Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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VISITA FAMILIAR EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: perspectivas dos visitantes.
GISLENE HOLANDA DE FREITAS, IGOR CORDEIRO MENDES, DANIELE VASCONCELOS FERNANDES VIEIRA, KARÉN MARIA BORGES DO NASCIMENTO, SUIANY SALDANHA SANTOS, GERLANE HOLANDA DE FREITAS

Última alteração: 2018-01-23

Resumo


INTRODUÇÃO

Este estudo versa sobre a visita domiciliar em uma Unidade de Terapia Intensiva, com o objetivo de elucidar as perspectivas dos visitantes.

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um ambiente hospitalar destinado a pacientes graves, porém, que apresentem um quadro clínico recuperável.       Para muitos familiares, a UTI ainda é local que remete medo, pela falta de conhecimento do aparato tecnológico que contextualiza o espaço, e também, por ser um ambiente que carrega um estigma antigo de ser um lugar de morte.

Por este motivo, faz-se necessário uma atenção maior às pessoas que estão neste espaço como pacientes, familiares e profissionais de saúde. O Ministério da Saúde (MS) instituiu o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) em 2001, visando o acolhimento dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), através da Política Nacional de Humanização (PNH) que tem como objetivo principal aprimorar as relações dos profissionais da saúde, com os usuários, na busca do atendimento às suas necessidades.

A família também é citada no que preconiza a assistência humanizada ao paciente crítico pela Política Nacional de Atenção ao Paciente Crítico, reconhecendo a necessidade de inserir a família como parte do cuidado ao paciente crítico, preconizando ainda que as visitas sejam em número mínimo de 03 por dia, assim como sejam fornecidos 03 boletins médicos por dia.

Repensar e reorganizar novas estratégias de trabalho cujas ações ainda estão centradas no modelo tecnicista, voltado para a doença, desconsiderando o seu familiar, é um trabalho árduo e um desafio para a enfermagem, em especial a que atua em unidades de alta complexidade, como as UTIs.

 

CAMINHO METODOLÓGICO

 

Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, com abordagem qualitativa, que traz em seus resultados a descrição de como ocorre a visita familiar na UTI e a percepção dos visitantes coletada durante a pesquisa.

A investigação foi realizada com visitantes de uma UTI de um hospital quaternário da cidade de Fortaleza-Ceará nos meses de maio e junho de 2017. Para a coleta de dados foi realizada uma pesquisa de campo, com a observação participante, assistemática, registrando as informações em um diário de campo como instrumento de coleta de dados da pesquisa. Além da pesquisa de campo, foi realizada uma entrevista individual, com um roteiro semiestruturado.

O material coletado foi analisado de forma reflexiva, trazendo uma investigação crítica para os resultados. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo de Bardin (2011), seguindo as etapas exigidas pelo método. Após o tratamento dos dados, foi feita a composição das categorias pré-definidas: 1.Perspectivas da unidade de terapia intensiva; 2.Perspectivas do acolhimento da unidade e 3.Perspectivas de melhorar o momento da visita familiar, estando expostas neste presente resumo apenas a primeira categoria.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

PERSPECTIVAS DA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Alguns visitantes relataram que ficaram assustados no seu primeiro dia de visita, sem compreender todo o aparato tecnológico que estava sobre seus entes e o estado clínico em que se encontravam. Após a primeira visita relataram que ficaram menos apreensivos. Alguns deles chegaram a imaginar que encontrariam mais aparelhos do que o que viram, e isso também ajudou a mudar a concepção de UTI que tinham.

Essa mudança de concepção também pode vir acompanhada de alguns aspectos positivos, que traz o enfrentamento e superação dos medos em relação a esse processo que vivenciaram, crescimento pessoal, bem como o crescimento espiritual. Desta forma, é um fator a ser considerado neste contexto de hospitalização e superação, em que pode haver um crescimento individual e familiar.

Diante de tantos estigmas e a própria tensão de estar com um familiar em estado crítico, acaba por levar os visitantes a imaginarem aspectos negativos que poderiam encontrar na UTI, podemos perceber isto em alguns relatos dos visitantes que ficaram surpresos, pois não esperavam um ambiente tranquilo da unidade.

Eu só idealizava a uti como nos filmes. Como eu sempre passei somente pela emergência e enfermaria e ter só a noção de uti, só aquela relacionada a filmes, então pessoalmente, eu acho bem melhor do que a de filmes. (...) Eu sabia que era uma coisa... é... tipo... mais limpa e reservada, mas não a tanto do que eu vi pessoalmente (V1).

Eu imaginava um monte de aparelhos, eu imaginava assim...hoje eu vi que tem bem menos aparelhos do que eu imaginava. Eu pensava assim que ia encontrar um monte de sondas e um monte de acessos que fazem no paciente, aí eu pensava que por ser um hospital público... assim.. que os leitos não eram tão bonitos como são, tão organizados (V15).

 

Alguns visitantes imaginam a unidade com aspecto tão fechado, com muitas restrições, que levam essa impressão de fechamento para o relacionamento com os profissionais, imaginando que não podem conversar muito, tirar dúvidas ou manter uma relação cordial.

A única ideia que eu tinha era só um local com as máquinas, mas não passava pela minha cabeça a questão da educação e o profissionalismo, do relacionamento(...). Pelo atendimento, a educação das enfermeiras, a atenção dos médicos, tratamento, higienização, limpeza, o profissionalismo, tô super surpreso pelo que eu achava que era.  (V1).

 

A confiança na unidade foi relatada por alguns familiares, que afirmaram ajudar nesse processo difícil que é ter um ente internado em estado crítico, trazendo uma possível reflexão para a necessidade do cuidado e da sensibilidade dos profissionais junto aos visitantes que já vivem esse processo doloroso, sendo possível amenizar e gerar conforto para eles, criando esses laços de confiança, fazendo-os confortar ainda os demais membros da família.

 

Eu não imaginava que seria a tanto. Eu não imaginava. Eu realmente tô surpreso, muito satisfeito, porque me passa uma grande confiança, até mesmo no meu repouso durante a noite, porque a gente saber que um parente seu, no caso o meu pai tá num local, na situação que ele tá, e.. é .. a gente não poder tá perto, e só a gente saber do acolhimento que ele tem, o cuidado que todos os profissionais têm, isso me dá um sono pleno(V1).

 

É possível inferir que quando os profissionais se fazem atenciosos e próximos dos familiares durante a visita, eles se sentem um pouco mais aliviados, como quem divide um momento difícil com alguém que entende o que se passa naquele momento. Quando eles recebem informações de como o paciente passou o dia, é como se quebrassem as barreiras da distância, fazendo com que eles se sintam mais perto do seu familiar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relação entre profissionais e visitantes ficou explícita como um dos fatores mais relevantes para a visita familiar, em que muito vem dessa relação, seja as boas percepções como as percepções negativas. Conclui-se que a figura do profissional para os visitantes reflete o serviço como um todo, que muitas vezes, se não há uma boa relação da equipe com o familiar, eles se sentem desamparados pela unidade, e passam a olhar as faltas, deixando de perceber o que está sendo feito pelo seu ente

Palavras-chave


VISITA FAMILIAR; UTI; ENFERMAGEM.