Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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"CAMINHOS IMPROVÁVEIS: UM CONVITE AO OLHAR PERIFÉRICO": CONTRIBUIÇÕES PARA FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL EM SAÚDE POR MEIO DA ARTE
Nara Maria Holanda de Medeiros, Carlos Alberto Severo Garcia Junior, Heloísa Germany, Doriane Périco Lima

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


O Projeto “Caminhos Improváveis: um convite ao olhar periférico” discute a mediação da arte como perspectiva para educação interprofissional, interdisciplinar, criativa e crítica, por meio do acesso à diferentes linguagens artístico-culturais. Tratou-se de uma construção coletiva de um Portfólio Artístico Vivo, desenvolvido durante os encontros de Educação Permanente do Apoio Institucional no Ministério da Educação com o objetivo do fortalecimento das ações educativas do Projeto Mais Médicos para o Brasil; uma equipe de abrangência nacional, com representantes de todos os estados que atuavam junto à interface da educação em saúde. A equipe de apoiadores foi convidada à travessia de um caminho improvável nos encontros técnicos do AIMEC. Propomos um exercício de pausa, com deslocamento do olhar e produção de intervalos necessários para a ressignificação de nossas ações; relevantes, sobretudo, em espaços estriados, pelo que se percebe dos modos mais engessados de produção de conhecimento e cuidado em saúde. O Portfólio Artístico Vivo tomou forma pela imersão dos participantes em diferentes narrativas artístico-culturais, buscando ecos e pontos de conexões com a ciências da saúde, de forma que os conhecimentos da mesma se desvelassem em uma perspectiva complexa, multidimensional, sensível e com potenciais para o desenvolvimento de competências culturais: a criação e exposição das artes visuais foram atividades de caráter cultural, artístico, educativo e convidativo da reflexão quanto as possibilidades da arte para ampliação do conhecimento; aquisição de informações sobre as obras, técnicas e as formas de abordar da artista, marcada pelo tempo de fazer coadunar singularidades das ciências humanas e da saúde. A Mostra Poética foi uma atividade que provocou estímulo ao desenvolvimento do potencial criativo, foi apresentado um conjunto de "receitas poéticas prescritas" para o uso no decurso de um cuidado em saúde fazendo uma analogia com o receituário de uso médico estimulou-se a inspiração para romper com os silêncios e atingir um nível de discurso explícito. Uma elaboração poética inscrita como forma de produzir saúde, sobretudo, a arte de fazer versos para investigar a si e tudo ao redor. A produção do texto teatral foi uma atividade cultural que ocorreu por meio da prática interdisciplinar, que agregou conhecimentos da arte e da ciência da saúde, concebida a partir de uma perspectiva ampliada, cujo objetivo esteve no desenvolvimento de competências (culturais, técnicas e humanas) comuns às diferentes profissões. O texto teatral foi titulado pela autora como TraVEssia como sinônimo do verbo ver, perceber, corroborando com a ação educativa do texto em possibilitar a ampliação de olhares, considerando diferentes dimensões. A peça foi dividida em três atos, cujas cenas dizem respeito aos movimentos artísticos: Impressionismo, Expressionismo e Modernismo, em que se possibilita realizar uma leitura a partir das artes visuais, com narrativas a partir de algumas pinturas dos movimentos artísticos mencionados que foram analisados na perspectiva do eixo paradigmático do SUS, segundo conceito ampliado de saúde. As telas utilizadas foram as obras: Gioventù (1898) de Eliseu Visconti (1866-1944), datada de 1898, óleo sobre tela, 65 x 49 cm, Museu Nacional de Belas Artes; O grito (1893), quadro de Edvard Munch. Dimensões: 91cm X 73 cm. Galeria Nacional, Oslo e a obra Retirantes (1944), Cândido Portinari - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. O fio condutor do texto está em apresentar e fazer uma correlação entre os objetivos a serem alcançados pelos pintores dos diferentes movimentos artísticos e os atores sociais da saúde (estudantes e profissionais) face às suas concepções do real, assim problematizou-se que enquanto a concepção do real dos pintores impressionistas estava relacionada com o que era visível e biológico; a dos expressionistas estava implicada em expressar as emoções humanas e interpretar angústias psicológicas, apresentando uma concepção de real como sinônimo do que não é visível. A concepção de real dos artistas modernistas dialogava com a temática da complexidade e da abordagem ampliada, possibilitando leituras multidimensionais: biológica, psicológica, social, histórica, existencial, filosófica, religiosa, ética, considerando que a obra pode criar um universo de significações que jamais se esgota. Fazendo uma analogia com a área da saúde, o texto convida a reflexão e indaga a seguinte questão: “de que real se trata na saúde?”, tendo em vista a forte influência do modelo flexneriano na formação dos profissionais da saúde. O Convite Vivo para Interpretação e representação teatral ocorreu por meio do contato com diferentes pessoas, apresentando o conteúdo do texto, as possibilidades de papéis e de identificação com algumas faculdades artísticas pela improvisação contínua cujo objetivo da experiência livre de ensaios esteve na liberdade de conhecer, (re)conhecer-se; identificar-se, num exercício de (re)aproximação do plural. Importante ressaltar que a peça teatral foi baseada nos pressupostos do eixo paradigmático do SUS.             O estímulo e apoio permanente por novas produções artísticas ocorreram de forma presencial e a distância, neste caso como atividade de dispersão e recebiam apoio e colaboração da equipe criadora do projeto para o desenvolvimento das novas atividades artísticas-culturais planejadas, com foco na aprendizagem compartilhada e na execução de trabalhos em conjunto. A Produção de vídeo ocorreu durante a encenação da peça também como uma atividade de improvisação e iniciativa de membro da equipe. O Portfólio Artístico Físico constituiu-se da conjuração de diferentes formas de registro das experiências da construção coletiva do Portfólio Artístico Vivo de ação educativa-significativa. Ainda foram objetivos das atividades artístico-educativas-culturais: a valorização das expressões culturais; o incentivo a criação de novos projetos culturais; a promoção de ambiente educativo prazeroso propício a aprendizagem significativa-crítica; o fomento as estratégias de integração entre os profissionais por intermédio das diferentes narrativas artísticas-culturais, promovendo conhecimento e valores essenciais na perspectiva da aprendizagem compartilhada e criativa para o trabalho em conjunto, assim como o de fazer fluir o processo de integração de diferentes conhecimentos e valores. Tratou-se de um exercício de educação, gestão e atenção que no campo da humanização diz respeito a uma aposta ético-estético-política, dando espaço ao improviso cotidiano, que nos tornou mais criativos e menos previsíveis ao encontro com a possibilidade de experimentar outras formas de trabalho através da sensibilidade e do olhar periférico. A atuação com crítica e a crítica dentro de uma atuação foram formas elementares para que se avançassem os obstáculos do ensino e do trabalho em saúde. Esse processo envolveu trocas, produção de conhecimento, paciência e capacidade de flexibilização e comunicação educativa. Elementos constitutivos de um processo democrático e participativo, nem sempre fáceis de serem estabelecidos e exercitados. Nesse sentido, a arte e suas diferentes formas de expressão conectaram sujeitos e suas aprendizagens; sujeitos e seus trabalhos. A interferência artística contribuiu para a mudança de perspectivas e coletivos na nossa experiência e tornou-se o fio condutor para alimentar a necessária transformação social. Este projeto foi um convite ao pensar e fazer. Um projeto na interface entre arte e saúde. Arte não como ferramenta, ocupação, ilustração, recreação, terapia, mas como expressão, impressão, afecção. Saúde não como utopia, estado de equilíbrio, corpo hígido, mas como demonstração das relações que se estabelecem entre indivíduos e seus universos afeitos. Esse projeto reflete a necessidade de outras intervenções em diferentes âmbitos institucionais para criar conexões nem sempre definidas e delimitadas. O convite está lançado!

Palavras-chave


Educação Interprofissional; Práticas inovadoras na formação para o SUS; Educação Permanente