravam de 15 a 40 min, sendo gravadas e posteriormente transcritas na íntegra para posterior análise. RESULTADOS: As enfermeiras apresentavam faixa etária entre 31 e 43 anos. O tempo de formação das enfermeiras compreendeu entre seis meses a dezesseis anos, entretanto, o maior tempo de formação foi encontrado entre as enfermeiras que atuavam na unidade hospitalar da sede do município, evidenciando que nos PB encontravam-se as enfermeiras com menor tempo de formação. Ressaltamos que das seis enfermeiras que trabalhavam nas unidades de saúde que prestavam cuidados à população indígenas nas aldeias, cinco tiveram no campo da saúde indígena sua primeira oportunidade de emprego. Os discursos dessas enfermeiras revelavam que ao iniciarem suas atividades no âmbito da saúde indígena, suas ações eram permeadas por insegurança, falta de conhecimento que facilitasse suas ações nesse universo complexo e falta de preparo para lidar em contexto Interétnico. Em relação à realização de pós-graduação, oito enfermeiras possuíam pós-graduação Lato-Sensu, dos quais predominam os cursos nas áreas de Enfermagem em Urgência e Emergência, Obstetrícia, Saúde Pública. Nenhuma possuía pós-graduação em Saúde indígena. As atualizações, em sua maioria, contemplavam as seguintes temáticas: urgência e emergência, curativo, aleitamento materno. O tempo de atuação de cada enfermeira variou de 20 dias a 14 anos. Apenas três enfermeiras possuíam experiência prévia na saúde indígena, duas dessas na área técnica de enfermagem e apenas uma possuía experiência como enfermeira na saúde indígena. As demais enfermeiras tinham no atual trabalho a primeira experiência no campo da saúde indígena. A disciplina Saúde Indígena foi cursada durante a graduação por apenas quatro enfermeiras, especificamente aquelas que concluíram a graduação a partir de 2009. Sobre o ensino de saúde indígena na graduação, somente uma enfermeira mostrou-se satisfeita com o conteúdo abordado durante a disciplina na graduação, as demais apontaram os conteúdos da disciplina como superficiais e insuficientes no que diz respeito a assuntos relacionados às características socioculturais e geográficas dessa população. As enfermeiras que não cursaram a disciplina Saúde Indígena durante a graduação apontaram como necessário a obrigatoriedade dessa disciplina na matriz curricular dos cursos de graduação em enfermagem, e relataram que a ausência dessa disciplina deixou lacunas que são sentidas em suas atividades.  Em relação ao vínculo empregatício, das dez enfermeiras entrevistadas, oito trabalham em regime de contrato temporário e apenas duas enfermeiras são do quadro efetivo da Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas (SUSAM); e atuam no Hospital do município, as seis enfermeiras que atuavam especificamente nas unidades de atendimento à população indígena eram contratadas por ONG´s, em condições contratuais, os quais são renovados a cada dois anos, demonstrando fragilidade nas condições relacionadas à instabilidade empregatícia. Tal realidade se configura como um facilitador para as altas taxas de rotatividade de profissionais no campo da saúde indígena, trazendo como consequência a descontinuidade das ações de saúde nas aldeias. CONSIDERAÇÕES FINAIS: As enfermeiras formaram em Instituições de Ensino Superior na Região Norte do país, mas especificamente nos estados do Amazonas e Pará, apenas uma formou em Instituição pública. Apenas quatro enfermeiras cursaram disciplina que abordasse a saúde indígena na graduação, e segundo seus relatos foi abordada de maneira superficial e com pouca contribuição para diminuir os estranhamentos encontrados na relação intercultural enfermeira/indígena. Entretanto, durante as observações de campo não foram identificadas diferenças nas ações de cuidados das enfermeiras que cursaram a disciplina saúde indígena na graduação e das que não cursaram a disciplina, o que sugere a necessidade das Instituições de ensino Superior repensarem como tal disciplina tem sido planejada e abordada. Apesar do convívio com indígenas, as enfermeiras não possuíam especialização na área da saúde indígena, o que pode ser explicado pela pouca oferta de especialização que contemple a saúde das populações indígenas em todo o Estado do Amazonas, embora seja o estado com o maior quantitativo de indígenas do Brasil. Nesse sentido recomenda-se fortemente que as Instituições de Ensino Superior em regiões geográficas com população indígena reorientem seus currículos para a formação do enfermeiro para atuar em contexto intercultural e com competências para prestar atenção diferenciada à população indígena.


Palavras-chave


Enfermagem; Saúde indígena; Ensino