Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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NÍVEL DE DEPRESSÃO E RISCO SUICIDÁRIO EM JOVENS ESTUDANTES PORTUGUESES
Maria Helena de Agrela Gonçalves Jardim, Geraldo Bezerra da Silva Júnior, Rita Baptista Silva, José Manuel Peixoto Caldas, July Grassiely de Oliveira Branco, Francisca Bertilia Chaves Costa

Última alteração: 2018-06-15

Resumo


Introdução

Na contemporaneidade, os fenômenos da depressão e da ideação suicida encontram-se em todos os espaços sociais, afetando os indivíduos independentemente do sexo, faixa etária, etnia, classe socioeconómica, cultura ou zona geográfica. A depressão pode ser considerada atualmente um dos principais problemas deste século, sendo um dos transtornos psiquiátricos mais comuns na adolescência.

Na Região Autônoma da Madeira, Portugal, os adolescentes subsistem num meio relativamente conservador em termos de princípios e valores, porém não estão imunes à solidão, competição, inveja, desemprego, xenofobia, abuso das redes sociais, acessibilidade no consumo de drogas, álcool e outros. Em complementaridade a esta análise dados do Instituto Nacional de Estatística na Madeira, estimam, de um modo genérico, que os jovens são quem protagonizam os comportamentos parassuicidários no nosso país, constituindo um grupo de elevada vulnerabilidade, dada a precocidade cronológica do ciclo de vida em que estas situações ocorrem.

Os jovens estão entre os mais afetados sendo gradualmente vulneráveis aos comportamentos desviantes. Em todo o mundo, o suicídio é uma das três principais causas de morte na faixa etária economicamente mais produtiva (15-44 anos) e a segunda principal causa de morte na faixa etária de 15 a 29 anos. O objetivo do estudo foi avaliar o nível de depressão e risco suicidário de jovens estudantes de 12 a 18 anos, das ilhas da Madeira e Porto Santo, Portugal.

Metodologia

A nossa população foi constituída por uma amostra (n=1557) representativa dos estudantes dos 12 aos 18 anos de idade, de ambos os sexos, até à data do preenchimento da recolha de dados (Ano Letivo 2014-2015), integrados em escolas básicas e secundárias oficiais das Ilhas da Madeira e Porto Santo, Portugal. Como critérios de Inclusão, abarcámos os jovens que frequentavam a escolaridade normal, estudantes a partir do 7º ano de escolaridade, dos 12 aos 18 anos, sem queixas psiquiátricas. Foram excluídos os estudantes com tratamento psiquiátrico, com idades inferiores a 12 e superiores a 18 anos, bem como aqueles que não preencheram corretamente o questionário dos dados sociodemográficos ou os instrumentos de medida utilizados neste estudo.

Os instrumentos de coleta de dados incluíram questões de caraterização (em particular: sexo; idade; saúde; escolaridade; insucesso escolar; consumo de álcool e drogas; convívio com os colegas e prática de desporto) e duas escalas de medida: uma para a depressão e outra para o risco suicidário. A Escala de Depressão de Autoavaliação de Zung (ZDS) é composta por 20 itens e mede a depressão expressa pelo próprio entrevistado. As pontuações fornecem indicativos para calcular a gravidade da depressão, sendo que os scores se distribuem pelos seguintes intervalos: 20 - 49 depressão afetiva normal; 50 - 59 depressão leve ou humor depressivo; 60 - 69 depressão moderada e ≥ 70 depressão severa.

A Escala de risco suicidário de J. Stork é composta por 76 itens. Esta escala, em função da pontuação obtida pelos sujeitos, fornece cinco níveis de risco: 0 – 63 Estado Normal; 64 – 79 Estado Intermédio ou Duvidoso; 80 – 97 Fraco Risco; 98 – 107 Risco Suicidário Importante e acima de 107 Risco Suicidário Extremamente Importante.

Todos os participantes foram elucidados da confidencialidade e anonimato dos resultados obtidos, dos objetivos do estudo e previsão da divulgação consequente, dando o seu consentimento informado no momento do preenchimento dos questionários. No tratamento estatístico de dados utilizou-se a estatística descritiva, correlacional, análise fatorial e estatística inferencial. A normalidade da distribuição das variáveis em estudo foi testada através do teste de Kolmogrov-Smirnov. A homogeneidade das variâncias foi testada através do teste de Levene. Os cálculos estatísticos efetuaram-se com recurso ao programa IBM SPSS Statistics 22.

Resultados

Os instrumentos de medida selecionados evidenciaram elevada consistência interna e demonstraram boa fiabilidade, na Escala de depressão de Zung (α=0.80) e na Escala de risco suicidário de Stork (α=0.91). A distribuição média de idades foi 15.20, com um desvio-padrão de 1,7 (tabela 1), sendo a maioria (55,2%) do género feminino.

Tabela 1: Estatística descritiva da idade dos adolescentes

Mínimo

Máximo

Média

Desvio Padrão

IDADE

1557

12

18

15,20

1,70

 

Ao analisarmos a tabela 2, nomeadamente a escala de risco suicidário de Stork, constatou-se que a maioria dos adolescentes (67,7%) manifesta um estado “normal”. Realça-se o facto de 16,8% dos jovens deverem ser alvo de preocupação dado que 10,1% revelam fraco risco, 4,0% evidenciaram risco suicidário importante e 2,7% risco suicidário extremamente importante.

Analogamente, no que concerne à depressão, não se patenteia na maioria dos jovens (81,5%), todavia realça-se que 18,5% apresentam humor depressivo (18,2%) e depressão “major” (0,3%).

Tabela 2 - Características da amostra em termos de risco suicidário e de depressão

Variável

n

%

Escalão de risco suicidário

Estado “normal”

Estado intermédio ou duvidoso

Fraco risco

Risco suicidário importante

Risco suicidário extremamente importante

 

1054

241

158

62

42

 

67.7

15.5

10.1

4.0

2.7

= 51.49; Md = 48.00; s = 27.29; xmin = 2.00; xmáx = 146.00; p = 0.000

Nível de depressão

Estado “normal”

Distimia

Depressão “major

 

1270

283

4

 

81.5

18.2

0.3

= 41.68; Md = 41.00; s = 8.76; xmin = 21.00; xmáx = 71.00; p = 0.000

 

Mediante o estudo da correlação entre o risco suicidário e a depressão (Tabela 3), inferiu-se que existe associação altamente significativa (p=0.000) entre estas duas perturbações mentais, o que corroborou a maioria da literatura consultada, que salienta que os jovens que têm ideações suicidas sofrem de depressão.

 

Tabela 3 - Correlação entre o risco suicidário e a depressão

Variável

Depressão

n

r

p

Risco suicidário

1557

+0.67

0.000

 

Os resultados obtidos neste estudo também mostraram que existe diferença significativa entre o risco suicido e a idade (p = 0.000), o sexo (p = 0.000) e o nível de escolaridade (p = 0,004), sendo mais evidente nos adolescentes mais velhos (15 a 18 anos), do género feminino, conforme aumenta a escolaridade e se os seus pais não são casados. O estado de saúde, uso de drogas, álcool e falta de convívio com os colegas influenciaram significativamente no surgimento do risco suicido (p = 0.000). Resultados estes que estão em sincronismo com a maioria da literatura consultada.

Conclusão

Os transtornos mentais dos jovens exigem que as escolas, bem como a família reivindiquem a sua primazia de espaços privilegiados, onde os problemas e angústias dos jovens podem ser minimizados. Por conseguinte, torna-se fundamental o fortalecimento de redes de apoio dos jovens, envolvendo principalmente a família, os colegas e a escola, promovendo relações mais satisfatórias e maior bem-estar, visando a melhoria das relações pessoais e a assunção dos valores universais.

A presença destes transtornos mentais tão cedo na vida demanda não só uma intervenção psicossocial com estratégias eficazes e concertadas para reduzir futuras repercussões prejudiciais, como por exemplo o sofrimento psicológico, comportamentos desviantes, violência/agressão, abuso de álcool e outras substâncias psicoativas, como também o desenvolvimento/implementação de programas estratégicos educativos, visando a promoção da saúde mental nos jovens universitários e nas políticas socioeducativas.

 


Palavras-chave


depressão; ideação suicida; jovens;