Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2018-01-25
Resumo
O vínculo pode ser compreendido como uma conexão supra verbal estabelecida entre dois ou mais indivíduos, sendo respaldado, dentre diversos elementos relacionais, pelo diálogo, respeito e confiança. É construído em relações horizontais, democráticas e participativas, não podendo ser forçado ou concedido necessariamente pelo tempo cronológico de (re)conhecimento do(a) outro(a). Em situações de violência, a produção de vínculos é fundamental para aproximar profissionais de saúde e usuários(as) em uma relação terapêutica de cuidado holístico, sendo que essa necessidade pode e deve ser iniciada desde a graduação, sobretudo mediante estratégias didático-pedagógicas ativas de ensino-aprendizagem. Esse trabalho teve como objetivo geral compreender como graduandos(as) em saúde, em círculos de cultura, refletem sobre vínculo e sobre violência a partir das linguagens artístico-culturais da escrita e pintura, mediante construção coletiva de cartazes. Trata-se de um estudo ancorado nas concepções da Pesquisa-Ação Participativa (PAP), com abordagem qualitativa, utilizando os círculos de cultura de Paulo Freire como itinerário de pesquisa, visando promover espaços dialógicos e participativos para a ação-reflexão-ação. Participaram 23 acadêmicos(as) de 07 cursos de graduação em 03 universidades da região Oeste Catarinense, os quais já haviam participado em alguma edição do Projeto VER-SUS (Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde), visando maximizar o pertencimento inicial do grupo. Foram desenvolvidos 05 círculos, com periodicidade geralmente quinzenal entre eles, e com duração aproximada de 03 horas cada, guiados por trabalhos em subgrupos, textos interdisciplinares sobre violência e cultura de paz, e questões disparadoras para motivar (ainda mais) o debate. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sob parecer de aprovação nº 1.354.895 (07/12/15), e registro CAAE nº 51302415.1.0000.0121. Os resultados foram divididos em três categorias dialógicas, a saber: categoria dialógica 1 – “Temas geradores: O reconhecimento das violências plurais e dos pertencimentos solidários para semear a produção de vínculos”; Categoria dialógica 2 – “Codificação-decodificação: significando as violências e tensões na (des/re) construção de vínculos”; Categoria dialógica 3 – “Desvelamento crítico: ressignificando a cultura de paz como pavimentadora da produção de vínculos e os círculos de cultura como possibilidades dialógicas formativas”. Os resultados apontam para a necessidade da promoção de diálogos a respeito das violências nos cursos de graduação na área da saúde, tendo em vista que tais situações estão presentes cotidianamente nos serviços de saúde, e os futuros profissionais alegam não se sentirem preparados e com autonomia para atuar com essa complexidade. Para, além disso, elenca-se a necessidade de sensibilizar os(as) graduandos(as), e todos os atores/protagonistas formativos (docentes e equipe gestora educacional) em relação à cultura de paz, que fornece subsídios para o cuidado integral e humanizado aos(às) usuários(as) em situação de violência. Por conseguinte, o círculo de cultura exemplifica que espaços pedagógicos que sejam terapêuticos e (trans)formadores são viáveis nas matrizes curriculares, e para além delas, nos ambientes universitários de convivência humana majoritariamente hostil, e o uso da arte e das diferentes linguagens favorece o diálogo, a escuta e a fala para além dos sentidos óbvios do “dito”.