Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2017-12-08
Resumo
INTRODUÇÃO: O grupo étnico Waimiri-Atroari pertence à família linguística Karib e se autodenomina Kinja. Atualmente possui uma população de 1.969 indígenas distribuídos em 45 aldeias que se localizam no norte do estado do Amazonas e Sul do Estado de Roraima no quilômetro 125 da BR 174.¹ A conformação social do grupo é patriarcal, onde os homens tomam as decisões políticas, organizam o papel de cada membro da tribo, cuidam da preservação das tradições e lideram até mesmo alguns serviços de saúde na Atenção Primária. Culturalmente, possuem rituais únicos com a criança e com a mulher, e esses devem ser preservados e respeitados de acordo com suas peculiaridades. Vivem da caça, pesca e coleta de frutos silvestres, além de plantação própria onde costumam plantar principalmente mandioca, abacaxi e banana². OBJETIVO: Relatar as práticas culturais referentes à saúde da mulher e da criança no contexto Waimiri-Atroari. METODOLOGIA: Tratou-se de um estudo exploratório e bibliográfico baseado em pesquisas científicas e de entrevista semiestruturada coletada na sede do Programa Waimiri-Atroari. RESULTADOS: Foi possível observar que na infância ocorre a valorização do nascimento por conta do aumento da população. A partir de três anos, o menino passa pelo ritual marybá, no qual ocorre a transição de menino para guerreiro, enquanto a menina é preparada para cuidar da família². Na adolescência, os meninos assumem as responsabilidades de guerreiro e, as meninas passam pela menarca por volta dos trezes anos, sendo considerada a segunda menstruação como o momento de transição de menina para mulher, quando as mesmas estão aptas para constituir uma família². Logo, a mulher é responsável pelas atividades artesanais de confecção de adornos e vestimentas, bem como pelo cuidado dos filhos e alimentação. São identificados dois momentos importantes, são eles: Climatério e menopausa, onde as mesmas não passam por nenhum ritual e a mulher continua com as suas práticas normalmente; e a terceira idade, na qual as mulheres perdem a importância produtiva, no entanto, suas histórias continuam sendo interessantes e seus aprendizados considerados riquezas, porém não existe uma valorização dessa idosa como um ser que necessita de cuidados². Por fim, na gestante, a partir da descoberta da gestação, a mulher inicia o pré-natal no atendimento particular na cidade de Manaus-AM, no Hospital Beneficente Portuguesa, através do convênio que o Programa Waimiri-Atrori possui. A aldeia dispõe de uma equipe de enfermagem que realiza a triagem e se for identificada alguma complicação, o profissional de enfermagem conversa com os líderes e encaminha a gestante para a cidade mais próxima. Durante o período gravídico, são realizadas cerca de cinco consultas sem data escolhida previamente. Durante o acompanhamento, se a gravidez não for considerada de risco, a gestante volta para a sua aldeia para realização do parto vaginal. Caso ocorra alguma intercorrência, a mesma é encaminhada para a cidade mais próxima, por meio de transporte terrestre ou aéreo². É importante ressaltar que podem ocorrer dois tipos de gravidezes, onde existem vários padrões culturais para lidar, tais como: gravidez gemelar, que culturalmente ocorria o infanticídio de um dos neonatos, pois se acreditava que uma das crianças não se desenvolveria completamente, fato esse que atualmente não ocorre mais devido a influências externas; e as más-formações congênitas, as quais podem ser detectadas na consulta pré-natal, cabendo à gestante decidir se irá haver infanticídio ou não. No pós-parto a mulher permanece em repouso até cessarem os lóquios². CONSIDERAÇÕES FINAIS: Nesse sentido, para que haja um completo entendimento acerca do assunto abordado, faz-se necessário que se observe os fatores biológicos, no entanto, sempre respeitando suas crenças, rituais e organização hierárquica, afim de que ocorra um convívio interétnico harmonioso, procurando fornecer subsídios para manutenção da saúde desse grupo. É importante ressaltar a precariedade no acervo bibliográfico sobre esse tema e reconsiderar as diferenças culturais principalmente quando se trata da realidade dos indígenas na saúde da mulher e da criança.
REFERÊNCIAS:
1. FILHO MATARÉZIO, E. T. Ritual e Pessoa entre os Waimiri-Atroari. Dissertação de Mestrado, USP, 2010.
2. WAIMIRI ATROARI, Programa. Entrevista concedida a Bianca Albuquerque Castro. Manaus-AM, 26 set. 2017.