Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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SEXUALIDADE, RELIGIÃO E SUAS RELAÇÕES COM O ENVELHECIMENTO DA MULHER
Vanda Santana Gomes, Roberta Lopes da Silva, Elaine Santos da Silva, Cinoélia Leal de Souza, Ane Carolline Donato Vianna, Daniela Teixeira de Souza Moreira, Leandro da Silva Paudarco, Victor Neves Reis, Ana Paula Melo Fernandes Rodrigues

Última alteração: 2018-04-02

Resumo


Apresentação: historicamente a sociedade percebe o idoso como um ser desprovido de sexualidade, principalmente quando se trata da mulher idosa. Nesse sentido, envelhecer em uma sociedade com características religiosas predominantes é ainda mais difícil, pois as privações vividas pela população feminina são grandes, com desejos e dúvidas reprimidas pelo medo do julgamento social e religioso. Na esfera religiosa, encontram-se fatores proibitivos que impõem a ausência da sexualidade para os idosos, sendo apontados como “pecadores”, bem como poderão ser tachados pejorativamente, quando uma idosa, de vulgar e sem valores morais, e quando homem, de “velho assanhado”. Diante disso, esse estudo objetivou analisar as relações da religião com o envelhecimento da mulher. Desenvolvimento: trata-se de um estudo qualitativo descritivo, no qual foram entrevistadas 50 mulheres idosas moradoras da cidade de Guanambi – Bahia, no ano de 2016. A coleta de dados foi realizada com base no cadastro das 15 Unidades de Saúde da Família (USF) do município. Realizada por meio de entrevista, que durou em média 40 minutos cada uma. Todas as entrevistas foram gravadas perante autorização da participante, para posterior transcrição, assegurado quanto à confiabilidade e privacidade dos dados pessoais obtidos. O tratamento dos dados foi realizado a partir da técnica de análise do conteúdo, e foi dividido em três fases: ordenação dos dados: na qual o material empírico coletado (documentos e transcrições das entrevistas) foi organizado, com a identificação das idosas por número e a transcrição dos áudios na integra; classificação dos dados e por fim a análise propriamente dita. Os critérios de elegibilidade foram: mulheres com idade maior ou igual há 60 anos e que aceitaram participar da pesquisa. Resultado: a percepção das idosas a respeito da influência da religião na sexualidade se baseou em um mesmo pilar de que o sexo só deve ser vivenciado após e no casamento. A influência da religião no contexto sexual da mulher idosa é bem marcante, pois elas relataram que, principalmente após a perda do companheiro, não enxergam mais o direito de vivenciar a sexualidade, diferente dos homens que tendem a construir novos relacionamentos, como apontam os estudos. O preconceito da família e os preceitos religiosos também são colocados em discussão, tendo a religião uma relevância importante em suas falas, sendo citada como fator inibitório.  Notou-se que, a religião tem mais influencia sobre a sexualidade das mulheres do que dos homens, isso fica claro com o receio que as idosas têm de falar sobre o tema sexualidade na perspectiva da religião. O medo da rejeição é nítido nas falas, pois elas podem ser excluídas a depender de seu comportamento e de sua fala perante a religião que segue. Para muitas idosas a vivência da sexualidade deveria ser apenas em função do casamento, e que se não for nesse proposito não deve ser vivida, já que a idade dessa prática já passou e ficou para traz. Para elas quanto mais o tempo passa mais perdem o direito do amor e da sexualidade. Ressalta-se que, as mudanças físicas nas mulheres são muito evidentes ao envelhecer, e que as perdas hormonais mexem organicamente com a autoestima e com a visão de sua autoimagem. Além dessas mudanças a idosa tem que se adaptar com um estilo de vida padronizado pela sociedade, família e religião, se privando de prazeres e vontades, assumindo um papel moldado pela sociedade para ser apenas uma “avó”. Alguns estudos mostram que nem sempre a religião vem como fator negativo com relação à sexualidade da mulher idosa, muitas religiões entendem que o “ato sexual” não e apenas o prazer do sexo e para a procriação, mas sim que existem vários sentimentos envolvidos. Tanto por parte da idosa quanto por parte da família, sociedade e da religião existe uma confusão de conceitos, em achar que sexualidade e sexo é a mesma coisa. Considerações finais: Vale ressaltar que são vários os fatores que interferem na sexualidade da mulher idosa e que favorecem ao mito de que são seres assexuados, os preceitos religiosos e a opressão familiar se destacam entre estes. Com isso, entender as peculiaridades fisiológicas da senescência pode fazer com que as idosas se sintam providas novamente de desejos e satisfação em relação a sua sexualidade. Fatores relacionados à sexualidade da mulher idosa devem ser mais bem trabalhados na prática cotidiana, com constante reflexão por parte das idosas, de religiões e da sociedade sobre os mecanismos que geram valores e atitudes em relação à temática, tornando esse tema algo mais comum e discutido, e com isso quebrar alguns dogmas e tabus. O esclarecimento e a diferenciação de conceitos entre a sexualidade e o sexo tem grande relevância na mudança de comportamento da sociedade e da religião perante as idosas. Trabalhar esse esclarecimento de conceitos pode ser a solução para uma melhoria na qualidade da sexualidade da mulher idosa.

 

REFERÊNCIAS

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Palavras-chave


Idosa; Educação; Sexualidade; Gênero.