Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Condições biomecânicas de trabalho nas cerâmicas e olarias da Serra Gaúcha
Ben Hur, Monson Chamorra, Ida Marisa Straus Dri, Glediston Perottoni

Última alteração: 2017-11-11

Resumo


As empresas cerâmicas possuem participação relevante na indústria de materiais de construção mesmo sendo empresas de caráter familiar, pequeno e médio porte com sistema produtivo pouco desenvolvido. Neste contexto, os trabalhadores da indústria cerâmica estão expostos a vários riscos ocupacionais necessitando de melhorias na questão saúde e segurança. Este estudo pretende expor os fatores de risco biomecânico presentes nas cerâmicas da região da Serra Gaúcha através da abordagem qualitativa da análise de documentos produzidos pelo Cerest/Serra, a partir das vigilâncias em ambientes de trabalho, no ano de 2015. Os resultados obtidos demonstram a existência de fatores de risco biomecânico frequentes nessas empresas, como posturas inadequadas e movimentação manual de carga repetitiva asociados fatores organizacionais

1.Justificativa.

Os Produtos Cerâmicos possuem uma relevância considerável para a indústria de Materiais de Construção, dados que em 2015 era o 3° segmento na participação em vendas e no PIB e o 1° em pessoal ocupado. Os produtos cerâmicos envolviam 156.423 empregados formais, conforme a ABRAMAT.

Esses aspectos socioeconômicos e os métodos produtivos podem interferir na saúde e segurança dos trabalhadores desse ramo e o assunto “riscos laborais” é pouco explorado.

O Cerest/Serra realizou ações nas olarias e cerâmicas vermelhas da Serra Gaúcha que demandaram inspeções nos ambientes de trabalho no ano de 2015.

Em torno desta reflexão que esta pesquisa vem questionar sobre quais os fatores de risco biomecânicos foram identificados e qual sua frequência nas olarias e cerâmicas da região, considerando a metodologia utilizada.

Objetivo Geral:

Pretende-se expor a existência dos fatores de risco biomecânicos frequentes em empresas do ramo da fabricação de produtos cerâmicos na Serra Gaúcha.

Objetivos Específicos:

Investigar a descrição dos fatores de risco biomecânicos em ambientes de trabalho no ramo da fabricação de produtos cerâmicos.

Investigar os métodos utilizados para a identificação dos fatores de risco biomecânicos.

2. Fundamentação Teórica

Internacionalmente a norma ISO 11228- 1 estabelece parâmetros e limites de criticidade para risco de distúrbios lombares por movimentações manuais de carga.

Colombini e Occhipint (2012) relatam que o objetivo da ISO 11228-1 é especificar limites recomendados para a massa dos objetos movimentados em relação às posturas de trabalho, à frequência e à duração do levantamento, considerando o esforço que os executores estão submetidos.

Esses autores descrevem a ISO 11228-2 como uma norma com indicações para determinação dos perigos e dos riscos potenciais associados ao puxar e empurrar considerando tabelas psicofísicas. E a norma ISO 11228-3 é constituída por aspectos relacionados à movimentação de cargas leves em alta frequência trazendo fatores de risco para distúrbios osteomusculares de membros superiores.

Nacionalmente, a NR n° 17 prevê a consideração das características psicofisiológicas dos trabalhadores nas condições de trabalho apresentando determinações sobre os aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho.

A FIEMG (2013) relata que os trabalhadores da indústria cerâmica são expostos a variados riscos ocupacionais decorrentes dos equipamentos ou máquinas, dos processos, ambientes e das relações de trabalho. E cita como agentes ambientais: levantamento de peso, esforço físico, postura inadequada, estresse, jornada prolongada e repetitividade.

3. Metodologia

Esta é uma pesquisa aplicada quanto a sua natureza e exploratória conforme seus objetivos. Possui abordagem qualitativa e é classificada como análise documental quanto aos procedimentos técnicos.

A metodologia incluiu análise dos arquivos do Cerest Serra a respeito das vigilâncias em ambientes de trabalho nas olarias ou cerâmicas em 2015.

4. Resultados e discussão

Foram visitadas 23 empresas compostas de 535 trabalhadores ao total.

Em 09 empresas havia apenas o processo de secagem natural, conferindo grande suscetibilidade à interferência do clima. E 14 delas produziam um ou dois tipos de produtos apenas, ou seja, pouca variação de produtos.

Analisadas as condições de trabalho descritas nos documentos das 23 empresas pesquisadas, podem-se observar, a respeito de fatores de risco ergonômicos, as seguintes informações obtidas de forma qualitativa:

- As 23 empresas não possuíam análise ergonômica do trabalho (AET); possuíam estruturas (estantes, vagonetas, vagões e pilhas de tijolos) que não respeitam a antropometria; posturas inadequadas; as movimentações manuais de carga estão presentes de forma repetitiva, não havendo tempo apropriado ao descanso muscular quanto às estas movimentações e a duração destas são longas.

- Em 19 empresas havia posturas inadequadas especificamente de tronco (flexão e inclinação de tronco) além das relacionadas a ombros (elevação acima de 90°) durante as tarefas realizadas. E em 13 destas havia frequência acima de 09 levantamentos de carga por minuto nas tarefas exercidas no momento da vistoria.

- A instabilidade da base dos pés durante movimentações manuais de carga foi observada no momento da vistoria em 08 empresas, pois em 06 delas havia utilização de bancos ou tábuas para alcance das últimas prateleiras e 02 delas possuíam irregularidades no chão onde realizavam as tarefas.

Além destes documentos, para avaliar o manuseio de peso, encontrado em todas as empresas, realizou-se o método Niosh by Ocra que respeita a norma internacional 11228-1. E da análise destas planilhas, observou-se que 21 empresas possuem tarefas com levantamento de peso acima do recomendado, sendo que as duas empresas que não apresentaram este resultado não estavam trabalhando com tijolos durante a vistoria, mas com telhas.

O resultado final das análises do método utilizado apontou limite de peso recomendado excedido por fatores críticos (preponderantes) em 18 empresas. Destas, 11 por frequência de levantamento elevada, 14 por fatores estruturais de lay-out (distâncias horizontais e verticais acima dos limites antropométricos) sendo que destas, 07 apresentavam ambos os fatores

5. Conclusão

O ramo produtivo de cerâmica vermelha na Serra Gaúcha ainda encontra-se atrasado quanto à prevenção de agravos à saúde dos trabalhadores. Não há o cumprimento da legislação nacional de saúde e segurança no trabalho e os próprios trabalhadores do ramo demonstram receio do assunto.

As posturas inadequadas por problemas de lay-out, as movimentações manuais de carga repetitivas e a ausência de pausas para descanso muscular (organização do trabalho) foram frequentes, observadas in-loco e registradas em fotografias e vídeos sendo a análise qualitativa realizada em cada empresa.

O fator de risco biomecânico mais relevante para o setor foi o limite para levantamento de peso recomendado excedido estando presente em tarefas de 21 das 23 empresas sendo aferido por método científico. Este método permitiu verificar a presença de lay-out inadequado e alta frequência de levantamentos de carga como fatores críticos para o resultado encontrado.

Portanto, a pesquisa atingiu seus objetivos e durante este trabalho, observou-se que outros fatores das condições de trabalho podem ser estudados através destes documentos. E também, será possível realizar estudos a respeito das medidas adotadas ou não pelas empresas no futuro




Palavras-chave


biomecânica; trabalho; saúde; indústria cerâmica