Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A CONSTRUÇÃO DO PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR ATRAVÉS DA INTERSETORIALIDADE
Anderson Luiz Collesel, Patricia Mudrey Gorchinsky, Karine Oliveira Jabur, Michelle Claudino da Silva Takahashi, Maria de Fátima da Silva Lourenço, Francyne Roberta A. Martins, Ana Paula Almeida Rocha Ohata

Última alteração: 2017-11-09

Resumo


INTRODUÇÃO

A presente descrição vivenciada no Sistema Único de Saúde (SUS), apresenta algumas reflexões sobre a importância da relação terapêutica da equipe de referência e suas ações no fortalecimento do vínculo. Nesta experiência, através de tecnologias de baixa exigência surgiu um modelo de cuidado diferenciado.

A rede de saúde apresenta frequentemente situações que envolvem abandono, estigmas, baixo acesso a serviço de saúde e assistência, além de baixa adesão ao projeto terapêutico. A fragmentação da rede com serviços desarticulados, contribui para a dificuldade em desenvolver ações de cuidado para casos complexos.

Precisa-se compreender que a experiência da doença não é apenas uma questão orgânica, mas uma vivência complexa de sofrimento, onde o serviço de saúde deve fazer parte do processo de coprodução do cuidado de modo que exista disponibilidade dos profissionais para a escuta e acolhimento valorizando a singularidade do sujeito. É difícil definir a solução “certa” para situações complexas, entretanto, elas expressam uma característica comum “apresentam tensão entre a necessidade da pessoa que sofre e a necessidade de se manter a harmonia da ordem social; ou seja, sempre há uma tensão entre o que é melhor para a pessoa que sofre e o que a sociedade espera do serviço. (ARAÚJO, 2014)

O estudo tem por finalidade a descrição de uma experiência de cuidado em saúde mental de alta complexidade em decorrência de várias situações de vulnerabilidades, propõem também o fortalecimento da rede e a reflexão sobre a qualificação do acolhimento, bem como a construção do PTS (Projeto Terapêutico Singular) envolvendo a intersetorialidade.

DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA OU MÉTODO DO ESTUDO

Em sua prática diária o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS-ad) busca atender os usuários de forma singular valorizando a história da pessoa e suas necessidades. Neste estudo de caso a UBS (Unidade Básica de Saúde), solicita ao Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS-ad) apoio para o manejo de um caso complexo, a ação se desenvolveu no segundo semestre de 2016 quando a epidemia de dengue encontrava-se em fase latente, se instalou uma situação de alerta neste território, segundo relato da UBS um morador vinha causando transtorno à comunidade, acumulando em sua residência lixo orgânico e recicle em grande quantidade. Sendo este um usuário psicótico que há mais de 2 anos estava desassistido pela rede de saúde, por ser considerado violento, agressivo, usuário de drogas e de difícil relacionamento. Recebeu-se da UBS a informação que o usuário residia sozinho e tinha algumas características peculiares, andava sempre pintado com tinta verde, puxando um carrinho de mão feito de madeira, acompanhado de três cachorros bem cuidados. O primeiro contato foi realizado através de busca ativa, na rua, entendeu-se que uma das estratégias de aproximação seria acolher e cuidar também de seus cachorros, pois foi através desta estratégia que o vínculo foi se formando, a partir daí inicia-se um processo de cuidado diferenciado, respeitando o direito do usuário. Quando se tem a percepção que a baixa exigência no acolhimento e a alta qualidade de ofertas e serviços constituem uma ferramenta fantástica se consegue mapear estratégias de cuidado baseadas em uma das diretrizes do SUS, a equidade.

RESULTADOS E IMPACTOS

Percebe-se que muitas vezes na busca por resultados passa-se despercebido o sofrimento psíquico do indivíduo e a sua demanda de cuidado. Desta forma através da singularidade das ações observa-se que as necessidades do sujeito são legitimadas e não as necessidades das instituições. Neste estudo identificou-se que a comunidade e os demais serviços da rede tinham um único direcionamento de ações, o acumulo de lixo, sem pactuar ações com o usuário. Qualquer que seja a iniciativa, dentro ou fora do serviço, ela só adquire sentido na promoção do acesso, quando a prática reflete compromisso com a vida, expresso pelo respeito às diferenças e aos direitos humanos. (ARAÚJO, 2014)

Destaca-se também nesse relato a participação intersetorial com alguns serviços da rede do município através da articulação do CAPS-AD, como: Zoonose, UBS, Vigilância Sanitária e Ponta Grossa Ambiental (empresa que transporta lixo), enfatizando o sujeito e sensibilizando os demais envolvidos para o eixo do cuidado que é o vínculo.

Aos poucos foi se adquirindo confiança e fortalecimento de laços, distante de violência e agressividade encontrou-se um ser humano fragilizado necessitando de cuidado. Inicia-se então o processo de oferta de atendimento onde o paciente abre as portas da sua casa e da sua vida, vínculo fortalecido resolutividade na construção do Projeto Terapêutico. “Criar vínculos implica ter relações tão próximas e tão claras, que nos sensibilizamos com todo o sofrimento daquele outro, sentindo-se responsável pela vida e morte do paciente, possibilitando uma intervenção nem burocrática e nem impessoal” (MERHY, 1994, p.138).

Como principal resultado observa-se um aprendizado coletivo na lógica da co responsabilização entre usuário, equipe de referência e rede de assistência do município, quando se atua baseado na clínica ampliada se propõem um grande desafio a promoção a Saúde e pactuação do cuidado que foi selado através do acolhimento de baixa exigência quando se aceita os animais de estimação como bem maior desse indivíduo. A partir dessa ferramenta inicia-se a construção de dispositivos terapêuticos, usuário começa a frequentar o CAPS acompanhado de seus animais, com seu consentimento foi realizado um mutirão para limpeza de sua residência, atualmente encontra-se um novo cenário: usuário estabilizado e medicado; casa e terreno limpos e organizados; trazendo um novo olhar da comunidade e resultando no fortalecimento do vínculo com a rede.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em Saúde Mental nossa ferramenta de trabalho é o Projeto Terapêutico Singular, porém jamais encontraremos resultados estáticos da mesma forma não existe PTS sem vínculo. Com laços estabelecidos e sem pré-conceitos conseguiu-se antecipar a crise e negociar novas estratégias de cuidado que sempre estarão em construção no nosso processo de trabalho tendo como objetivo maior oferecer saúde e melhorar a qualidade de vida do usuário, dentro da sua singularidade.

Salienta-se a importância da construção de uma rede de atenção psicossocial, de modo que haja uma efetivação do projeto terapêutico singular dos pacientes da saúde mental, a partir da construção de um processo em saúde. Diante do expoxto percebe-se a intersetorialidade como uma ferramenta imprescíndivel e indisocíavel para a atenção integral aos sujeitos em sofrimento psíquico.

 

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, L.; SILVA, M. M. C.; BARREIROS, G. B. Organização dos serviços para garantir acesso e promover vinculação do usuário de drogas. In: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Saúde Pública. Curso de Atualização em Álcool e Outras Drogas, da Coerção à Coesão. Florianópolis, 2014.

MERHY, E. E. Em busca da qualidade dos serviços de saúde: Os serviços de porta aberta para a saúde e o modelo tecno-assistencial em defesa da vida (ou como aproveitar os ruídos do cotidiano dos serviços de saúde e colegiadamente reorganizar o processo de trabalho na busca da qualidade das ações de saúde). In: Inventando a mudança na saúde (L. C. O. Cecílio, org.), São Paulo: Editora HUCITEC,1994.


Palavras-chave


Acolhimento; Intersetorialidade; Projeto terapêutico singular